[00] prólogo

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Eu achava que já tinha visto de tudo. Lesões, derrotas, entrevistas sem noção ── a vida de jogador é um espetáculo constante de imprevistos. Mas terapia? Isso, confesso, nunca fez parte do meu repertório.

Não me entenda mal. Eu sei que a cabeça é tão importante quanto as pernas no futebol, mas sempre achei que eu estava bem. Resolvi vir para o Brasil, jogar no Corinthians, porque, além do futebol, eu precisava de um recomeço. Só que ninguém me avisou que, junto com a camisa alvinegra, vinha um pacote surpresa: uma psicóloga que, por algum motivo misterioso, também é fotógrafa.

Melina Campos. Nome suave, voz tranquila. Eu deveria ter desconfiado na primeira vez que vi aquele sorriso sem esforço. Tipo de pessoa que parece que sabe coisas sobre você que nem você sabe. Mas eu topei a terapia achando que seria um drible fácil, coisa de uma ou duas sessões, e pronto.

Aí vem a surpresa. Melina não é o tipo de psicóloga que te dá uma bola e manda chutar pro gol. Ela te faz tropeçar nas próprias palavras, te faz olhar para onde você não quer, como se fosse um zagueiro invisível, desarmando todas as desculpas que você construiu ao longo dos anos.

── Como você se sente em relação ao seu pai, Memphis? ── ela perguntou com aquele tom calmo, enquanto mexia na câmera como se a minha vida fosse uma grande sessão de fotos e ela estivesse ajustando o foco.

Pai. Aí está. Não esperava driblar isso tão cedo na terapia.

E, enquanto eu tentava escapar daquela pergunta como se fosse um zagueiro furioso na minha cola, tudo o que passava pela minha cabeça era: talvez essa mulher seja mais difícil de enfrentar do que qualquer defesa que eu já enfrentei em campo.

Bem, se a vida é um jogo, acho que acabei de perder a bola.

E o pior de tudo? Acho que Melina já sabia que isso ia acontecer desde o início.

Bom, que venham as próximas sessões. Vamos ver quem cansa primeiro.





 Vamos ver quem cansa primeiro

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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora