Thaila Garcia
São PauloSabe quando você tem um pequeno problema em dizer não? Pois é, eu tenho esse pequeno problema aos 22 anos de idade. Aqui estou eu, tentando dizer não para a Ísis, que insiste para que eu vá com ela ao jogo do namorado da Milena, que por sinal, descobri que se chama Murilo. E adivinhem? Mais um colega de time do Richard, o qual eu não falo desde o sábado passado, quando ele praticamente me chamou de puta.
— Ísis, eu não vou, de verdade — disse, já revirando os olhos. — O Richard joga lá.
Claro que eu não ia entrar no mérito do que rolou entre a gente ou o porquê de estarmos brigados. Mas, como sempre, a Ísis não deixaria quieto.
— Tá, mas qual é o problema? Você fala desse cara como se ele fosse o anticristo. Que raiva é essa toda, Thaila?
Respirei fundo. Eu sabia que uma hora ou outra alguém iria querer saber a história. E, sinceramente, talvez fosse até bom desabafar um pouco. Olhei para a Ísis, já decidida a contar, mesmo que eu não quisesse relembrar.
— Olha, é uma longa história, mas resumindo... eu e o Richard éramos melhores amigos quando éramos crianças. Crescemos juntos, e depois do divórcio dos meus pais, eu me afastei. A família dele sempre tomou o lado do meu pai. E depois disso, muita coisa mudou entre a gente.
Ela me encarou meio chocada
— E ele é sim praticamente um anticristo, Ísis! Um babaca completo! — soltei, quase sem filtro, enquanto esfregava o rosto com as mãos, já exausta só de pensar nele. — O Richard... sério, é o pior tipo de pessoa. Arrogante, grosso e, agora, com essa pose de jogador fodão, ele ficou ainda mais insuportável.
A Ísis me olhava meio confusa, piscando rápido, sem entender essa explosão toda.
— Mas por que você tá com tanta raiva? Não é coisa do passado? — ela perguntou, claramente tentando entender a dimensão do que eu sentia.
— Porque as brigas não pararam, Ísis. Ele sempre foi um idiota, mas agora... parece que eu atirei pedra na cruz pra merecer ele de volta na minha vida de novo. E do jeito que aconteceu, parece até que o universo tá de sacanagem comigo.
— Ah, relaxa! Você nem vai precisar falar com o Richard — Ísis insistiu, jogando as mãos para o alto como se não fosse nada. — E o Maurício também quer que você vá. Ele vai jogar e até comentou comigo que seria legal te ver lá.
Eu revirei os olhos, claro. Maurício também? Ótimo. Agora tinha dois motivos para não conseguir escapar.
— Droga, Ísis — soltei, cruzando os braços e suspirando fundo. — Eu vou mesmo acabar indo assistir aquele verme jogar, não vou?
Ela me lançou aquele sorriso, já sabendo que eu estava cedendo.
— Não vai ser tão ruim assim — ela tentou animar. Mas era fácil falar isso quando não era ela que tinha uma história inteira com o tal "verme".
A noite chegou rápido, e eu estava no carro com a Ísis, mal disfarçando o meu mau humor. Já não queria ir para o jogo, e o fato de estar dirigindo para ver o Palmeiras só piorava tudo. O que eu estava fazendo? Estava me colocando exatamente no caminho do problema que queria evitar.
Para piorar, antes de sair, minha mãe perguntou com aquele tom casual que sempre usava quando já sabia a resposta:
— Aonde vocês vão, Thaila?
Eu ia inventar uma desculpa qualquer, dizer que era só uma saída normal, nada de mais, mas a Ísis, sempre a boca aberta, respondeu sem hesitar:
— Vamos assistir o jogo do Palmeiras!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre nós- RICHARD RIOS
FanfictionQuando seus caminhos se cruzaram novamente, a cidade grande e suas complexidades apenas acentuavam as tensões e as mudanças que ambos carregavam.