Não ficaria com ela??

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Thaila Garcia
São Paulo

Entrei no apartamento devagar, quase sem fazer barulho, cuidando para não acordar minha mãe e Fábio. A casa estava silenciosa, e as luzes da sala estavam apagadas, como eu esperava. Soltei um suspiro aliviado, fechando a porta com o maior cuidado possível, e encostei as costas nela por um instante.

Me peguei sorrindo, o que era meio estranho, considerando que eu tinha passado as últimas semanas completamente irritada com o Richard. Mas, dessa vez, foi diferente. A gente não brigou, não se alfinetou como sempre... Parecia que, por algumas horas, éramos as mesmas crianças de antes, rodando por Medellín, rindo de qualquer coisa.

Deixei meus sapatos ao lado da porta e fui andando pelo corredor, com aquele sorriso bobo ainda preso no rosto. Lembrar de tudo que vivemos juntos, das nossas brincadeiras e como ele sempre arrumava um jeito de me provocar... Pela primeira vez desde que nos reencontramos, eu realmente fiquei feliz de ver o Richard. Não o Richard Rios do Palmeiras, mas o Richard que eu conhecia, o moleque que me fazia desenhar casas e depois zombava dos meus rabiscos.

Entrei no meu quarto, fechei a porta devagar e me joguei na cama, ainda pensando na noite. Era como se um peso tivesse saído dos meus ombros. Talvez... só talvez... não fosse tão ruim assim reencontrar alguém do passado, afinal.

Mesmo sendo de madrugada, deitei na cama, mas não conseguia dormir. Era como se um pico de energia tivesse me atingido, e eu não parava de pensar na conversa com o Richard, em tudo que a gente falou sobre quando éramos crianças e nos meus antigos desenhos de arquitetura. Eu nem lembrava direito da última vez que tinha pensado nisso.

Levantei de um pulo e fui direto para o meu guarda-roupa, puxando o fichário velho que ficava escondido lá no fundo. Estava meio empoeirado, mas ainda intacto. Abri o fichário, e logo me deparei com todos os meus desenhos antigos, todos os rabiscos que eu fiz quando era pequena. Tinha desde casas enormes até coisas meio malucas que eu desenhava só porque achava bonito.

Sentei no chão do quarto, e fui folheando os desenhos devagar. Alguns me fizeram rir, outros me deixaram nostálgica. Eu achava que tinha deixado essa parte de mim para trás quando minha mãe decidiu que ser modelo era uma "oportunidade boa". Mas, vendo esses desenhos, percebi que, de algum jeito, eu nunca deixei isso totalmente de lado.

Peguei um lápis e comecei a rabiscar ali mesmo, sentada no chão. Meus traços foram ganhando forma, e logo estava desenhando uma casa, daquelas que eu amava fazer. Cheia de paisagismo, com árvores ao redor, janelas grandes e uma varanda enorme. O tempo passou, e eu nem percebi. Estava tão imersa no desenho que só fui notar o cansaço quando meus olhos começaram a pesar.

Mas, olhando para o que tinha desenhado, me senti bem. Era como se, por algumas horas, eu tivesse voltado a ser aquela Thaila que sonhava em ser arquiteta e que acreditava que podia construir algo grandioso com minhas próprias mãos.

Olhei para o desenho que acabei de fazer e senti uma pontada de orgulho. Fazia tanto tempo que eu não desenhava algo assim... Talvez fosse a conversa com o Richard, mexendo com memórias que eu achava que tinha deixado para trás.

Por um segundo, pensei em mandar uma foto do desenho para ele. Queria mostrar que eu ainda sabia desenhar e, sei lá, agradecer pela nostalgia boa que ele me trouxe. Só que, quando peguei o celular, percebi que nem o número dele eu tinha mais. É claro que não tenho— a gente mal se falava desde que tudo mudou.

Apertei o celular na mão e cogitei mandar pelo Instagram. Mas aí uma vozinha na minha cabeça me parou. Não, Thaila... não parece certo. Talvez fosse o sono me afetando, mas eu realmente não me sentia confortável em mandar por lá. Parecia impessoal demais, distante. E de repente, o impulso de compartilhar com ele passou, me deixando só com a sensação de que talvez fosse melhor guardar esse momento para mim.

Entre nós- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora