Não desce..

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Thaila Garcia
São Paulo

Revirei os olhos, me encostando no banco e suspirei fundo antes de responder. Já sabia para onde aquela conversa ia. Richard e minha mãe sempre foram como água e óleo, e ele adorava deixar isso bem claro.

— Por favor, Richard... — falei cansada, desviando o olhar para a janela. — Não fala da minha mãe. Eu não quero voltar pra essa briga de sempre. Não agora.

Ele ficou em silêncio por um momento, o que, para ele, já era um progresso. Eu sabia que ele ia entender, porque apesar de todos os defeitos, Richard sabia quando eu estava realmente cansada de um assunto. Ele voltou a dirigir, mas não por muito tempo. Logo estava abrindo a boca de novo.

— Tá bom, sem falar da Fernanda. Mas sério, Thaila... — ele continuou, com aquele tom de quem ainda queria se meter na minha vida. — Você leva jeito pra modelo, tudo bem. Mas e a faculdade? Por que não faz as duas coisas?

Eu virei o rosto pra ele, e dessa vez, soltei uma risada de verdade. Era impossível não rir. Ele ainda tinha aqueles parafusos a menos na cabeça, aquele jeito de querer resolver as coisas do jeito dele, sem nunca entender a complexidade da situação.

— Você não mudou nada, né? — falei, rindo enquanto balançava a cabeça. — Sempre achando que tudo é simples. Como se fosse fácil assim, fazer tudo ao mesmo tempo.

Ele me olhou por um segundo, meio que desafiando, e eu sabia que ele queria insistir no assunto. Mas eu não estava nem um pouco afim de discutir sobre faculdade com Richard Rios no meio da madrugada, depois de uma festa cheia de drama.

Eu olhei para Richard e, entre uma risada e outra, perguntei:

— Tá, mas e o Juan? Como é que ele veio parar aqui em São Paulo?

Richard soltou uma risada, aquele riso meio debochado que ele sempre teve.

— Ele veio comigo da Colômbia. Não me deixou em paz até eu arrumar um lugar pra ele aqui.

Não pude evitar o sorriso que se formou no meu rosto. Juan e Richard morando juntos? Só podia ser uma bagunça.

— Ah, então quer dizer que vocês dois tão morando juntos? — provoquei, me virando um pouco mais no banco para olhar ele de frente. — Aposto que é o caos completo. Quem é que cuida das coisas aí? Porque, sinceramente, vocês não têm cara de quem lava nem um copo.

Ele deu de ombros, com aquele sorriso convencido de sempre.

— A gente dá o nosso jeito, Thaila. Melhor do que era lá na Colômbia, pelo menos. — Ele me olhou com aquela expressão de desafio. — E você? Vai dizer que sabe cozinhar alguma coisa agora? Ou ainda é aquela que só sabe fazer macarrão instantâneo?

Eu dei uma risada alta, sem conseguir segurar. Ele estava me provocando, e claro que eu não ia deixar passar.

— Eu sei fazer muito mais do que macarrão, tá? — retruquei, cruzando os braços de maneira exagerada. — Mas você... continua o mesmo preguiçoso de sempre, hein? Aposto que vive de pedir comida e fazer bagunça.

Ele arqueou uma sobrancelha, com aquele brilho nos olhos que indicava que ia revidar.

— E você continua a mesma implicante de sempre — ele retrucou, rindo. — Tô te reconhecendo agora... Achei que essa pose de modelo ia te deixar mais séria, mas você continua com 10 anos na cabeça.

Eu gargalhei, porque a verdade é que, por um segundo, parecia que a gente tinha voltado no tempo. Estávamos de novo naquele lugar de sempre, trocando provocações, rindo e implicando um com o outro como se nada tivesse mudado desde a infância. Toda a tensão que tinha entre a gente antes da festa parecia ter desaparecido, e agora éramos só nós dois, como antes.

Entre nós- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora