Capítulo 60

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Priscila Barcella

Eu realmente queria beijá-lo. Sentir os lábios de Liam nos meus, aquele toque suave que arrepiava cada parte de mim. Era como se ele estivesse me puxando para algo que eu nem sabia que queria… até agora. Estávamos tão perto, até que a pequena reclamou, me fazendo rir e trazendo de volta um pingo de realidade.

— Vem com o titio — ele disse, pegando Nina com um sorriso, aquele sorriso que parecia me desarmar toda vez. Por que ele tinha que ser assim? Tão gentil, tão... bom? Ao mesmo tempo que o queria, me questionava o que exatamente estava sentindo.

Eu sabia que ele era diferente, que merecia algo que talvez eu nem pudesse dar. E quanto mais ele mostrava esse lado carinhoso, mais eu temia machucá-lo. Mas e o que eu queria? Eu o queria... e precisava dele, disso eu sabia.

Mas então a Nina começou a chorar de novo, cortando meus pensamentos e puxando-me de volta.

— Acho que ela está com fome. Troquei a fralda, então, deve ser isso — ele disse, com aquele jeito natural de lidar com tudo.

— Vamos para o meu quarto, lá tenho tudo pra ela — respondi, pegando minha bolsa enquanto subíamos. Eu tentava fingir que tudo estava sob controle, mas a verdade é que nada estava. Assim que chegamos, já fui tirando os saltos, buscando um mínimo de alívio.

— Vai tomar banho primeiro? — ele perguntou, e eu quase ri. Eu queria que ele visse isso como normal, mas a cada pergunta dele, a minha confusão só crescia.

— Não, mas vou precisar de ajuda para tirar o vestido — expliquei, e vi o sorriso se alargar no rosto dele. E, ao mesmo tempo que eu o provocava, senti uma pontinha de medo — medo do que ele poderia pensar, do que eu mesma poderia estar querendo sem nem saber.

— Tem certeza?

— Achei que ia gostar de ver minha lingerie — falei, jogando as palavras como quem joga pedrinhas num lago, observando as ondas que iam se formando em seus olhos.

E, por um momento, ele me olhou como se estivesse tentando entender se eu queria mesmo que ele... me tocasse. Me ajudasse. Eu mesma não sabia.

— Tira, por favor — pedi, a voz mais baixa do que eu queria. — O zíper emperrou. E... não posso amamentar assim.

Ele deu um suspiro, pegou Nina e a colocou na cama.

— Amanhã o “cara” vem, né? — perguntou enquanto deslizava o zíper devagar, os dedos tocando minhas costas, causando um arrepio impossível de controlar.

— Esse “cara” tem nome — murmurei, sentindo o calor subir pelas bochechas. — Afonso vem, sim. E com a filha dele, então trate de se comportar.

Ele sorriu, mas era um sorriso que me deixava mais ansiosa.

— Eu me comportar?

— Sem crises de ciúme, Liam. Eu sou adulta, sabia? Se quisesse ficar com ele, já teria ficado. E, para sua informação, ele é bem... bonito.

De repente, ele me virou, os olhos verdes fixos nos meus.

— Eu? Ciúmes? — ele rebateu, rindo. — E você pare de fazer joguinhos, Priscila.

— Que joguinhos? Só tô dizendo que o cara é... atraente — provoquei, tentando soar casual, mas sentindo meu próprio coração disparar.

— Você não precisava de tudo isso só pra ver o tal Afonso.

— E você não precisava mostrar ciúmes... ou isso é impressão minha?

— Ciúmes? Pensei que eu fosse “da família”.

— Você é, mas não é meu marido. E eu não tenho paciência pra ciúmes, Liam.

Ele me olhou, e por um momento, não disse nada. Apenas respirou fundo.

— Sabe, você faz escolhas ruins às vezes.

Eu ri, mas o som saiu meio forçado.

— Pois é, uma dessas escolhas ruins é você. Fico feliz que tenha percebido.

— Então vai me demitir? — ele perguntou, cruzando os braços, a expressão divertida.

Eu balancei a cabeça, rindo.

— Não seja bobo. As crianças amam você... Eu só... — hesitei, não sabendo se deveria continuar. — Só errei quando te olhei daquele jeito.

Ele deu um suspiro, passando as mãos pelos cabelos.

— Então também errei.

Ele virou-se, caminhando para a porta, e eu senti uma pontada de desespero. Era como se cada coisa que eu dizia só o afastasse mais. E, mesmo assim, meu orgulho me mantinha parada.

— O problema é que... gosto de você, Liam — confessei, sentindo o calor subir pelo rosto. — E não sei lidar com isso. Não sei lidar com o que não controlo.

Ele se virou lentamente, o olhar dele profundo, como se tentasse ler cada detalhe meu.

— Priscila, qual o problema de gostar de alguém? De mim?

Eu engoli em seco, a resposta escapando antes que eu pudesse impedir.

— Eu não sei lidar com isso. Não consigo... controlar.

— Você pensa demais — ele disse, a voz suave. — Experimenta deixar o coração te guiar um pouco.

Fiquei em silêncio, tentando absorver. Eu, guiada pelo coração? Só de imaginar, já sentia o caos.

— Agora... poderia abrir o zíper, por favor? — pedi, sentindo-me patética.

Ele se aproximou, abrindo o zíper com cuidado. E, antes de sair, ele olhou para Nina e a beijou na testa.

— Boa noite, Priscila. Boa noite, bonequinha.

Ele se foi, deixando-me sozinha, ali com minha confusão e meus medos, enquanto tirava o vestido e me preparava para alimentar minha bebê.

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Continua...

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