Entre nós- RICHARD RIOS

Depois de tudo que aconteceu?

Thaila Garcia
São Paulo

Quando o Uber parou em frente ao meu prédio, eu senti o alívio de finalmente estar longe dele, mas o medo e a dor ainda queimavam dentro de mim. Minhas mãos ainda tremiam quando saí do carro, e, enquanto subia o elevador, a adrenalina misturada com o cansaço me fazia sentir um nó no estômago. As lágrimas continuavam caindo, e eu já nem tentava mais segurá-las.

Quando a porta do apartamento se abriu, a visão da minha mãe na sala, casualmente folheando uma revista, me atingiu como um soco no estômago. Eu congelei no mesmo instante. Merda. Como eu ia esconder isso dela?

Tentei respirar fundo, mas era inútil. Eu sabia que estava um desastre, e qualquer tentativa de fingir que estava bem ia por água abaixo no momento em que ela olhasse pra mim.

— Thaila? — A voz dela foi calma, mas eu vi os olhos se levantarem da revista e pousarem direto no meu rosto. Ela já tinha notado. Claro que tinha.

— Mãe... — Minha voz saiu trêmula, e eu senti o peso das palavras que não conseguia dizer. Tentei desviar o olhar, limpar as lágrimas com pressa, mas era impossível esconder o que estava estampado no meu rosto.

— O que aconteceu, filha? — Ela se levantou do sofá, deixando a revista de lado. O tom dela mudou imediatamente, preocupada. Eu sabia que não tinha como escapar.

Eu respirei fundo, tentando achar alguma desculpa rápida. Mas nada vinha. Minhas pernas tremiam, e eu senti todo o peso da noite desabar em cima de mim mais uma vez.

Eu estava um desastre.

— O que aconteceu, filha? — A voz da minha mãe era firme, mas cheia de preocupação. Eu hesitei, pensando em como poderia contornar a situação.

— Eu só... eu estava com as minhas amigas, sabe? — menti, olhando para o chão. Era mais fácil assim.

Mas, ao encarar Fernanda, senti uma pressão crescente dentro de mim. A mentira não ia colar.

— Mãe, eu... não estava com a Ísis. — A confissão escapuliu antes que eu pudesse pensar melhor. — Eu estava com o Richard.

A expressão dela mudou na mesma hora, o semblante fechando-se em uma mistura de desapontamento e raiva.

— Richard? — ela repetiu, a voz tensa. Eu sabia que ela realmente o odiava. Ele não era só o garoto que eu conheci na infância; ele era o que havia machucado meu coração, e isso a preocupava profundamente.

— Mãe, não é o que você está pensando. — Tentei acalmar a situação, mas sabia que era em vão. A frustração dela era palpável.

— Como você pode se meter de novo com ele, Thaila? Depois de tudo que aconteceu?

Eu fechei os olhos por um momento, tentando reunir coragem. Richard era um capítulo complicado da minha vida, e eu não sabia como explicar o que sentia.

— Não foi só isso... — comecei, mas a voz dela já estava subindo.

— Você precisa entender que ele não é uma boa influência. Ele só vai te machucar de novo! — Sua preocupação era evidente, mas eu só queria que ela confiasse em mim.

— Mãe, eu posso lidar com isso!

Mas no fundo, eu sabia que estava mentindo.

— Olha, só teve uma briga, mas não foi nada demais. — Eu disse, tentando minimizar a situação enquanto observava a expressão de desconfiança da minha mãe. — Foi só um mal-entendido, realmente.

Fernanda me encarou, claramente não acreditando totalmente. Mas eu não queria dar mais motivos para ela odiar Richard.

— Ele só... só não entendeu o que eu queria dizer. Não precisa se preocupar, tá?