[12] c o n v e r s a

380 30 22
                                    

Eu estava diante do fogão, mexendo distraidamente a panela, enquanto a música suave preenchia o ambiente

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu estava diante do fogão, mexendo distraidamente a panela, enquanto a música suave preenchia o ambiente. A situação tinha uma estranha familiaridade. Eu cozinhando, o vinho já aberto no balcão, e Memphis... Memphis estava lá de novo, como se nada tivesse mudado. Mas tudo estava diferente, e eu sabia disso.

Há dias, eu evitava confrontar o que sentia. Ignorar as mensagens, me enterrar no trabalho, fazer de tudo para não pensar nele. Era mais fácil assim. Mas essa facilidade era uma mentira, uma máscara que eu tinha usado tempo demais. No fundo, sabia que estava só adiando o inevitável. Ele ia aparecer de novo ── e eu precisaria lidar com tudo o que vinha junto com isso.

Quando abri a porta e o vi lá com aquela garrafa de vinho, foi como um golpe leve no estômago. Eu estava esperando, mas ainda assim fui pega de surpresa. O jeito descontraído dele, aquele sorriso de canto... era a mesma fórmula, mas com uma camada de seriedade por trás que eu não conseguia ignorar.

Agora, aqui estávamos nós. Ele me observava do outro lado da bancada, enquanto eu tentava fingir que o ato de cozinhar era a coisa mais importante do mundo. Mas, na verdade, meus pensamentos estavam em caos. Não tinha mais como fugir. Eu precisava ser honesta ── comigo e com ele.

Servi as taças de vinho, o silêncio entre nós era mais denso do que a música que tocava. Ele deu um gole, e eu sabia que estava esperando o momento certo para falar. Mas, claro, eu preferia prolongar essa pausa indefinida.

── Você sempre aparece com vinho ── comentei, tentando manter a leveza, porque era mais fácil assim.

Ele sorriu de canto, um sorriso que fazia as coisas parecerem menos complicadas.

── Achei que ia combinar com o clima.

Brincadeiras à parte, a realidade era outra. Eu estava me segurando. Sabia que ele não estava ali só pelo vinho ou pela companhia. A conversa tinha que acontecer. E o silêncio começava a ficar mais difícil de manter.

Tomei outro gole de vinho, tentando pensar em como começar. Não era simples, nunca era com ele. Tudo parecia tão grande, tão carregado de significados. Olhei para ele, e de repente, o peso de tudo o que eu vinha segurando nos últimos dias se tornou insuportável.

── Olha, eu sei que você veio pra falar sobre... aquilo ── comecei, hesitante, mas direta. ── Mas antes, preciso que você saiba que... eu realmente não queria que as coisas chegassem a esse ponto.

Ele assentiu, e eu podia ver que estava ouvindo de verdade, não apenas esperando sua vez de falar.

── Eu também não ── ele admitiu, os olhos fixos em mim. ── Por isso eu queria te pedir desculpas, Mel. Por ter ido atrás da Flora naquela noite.

Eu respirei fundo. Era isso, a conversa que eu evitava. Mas ao mesmo tempo, era o que precisava ouvir.

── Eu sei por que você fez aquilo ── falei, tentando manter a voz estável. ── Mas não vou mentir. Fiquei triste, sabe? Porque... ── pausei, me dando conta de que não podia mais evitar. ── Porque eu gosto de você, Memphis. Mais do que queria admitir. E foi difícil ver você ir atrás dela.

𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora