Babaca

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Thaila Garcia
São Paulo

— Babaca. Grosso — respondi no mesmo tom, sem hesitar. — Você acha que pode falar qualquer coisa e sair por cima, né? Mas, Richard, deixa eu te lembrar de uma coisa: você é só o passado. Se eu quiser, eu ignoro sim, e vou fazer isso, pode ter certeza.

Ele ergueu a sobrancelha, como se estivesse prestes a soltar mais uma provocação, mas continuei antes que ele pudesse abrir a boca.

— Para mim, você não é nada além de um cara que eu conheci há anos. E sabe o que mais? Vou continuar vivendo minha vida muito bem sem você. Pode ficar tranquilo, porque se depender de mim, você vai ser só uma memória apagada.

Eu disse tudo aquilo de uma vez, querendo machucar tanto quanto ele me machucou. Ver a expressão dele se fechar me deu uma pontada de satisfação, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim gritava. Eu estava cansada dessas farpas, dessas brigas que não levavam a nada. Mas se ele queria guerra, eu não ia recuar.

— Ótimo! — soltei, encarando Richard com o máximo de frieza que consegui reunir. — A partir de agora, a gente nem se olha mais. Você segue o seu caminho, e eu sigo o meu.

Ele riu, aquele riso debochado que sempre me tirava do sério.

— Ótimo pra mim também, morena. Já deveria ter feito isso há muito tempo.

Virei de costas com tanta raiva que mal enxergava o caminho à minha frente, mas, assim que dei alguns passos, senti um aperto no peito. Uma pontada de algo que não era só raiva, mas... tristeza?

As palavras de Richard ecoavam na minha cabeça, se misturando com lembranças que eu pensei que tivesse enterrado há muito tempo. De repente, me vi de volta à Colômbia, no meu quarto, com apenas nove anos. Nós dois sentados no chão, brincando com aqueles carrinhos de brinquedo que ele sempre trazia. Ele tinha acabado de me contar que talvez se mudasse para a cidade vizinha, e eu, com a voz embargada, fiz ele prometer.

FLASHBACK ON:

— Promete que a gente nunca vai deixar de ser amigos?

Lembro da forma como ele segurou minha mãozinha e falou sério, com aqueles olhos castanhos enormes que pareciam mais maduros do que a idade dele mostrava.

— Eu prometo, Thaila. Nunca vou te deixar.

FLASHBACK OFF:

Aquela promessa me perseguiu por anos. Por que, depois de tudo, eu ainda pensava nisso? Por que ainda me afetava? Fechei os olhos por um segundo, sentindo o nó na garganta crescer. Mas não, não ia chorar. Não ali. Não por ele.

Respirei fundo e continuei andando, ignorando a dor no peito e forçando meus pensamentos a voltarem ao presente. Era isso. Eu tinha que seguir em frente, esquecer essa promessa de infância.

Voltei para a mesa, tentando recuperar alguma compostura. O evento ia começar, e eu precisava me concentrar em qualquer coisa que não fosse Richard. Olhei para o palco, onde os jogadores começaram a subir, um por um. A torcida vibrava, aplausos ecoavam pelo salão, mas minha atenção estava dispersa, perdida. Era difícil focar quando um dos jogadores no palco era o cara com quem eu estava discutindo poucos minutos atrás.

Richard subiu com aquele andar confiante, o rosto sério, sem dar nenhum sinal de que, há pouco, ele estava me provocando. Aquele jeito dele me irritava profundamente. Ele sabia exatamente como me tirar do sério e, ao mesmo tempo, agir como se nada tivesse acontecido.

Minha mãe estava ao meu lado, sorridente, parecendo se divertir com os comentários que Fábio fazia. Eles riam juntos, completamente alheios ao que eu estava sentindo. Queria poder me desconectar daquela situação do mesmo jeito, mas eu estava presa no meu próprio mundo... O "fantástico mundo de Thaila", como Richard gostava de zombar.

Entre nós- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora