[03] r e d e s

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Encontrar Melina novamente, aqui, no Brasil, ainda me parecia uma daquelas ironias malucas que a vida adora jogar na nossa cara

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Encontrar Melina novamente, aqui, no Brasil, ainda me parecia uma daquelas ironias malucas que a vida adora jogar na nossa cara. Ela era psicóloga do time. Claro que era. Porque não poderia ser apenas a garota aleatória que vi nos bastidores da Copa. Não, ela tinha que estar bem aqui, no clube onde eu estava prestes a começar um novo capítulo da minha carreira. E o mais louco? Ela claramente entendia de futebol. O que, pra mim, já era um ponto a favor. Mas eu mantinha minhas reservas. Porque, bem, quem não tem?

Na sala de jogos, o clima era descontraído. Melina, Luma, Rodrigo e eu estávamos juntos. Rodrigo, meu novo companheiro de time e irmão de Melina, já estava com a língua afiada, como sempre. O cara era engraçado e tinha uma leveza quase irritante, mas de um jeito bom.

── E aí, Memphis, já tá se sentindo em casa no Corinthians? ── ele perguntou, enquanto Luma ria de algo que ele disse mais cedo.

Eu dei de ombros, tentando parecer mais relaxado do que realmente estava.

── Ainda me acostumando, mas parece que a torcida já me adotou ── respondi, sem conseguir tirar os olhos de Melina por muito tempo. Ela estava de pé ao lado de Luma, sorrindo de forma sutil, como se estivesse analisando a situação inteira.

Foi nesse momento que ela decidiu entrar na conversa, com uma confiança que me pegou de surpresa.

── Bom, se você acha a torcida daqui intensa, espera até pegar o Palmeiras ou o São Paulo em um clássico. Aí sim, vai ver o que é pressão de verdade ── disse Melina, com uma pitada de humor e muito conhecimento.

Eu arqueei as sobrancelhas, intrigado. Não era todo dia que alguém me surpreendia falando de futebol como se fosse um analista de tática de jogo.

── Você acompanha futebol assim, Melina? ── perguntei, mais curioso do que queria admitir.

Ela deu um sorriso que era ao mesmo tempo modesto e provocador.

── Nasci apaixonada por futebol. É uma paixão de família. Pode perguntar pro Garro, ele sabe que eu sempre tenho uma opinião sobre o jogo dele ── respondeu, com uma piscadela para o irmão.

Garro riu e acenou com a cabeça.

── Ela sabe o que diz. Cresci ouvindo sobre futebol todo santo dia por causa dela. Mas não se preocupe, Memphis, ela só vai te analisar um pouco ── ele brincou, e Luma soltou uma gargalhada.

Eu não consegui evitar um sorriso.

── Então, Memphis, você não vai querer entrar numa partida de ping-pong com a Melina, cara. Ela destrói. ── Rodrigo disse, rindo.

── Eu não tenho tanta certeza disso ── Melina respondeu com um sorriso. ── Ele é jogador, sabe que reflexo é tudo.

Luma interrompeu, jogando lenha na fogueira. ── Melina tem vantagem psicológica, Memphis. Se você perder, ela vai saber exatamente como usar isso contra você nas sessões.

Eu soltei uma risada curta, balançando a cabeça. ── Eu vou passar no ping-pong por hoje. Prefiro esperar pelo campo.

── Boa escolha ── Melina respondeu, cruzando os braços e me encarando. ── Mas, aviso, o campo também não será fácil.

Ela tinha um olhar afiado, inteligente. Era o tipo de pessoa que falava pouco, mas parecia perceber muito mais do que deixava transparecer. Eu tinha certeza de que, quando as sessões de verdade começassem, seria difícil manter meu muro emocional intacto. Ela parecia saber o que estava fazendo.

A conversa continuou leve, com Rodrigo contando histórias sobre como ele e Melina cresceram como irmãos. Ele, o argentino agitado, e ela, a brasileira apaixonada por futebol, pareciam opostos à primeira vista, mas havia uma conexão ali que só irmãos de verdade têm. Era o tipo de coisa que eu invejava. Família era um assunto delicado pra mim, especialmente com a ausência do meu pai na maior parte da minha vida.

Depois que todos foram saindo da sala, senti o telefone vibrar no meu bolso. Era minha mãe. Atendi imediatamente.

── Mãe, tudo bem?

── Meu filho, como está o Brasil? Como está o time novo?

Eu sempre podia ouvir o alívio na voz dela, como se cada ligação minha fosse a confirmação de que eu estava bem, apesar de tudo.

── Tá tudo certo, mãe. O time é bom, a torcida é incrível. Vou me adaptar rápido, você vai ver.

Ela fez uma pausa, talvez esperando que eu dissesse algo sobre meu pai. Mas não. Esse assunto era sempre o elefante na sala, e, como sempre, passamos por ele em silêncio.

── Estou orgulhosa de você, Memphis. Eu sempre estarei.

── Eu sei, mãe. Eu te ligo mais tarde, tá?

Desliguei e, por um segundo, senti aquele aperto familiar no peito. Mas logo o esqueci. Tinha coisas para fazer. E, uma delas, era me adaptar a essa nova vida.

Mais tarde, ao chegar no hotel onde estava hospedado temporariamente, decidi que era hora de me manifestar publicamente. Peguei o celular, abri o Instagram e comecei a escrever minha primeira postagem como jogador do Corinthians.

Abri o Instagram, pensando no que postar. “Novo capítulo, mesma paixão. @corinthians” Simples, direto, sem drama. Escolhi uma foto de mim no estádio, com a camisa do clube, e publiquei. A notificação de curtidas e comentários começou a pipocar quase imediatamente, mas minha cabeça já estava em outro lugar.

Por impulso, comecei a procurar o perfil de Melina. Não sabia exatamente o que estava procurando, talvez algo que confirmasse aquela sensação que tive desde o começo. Ao encontrar o perfil dela, passei alguns minutos olhando suas fotos. Psicóloga, sim. Mas com alma de quem vivia futebol com intensidade. Ela tinha algo que despertava minha curiosidade, e antes que percebesse, meu dedo já estava no botão de “seguir”.

Sorri para mim mesmo ao notar que eu tinha seguido Melina antes mesmo de seguir o Corinthians. Acho que, de alguma forma, isso fazia sentido. Porque, para mim, o mais intrigante naquele momento não era o clube, o país ou os jogos que viriam. Era ela.

Eu me recostei no sofá, olhando para o teto, sabendo que as coisas estavam prestes a ficar interessantes.

E bem mais complicadas.

E bem mais complicadas

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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora