Com calma

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Thaila Garcia
São Paulo

Eu respirei fundo, sentindo o peso do corpo dele sobre o meu. As provocações de Richard sempre foram difíceis de ignorar, e agora, com ele tão perto, a tensão era palpável. Ele estava me testando, como sempre fazia. E, por mais que eu quisesse ceder, algo me segurava.

— A gente... poderia tentar, talvez — soltei, meio hesitante. — Mas com calma, sabe? Não quero estragar nossa amizade de novo.

Mal terminei de falar, e ele já estava me interrompendo com um beijo. Suave no começo, mas, como sempre, Richard sabia intensificar as coisas rapidamente. Seu corpo pressionava o meu contra o sofá, e o calor entre nós começou a aumentar. Por um segundo, me deixei levar.

Mas então, do nada, senti aquela sensação de que as coisas estavam indo rápido demais. Meu coração acelerou, mas não do jeito que deveria.

— Richard... — murmurei, me afastando, virando o rosto pra cortar o beijo. Ele parou na hora, mas ficou me olhando, claramente sem entender.

— Tá rápido demais... — confessei, afastando suavemente o corpo dele de mim. Ele ainda tinha aquela expressão confusa, mas não disse nada, só ficou ali, me observando. Mesmo com toda a provocação e o jeito impulsivo dele, sabia que ele ia respeitar.

E, por algum motivo, isso me fez sentir mais segura.

Richard ficou me observando por mais alguns segundos, como se estivesse tentando entender o que se passava na minha cabeça. Depois de tanto tempo separados, parecia que ele ainda me lia bem, mas dessa vez ele perguntou diretamente:

— Quer falar alguma coisa?

Neguei com a cabeça, sem nem pensar duas vezes, e soltei a primeira desculpa que me veio à mente:

— Na verdade... tô com fome.

Ele me olhou por um segundo e, em vez de insistir, deu aquele sorriso que sempre me desarmava, o sorriso de quem já sabe o próximo passo.

— Fome, é? — Ele inclinou a cabeça, divertido. — Você ainda sabe fazer aquele doce estranho que a gente inventou quando era pequeno?

Me senti aliviada. Ele tinha deixado o assunto pra lá, pelo menos por enquanto. E, claro, eu lembrava perfeitamente daquele doce esquisito que a gente fazia na casa dos meus avós na Colômbia, uma mistura de leite condensado e chocolate derretido com amendoim que só a gente conseguia gostar.

— Claro que eu sei. Como se eu fosse esquecer.

Antes que eu percebesse, ele já estava me puxando pela mão em direção à cozinha, com aquele ar descontraído de quem queria esquecer o clima esquisito de antes. A verdade é que eu também queria.

Enquanto eu mexia os ingredientes na panela, Richard se recostou no balcão, me observando com aquele olhar curioso de sempre.

— E o desfile, hein? — ele perguntou, como quem não queria nada. — Me conta mais sobre isso... Posso ir?

Eu ri da forma como ele perguntou, já sabendo onde ele queria chegar. Ele sempre tinha esse jeito meio possessivo disfarçado de brincadeira.

— Vai ser pra uma marca de lingerie famosa — comecei a explicar, sem prestar muita atenção nele, focada na receita. — É um trabalho grande, vai abrir muitas portas pra mim.

Assim que falei "lingerie", notei uma pequena mudança na expressão dele. Richard tentou disfarçar, mas não deu. A careta estava bem ali, clara como o dia. Continuei mexendo o doce, mas não consegui segurar a risada.

— O que foi? — perguntei, ainda rindo. — Vai me dizer que tá com ciúmes agora?

Ele tentou manter a pose, mas a careta só piorou.

Entre nós- RICHARD RIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora