Dormir?

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Thaila Garcia
São Paulo

— Você vai voltar comigo de carro — ele soltou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Revirei os olhos, tentando negar. — Não precisa, Richard. Eu posso ir com a Ísis.

Mas ele nunca soube ouvir "não", e pelo visto, isso não ia mudar tão cedo. Antes que eu pudesse completar a frase, ele se aproximou de novo, me cercando, como sempre fazia. Começou a me encher de carinho, passando os dedos pelo meu braço e me provocando com aquele sorriso de canto.

— Vai voltar comigo sim — ele insistiu, a voz baixa, soando quase carinhosa. — E eu não tô pedindo, Thailinha.

Senti um arrepio subir pela minha espinha. E quando ele começou a me cutucar, bem ali na cintura, onde ele sabia que eu era mais sensível, eu perdi qualquer chance de segurar a risada.

— Para, Richard! — reclamei, tentando empurrar ele de leve, mas já era tarde. Ele sabia que eu não aguentava cócegas, e foi exatamente isso que ele fez.

Me segurou firme e começou a fazer cócegas, igual fazia quando a gente era mais novo. Eu tentei escapar, mas não dava. O pior é que eu estava rindo, apesar de toda a tensão da situação.

— Tá louco? Para, antes que alguém veja! — falei entre risadas, me contorcendo pra sair do alcance dele, mas ele continuava, como se não tivesse mais ninguém naquela casa.

— Ah, então você acha engraçado, né? — Ele riu, se divertindo ainda mais com meu desespero, as mãos rápidas encontrando cada ponto que ele sabia que me fazia perder o controle.

Eu tentava afastar ele, rindo, e a sensação era estranha. Como se, por um momento, tudo tivesse voltado a ser como antes.

— Eu vou voltar na frente, só pra galera não ver — ele falou com aquele tom casual, mas carregado de intenção.

Suspirei, achando tudo aquilo meio desnecessário. Esconder que éramos amigos? Qual o problema nisso? Mas, de algum jeito, eu concordei. Afinal, Richard conhecia os amigos dele melhor do que eu, né? Se ele estava dizendo que seria complicado, quem era eu pra questionar?

— Tá bom, vai na frente — respondi, tentando não mostrar o quanto eu ainda achava aquilo bobo.

Ele deu aquele sorrisinho de sempre, aquele que eu conhecia desde os nossos tempos de infância. E, quando eu pensei que ele ia simplesmente sair, ele me surpreendeu. Richard virou pra mim mais uma vez e, com a voz baixa, disse:

— Você tá linda hoje, Thailinha.

Aquele comentário me pegou de surpresa. Fiquei parada por um segundo, sentindo o calor subir até minhas bochechas. Antes que ele pudesse perceber, tentei disfarçar, endurecendo um pouco a postura e soltando um elogio de volta, mas claro, no meu estilo:

— E você não tá tão mal assim — respondi, tentando ser rígida, mas não pude evitar um pequeno sorriso no canto da boca.

Ele riu, satisfeito, e saiu pela porta, deixando um clima no ar que eu não conseguia explicar. Era estranho, mas de alguma forma, tudo isso parecia familiar.

Voltei pra sala tentando não pensar demais na conversa que tive com Richard na cozinha. Claro, ainda tinha algo estranho no ar, mas balancei a cabeça, me forçando a focar no jantar e nas pessoas ao redor. Sentei novamente ao lado de Maurício, ignorando as coisas que Richard tinha falado sobre ele. Eu não ia deixar o colombiano enfiar essas ideias na minha cabeça, né?

A conversa continuava, leve e descontraída, até que, de repente, senti a mão de Maurício repousando na minha perna. Foi só um toque, mas meu corpo enrijeceu na hora. As palavras de Richard ecoaram na minha mente, junto com a lembrança do olhar que ele me lançou mais cedo, quando me viu ao lado de Maurício.

Entre nós- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora