Thaila Garcia
São PauloAcordar cedo não é muito meu forte, e acordar cedo com vozes na sala é ainda pior. Peguei meu celular com um pouco de dificuldade, vendo que ainda nem tinha dado 8:00 da manhã. Revirei os olhos, lembrando que cheguei tarde em casa ontem, já que depois das fotos fui jantar com Ísis e as meninas. Com uma preguiça que parecia me puxar de volta para a cama, fiz um rabo de cavalo e saí do quarto, curiosa para saber com quem Fábio tanto falava logo cedo.
Quando cheguei na sala da cobertura, quase quis me enfiar em um buraco. Richard. Lá estava ele, completamente à vontade, jogado no sofá como se estivesse em casa. De short e camiseta, as tatuagens à mostra, o típico Richard relaxado, sem nem um pingo de esforço. Tentei disfarçar meu incômodo, porque a única coisa que conseguia pensar era em como Fernanda iria reagir ao ver ele assim, largado no sofá dela.
— Cadê a minha mãe? — perguntei direto para Fábio, tentando manter a calma, mas por dentro queria sumir dali.
Antes que ele pudesse responder, Richard, com aquele sorriso provocante que só ele tem, me deu um "bom dia" que soou mais como uma provocação.
— Bom dia, morena. — Ele disse, me olhando como se tivesse todo o tempo do mundo.
Revirei os olhos internamente, mas respondi educada, tentando não deixar nada transparecer. Não queria que Fábio percebesse o desconforto óbvio que eu sentia com Richard ali.
— Bom dia. — respondi, tentando soar neutra, ainda que estivesse explodindo por dentro.
— Sua mãe foi ao shopping resolver umas coisas — Fábio falou, enquanto eu soltava um suspiro de alívio por dentro. Pelo menos uma coisa deu certo hoje. Se Fernanda estivesse aqui, seria uma guerra de olhares entre ela e Richard, com certeza.
Passei pela sala tentando parecer normal, mas minhas mãos estavam inquietas. Fui direto para a cozinha, ainda sentindo o peso do olhar de Richard me seguindo. Ele fez questão de me secar de cima a baixo quando entrei. Sério, será que esse pijama tá tão feio assim? Olhei de relance para a camiseta larga e o short velho que usava. Nada demais, mas aparentemente o suficiente para Richard me analisar como se eu estivesse pronta pra um desfile.
Por que ele tem que ser assim? Toda vez.
Me virei para pegar um copo d'água quando senti alguém entrar na cozinha. Me assustei um pouco ao ver Richard encostado no batente da porta, me provocando com aquele sorriso de canto que eu conhecia bem.
— Ei, morena, pega uma água pra mim? — ele pediu, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu bufei, mas, por algum motivo, servi a água.
Quando entreguei o copo, ele riu.
— Você ainda acorda de mau humor, igualzinha quando era pequena — ele comentou, e eu revirei os olhos. Porque, claro, ele estava certo. Sempre tinha razão quando se tratava de mim.
Achei que ele ia voltar para a conversa com Fábio e finalmente me deixar em paz, mas ele não. Em vez disso, se aproximou ainda mais, me deixando nervosa de novo. Eu podia sentir o olhar dele sobre mim, e então, sem aviso, ele soltou:
— A conversa no carro, aquela noite... Você percebeu que pela primeira vez a gente não discutiu?
Engoli em seco. Era exatamente o que eu não queria lembrar.
Decidi que talvez, só dessa vez, eu poderia parar de ser tão implicante com ele. Afinal, Richard estava cedendo também, né? E, se ele conseguia deixar de lado a provocação, eu podia fazer o mesmo. Respirei fundo e respondi, tentando não parecer tão resistente.
— Percebi, sim — falei, quase num tom de confissão. — Me lembrei muito dos tempos em Medellín.
Richard sorriu, aquele sorriso que fazia os olhos dele brilharem de um jeito que eu odiava admitir que me afetava. Ver ele assim, mais leve, quase me fez esquecer todas as brigas e provocações. A nostalgia bateu forte, e por um momento, era como se a gente tivesse voltado no tempo, quando tudo entre nós era simples.
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Entre nós- RICHARD RIOS
Hayran KurguQuando seus caminhos se cruzaram novamente, a cidade grande e suas complexidades apenas acentuavam as tensões e as mudanças que ambos carregavam.