Entre nós- RICHARD RIOS

O que ele estava fazendo aqui?

Thaila Garcia
São Paulo

Primeiro dia oficialmente em São Paulo e, como sempre, dona Fernanda inventando seus jantares especiais sem motivo algum de comemoração. Dessa vez, ela disse que seria para celebrar nossa nova fase. Eu ri, achando engraçado esse jeito dela. A verdade é que eu estava zero animada, já que a maioria dos convidados eu nem conhecia, eram todos amigos ou até mesmo clientes do Fábio. Já comentei que ele agencia jogadores e famosos? Pois é.

Desci para tomar café da manhã e, claro, a cobertura estava lotada de funcionários indo de um lado para o outro, arrumando as coisas para o tal jantar. Minha mãe estava empolgada, organizando cada detalhe com aquela energia que só ela tinha. Quando Fábio me viu, ele sorriu e tentou puxar conversa. Não era um cara ruim, então acabei cedendo e socializando um pouco.

— Bom dia, Thaila. Dormiu bem? — ele perguntou, enquanto eu me sentava à mesa.

— Dormi sim, Fábio. E você? — respondi educadamente, tentando não soar distante.

Ele sorriu, satisfeito com minha resposta.

— Dormi bem também. Estamos animados para o jantar hoje, hein? Vai ser uma ótima oportunidade para você conhecer gente nova.

Eu assenti, mesmo que por dentro estivesse pouco animada com a ideia.

Enquanto eu tomava um gole do meu café, Fábio continuou a conversa, tentando ser mais animado.

— Sabe, Thaila, um dos amigos que vai vir para o jantar hoje é casado com a dona de uma das melhores agências de modelo de São Paulo. Tenho certeza de que eles vão adorar o seu perfil. Seria uma ótima oportunidade para você.

Eu não pude evitar sorrir de verdade dessa vez. Uma das melhores agências de São Paulo? Isso sim era algo que despertava meu interesse. Talvez o jantar não fosse tão ruim assim, afinal.

— Sério? — perguntei, tentando esconder o entusiasmo. — Isso seria incrível.

Ele assentiu, parecendo satisfeito em ter conseguido me animar. Foi nesse momento que minha mãe finalmente parou de correr de um lado para o outro e se sentou à mesa. Parecia que aquela mulher não sabia o que era descanso.

— Você não para quieta, mãe, pelo amor de Deus. — Eu provoquei, rindo, enquanto ela se servia de café.

Ela deu uma risada leve, finalmente relaxando um pouco.

— Eu só quero que tudo saia perfeito, querida. Você sabe como eu sou.

Eu sabia, claro. Mas, pelo menos agora, com a possibilidade de um novo começo em uma agência de modelo, eu estava começando a me sentir um pouco mais animada para essa "nova fase" em São Paulo.

Anoitecia em São Paulo, e a agitação da casa já estava a todo vapor. Eu ainda estava no quarto, finalizando meu cabelo com o triondas, e ouvia o burburinho vindo do andar de baixo. Minha mãe, como sempre, havia conseguido transformar um jantar qualquer em um evento digno de um baile de gala. Enquanto eu passava os últimos toques no cabelo, ouvi a porta do quarto se abrir e lá estava ela, toda arrumada, impecável como sempre.

Era impressionante como minha mãe conseguia ser exatamente a mesma de quando era mais jovem: elegante, segura de si, como se o tempo tivesse medo de afetá-la. Seus olhos brilharam quando me viu pronta, e ela não conteve o sorriso.

— Minha filha está deslumbrante! — ela disse, se aproximando, admirando cada detalhe do meu vestido e do meu cabelo.

Eu sorri, satisfeita com o elogio.

— Gracias, mamá — respondi com carinho.

Era engraçado como, apesar de toda a mistura cultural em que fui criada, essa pequena troca em espanhol ainda era nosso jeito de nos conectarmos. Ela tocou meu ombro suavemente, o olhar cheio de orgulho.