Eu não mordo..

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Thaila Garcia
São Paulo

As arquibancadas estavam cheias, um mar de verde e branco, gente pintada, bandeiras, máscaras de porco e todo tipo de camisa do Palmeiras. Nunca fui realmente uma fanática por futebol, mas aquela sensação era única. Ísis estava ao meu lado, gritando como se o coração fosse sair pela boca, acompanhada de Milena e Thai. E eu? Eu estava eufórica. Não conseguia tirar os olhos do campo enquanto os jogadores corriam, o jogo apertado em 2x2, cada lance era uma explosão de emoção.

Os corinthianos estavam marcando pesado, tentando não dar espaço para os nossos meninos. Maurício já tinha feito o primeiro gol da noite e, antes que pense que estou aqui por ele, não estou... ou talvez esteja, de algum modo. Durante esse último mês, Maurício se tornou um grande amigo, alguém com quem posso contar de verdade.

Faltavam poucos minutos para o fim. Meu coração batia acelerado junto com as batidas dos tambores e os gritos da torcida. A adrenalina corria, e eu mal respirava. Do nada, um silêncio estranho tomou conta da multidão que antes gritava. Olhei ao redor, confusa, e percebi que um dos jogadores estava no chão, segurando a perna e gritando de dor. A roda de jogadores em volta impedia de ver quem era, mas a preocupação bateu. Parecia sério.

Quando finalmente consegui um ângulo, meu coração parou. Era o Richard, caído, dando leves socos no gramado, o rosto distorcido de dor. Parecia que o mundo ao meu redor ficou em silêncio. Ele havia sido empurrado por um dos jogadores do time rival, e agora estava ali, chorando de dor. Senti um aperto no peito. Eu podia estar tentando seguir em frente, me afastar dele e de tudo que ele causou em mim, mas ver ele daquele jeito... foi como um choque.

Ainda tinha carinho por ele, afinal. Mesmo que eu não quisesse admitir.

Ísis e as meninas ao meu lado ficaram em silêncio, perplexas. O jogo tinha parado completamente. A torcida inteira parecia prender a respiração enquanto a maca se aproximava do gramado. Milena comentou, quase em um sussurro, que aquilo parecia sério, e eu estiquei o pescoço, tentando ver melhor o que estava acontecendo.

Richard estava lá, ainda no chão, com o rosto tenso de dor. Ele tentava segurar as lágrimas, mas era impossível disfarçar. Ele segurava o joelho, e qualquer um podia ver o quanto estava machucado. Os outros jogadores se aproximavam, confusos, tentando entender o que realmente tinha rolado. A torcida, antes tão barulhenta, agora estava quieta, só o murmúrio das conversas e a tensão no ar.

O jogador que o empurrou levou um cartão vermelho, e o jogo voltou para os minutos finais, mas eu mal conseguia me concentrar no placar. Meu olhar insistia em voltar para onde Richard estava sendo atendido. Eu não queria admitir o que sentia, mas a verdade era que me importava. Estava preocupada, um aperto no peito que não queria ir embora. Eu só queria saber se ele estava bem.

O apito final mal ecoou e eu já estava mexendo na bolsa, pronta para sair. Me virei para as meninas, que me observavam com olhos arregalados, antecipando o que eu estava prestes a dizer.

— Meninas... Eu... eu preciso descer e ver como ele tá —falei, sabendo que isso não iria descer fácil.

Ísis foi a primeira a reagir, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas.

—Você tá falando sério, Thaila? Ele foi um babaca, lembra?

—Ele fez você sofrer —completou Milena, balançando a cabeça como se eu estivesse completamente fora de juízo.

Thai suspirou, tentando buscar paciência.

—Você não deve nada pra ele, Thaila. Não vai cair nessa de novo, vai?

— Eu sei, eu sei — eu disse, tentando controlar o nervosismo —mas... eu preciso fazer isso. Vocês sabem como é, né? Ele foi meu melhor amigo por tanto tempo.

Entre nós- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora