Se você me perguntasse um tempo atrás como eu lidava com meu passado, eu diria que não lidava. Simples assim. Mas, aos poucos, as sessões com Melina começaram a mudar isso. Talvez fosse porque ela me entendia de uma maneira que ninguém mais parecia entender. Ela não apenas escutava, mas parecia saber o que estava por trás de cada palavra.
── Meu pai foi embora quando eu tinha quatro anos ── comecei, de repente, em uma das sessões. Surpreendi até a mim mesmo com o jeito casual que isso saiu. Até então, essa era uma história que eu nunca contava, mas com Melina... parecia inevitável.
Ela não reagiu imediatamente, me deu espaço para continuar.
── O futebol foi o único jeito de eu lidar com isso. Minha mãe... ela fez o melhor que pôde, mas sempre foi o futebol que me deu o que eu não tinha em casa. ── Olhei para Melina. ── Você entende isso, não é? Não é só sobre jogar. É sobre... sobreviver.
Melina assentiu, seus olhos fixos nos meus. Era aquele olhar. O mesmo que vi nos corredores do estádio, anos atrás. Ela era diferente. E, droga, eu estava começando a perceber o quanto isso mexia comigo.
── O futebol tem esse poder ── ela finalmente respondeu. ── É a única coisa que nunca vai te abandonar, por mais que o mundo ao redor desmorone.
Havia uma intensidade nas palavras dela, algo além de uma simples análise profissional. Ela realmente entendia. O jeito como falava do futebol me deixava desconcertado. Não era só uma terapeuta falando, era alguém que sabia exatamente o que eu estava dizendo, sem precisar explicar demais. Isso me fazia sentir... visto.
⚽️
Naquela noite, eu teria meu primeiro jogo pelo Corinthians. Um pelo campeonato brasileiro, mas para mim, era como se fosse uma final de Copa do Mundo. Entrei em campo sentindo o peso da torcida e, no fundo da minha mente, sabia que Melina estaria ali em algum lugar, só precisava achá-la.
Durante o jogo, em um lance rápido, enquanto driblava, meus olhos subiram até a arquibancada VIP e lá estava ela. Não vestia a camisa do time, claro, mas seu olhar estava fixo em mim, como se estivesse analisando cada movimento meu. E, por algum motivo, aquilo me deu uma energia estranha, uma adrenalina diferente. Marquei um gol, o estádio explodiu, e meus olhos voltaram para ela, que sorriu sutilmente. Quase imperceptível. Mas eu vi. E queria muito que ela viesse a sorrir assim de novo. Assim para mim. Por um segundo, me perguntei se estava jogando por ela.
Corinthians 1, Atlético-GO 0. Jogo vencido.
Depois da partida, fui encontrar Garro para comemorar um pouco, mas, é claro, Melina estava com ele. Assim que me aproximei, ela desviou os olhos e ficou mexendo no celular, como se estivesse distraída. Mas eu sabia que ela sabia que eu estava lá.
Quis tocá-la, fazê-la olhar para mim e só para mim.
── Grande jogo, Memphis! ── Garro chamou minha atenção e me deu um tapinha nas costas. ── Fez jus ao salário.
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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓
Fanfiction[Concluída] Memphis Depay, o mais novo craque do Corinthians, só queria driblar a pressão e manter a cabeça no lugar. Melina Campos, uma psicóloga brilhante que, nas horas vagas, troca o divã por um vinho apenas tenta viver sem causar muito alarde p...