Capítulo 41

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Liam Rodrigues

Eu ainda estou meio em transe, quase não dormi. A noite foi cheia de acontecimentos, e eu não conseguia ficar na cama. Preciso conversar com a Priscila, preciso saber se ela sentiu o mesmo que eu senti quando a beijei.

Como não estava conseguindo dormir, me levantei, desci as escadas e encontrei o Ramon no sofá se preparando para dormir.

— A Priscila também te mandou para o sofá? — Ramon perguntou.

— Não — falei me aproximando.

— Então você está sem sono? — ele perguntou, se sentando.

— É, o dia foi agitado. As coisas sempre são assim? — perguntei.

— Por incrível que pareça, as coisas costumam ser bem calmas aqui em casa — ele falou, suspirando cansado.

— Ainda bem, porque eu não quero que nada disso ou algo parecido aconteça com a minha menina.

— Eu estou sendo um péssimo pai, e a Natália está certa. Eu não sei o que fazer, acabo deixando ela fazer qualquer coisa para não se sentir mal, nem abandonada. Ela já estava dando trabalho, mas achei que era exagero da Estefânia. Agora vejo que não, ela está se tornando uma adolescente problemática, e vê-la daquele jeito com um garoto me fez ver que minha menininha cresceu — ele falou com o olhar perdido.

— Eu sempre quis ter uma família, e esses dias na casa da Priscila me ensinaram muitas coisas. Uma delas é que nada que um dia após o outro não possa resolver. Você está aprendendo a lidar com sua filha, mas sério, escuta a sua esposa, ela sabe o que está fazendo. E se você só diz sim, e ela tenta impor limites, vai acabar se tornando a vilã, e tudo acaba sobrando para ela. O Henrique vai acabar achando que é normal tratar a mãe dessa maneira.

— Entendi, Liam, estou errando feio com a minha família.

— Quem não comete erros? — perguntei, e ele abriu um sorriso.

— Obrigado por ter me ajudado hoje. Sei que você foi por causa da Íris, mas salvou a minha filha.

— Eu fui pelas duas, não quero me meter na sua vida, mas a Íris estava com medo, ela não sabia onde estava se metendo. Agora a Ramona queria estar lá, ela queria transar com aquele rapaz. Então conversa com ela com a cabeça mais fria.

— Conversar com a minha filhinha sobre sexo? — ele perguntou como se fosse a coisa mais absurda do mundo.

— Claro, se você não orientar ela, quem vai? Você é o pai, este é meio que o seu trabalho, e se não ensinar em casa, a vida lá fora ensina, e pode trazer consequências mais pesadas. Você pode achar que sou exagerado, mas precaução nunca é demais — falei bem tranquilo.

— Você será um bom pai — ele falou, e sorri.

— Eu sei que irei errar muito, eu nunca tive um pai, muito menos uma família. Meu sonho é ter uma família grande, ter vários filhos correndo de um lado para o outro me deixando louquinho.

— Acho que meio que você já tem. A Priscila é uma boa pessoa e uma mulher muito forte. Às vezes parece não ter um coração, mas a verdade é que ela desistiu de usá-lo. Ela nos ajudou tanto, trouxe a minha família que estava na Venezuela para São Paulo. Sou muito grato a ela. E olha que ela veio de baixo, mas lutou muito para estar onde está. Ela abraçou cada oportunidade. Eu brinco com ela, mas a admiro muito e também sou muito grato.

— Você mora no Brasil há muitos anos? — perguntei, mesmo ele tendo um sotaque que não é muito forte.

— Sim, vim para cá quando começou a crise na Venezuela. Tinha terminado com a Estefânia e recebi a notícia de que ela estava grávida de três meses da Ramona. Pensei até em voltar, mas já estava difícil ter comida, então fiquei com a cara e a coragem. Vim sem dinheiro para a passagem, fui a pé até a fronteira, o que durou cerca de uma semana. Ao chegar no Brasil, passei dificuldades, já que mandava dinheiro para a Estefânia. Acabei morando na rua e passei fome. Logo começou o processo de interiorização, saí de Roraima e fui para Campina Grande, na Paraíba. Foi lá que conheci a Natália. Ela estava de férias e completamente perdida, e me apaixonei pelo seu jeito animado e doido de levar a vida. Começamos a namorar à distância e um dia ela me convidou para morar com ela. Aceitei e não fui mais embora. Estamos juntos há 11 anos e casados há 8 anos, e não consigo viver sem a minha loirinha — ele falou sorrindo com o olhar nostálgico.

— Que bonito, nunca me apaixonei assim.

— Tem certeza? Porque o jeito que você olha para a Priscila é de um bobo apaixonado.

— Ela é uma mulher muito atraente, mas não deixa de ser minha chefe, e já foi difícil demais encontrar um emprego.

— Mas isso não impediu que vocês se beijassem.

— Como você sabe disso? — perguntei surpreso.

— Eu vi nas câmeras de segurança, e foram beijões — ele falou.

— Nós ainda não conversamos sobre isso, mas ela é diferente, tem este ar de mistério, e aqueles olhos tão profundos.

— E você nunca se apaixonou, né? — ele falou sorrindo. — Quer uma cerveja? — ele perguntou.

— Não posso, regra 28 do contrato, não posso beber nenhuma bebida alcoólica enquanto estiver em serviço. E regra 395, não induzir as crianças ao caminho da perdição, no parágrafo 07, não usar nenhum tipo de drogas...

— Sério, isso é uma loucura, trabalhar para a Priscila deve ser uma tortura.

— Não, ela é uma boa pessoa, uma boa patroa, ela só tem uma paixão por regras — falei. Ele saiu e logo voltou com duas cervejas na mão. — Eu não posso, já falei.

— Você não pode no horário de trabalho, e nem na frente das crianças, e não estou vendo nenhuma criança aqui. Acho que você não trabalha às 03:30 da manhã — ele falou, me entregando a cerveja.

— Eu vou aceitar — falei, pegando a cerveja. Começamos a conversar sobre a minha vinda para São Paulo.

Conversamos por um bom tempo, trocando experiências e desabafando sobre nossas vidas. Ramon me contou sobre as dificuldades que enfrentou para chegar ao Brasil e construir sua família, e eu compartilhei um pouco sobre a minha trajetória até aqui.

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Continua...

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