O telefone tocou três vezes antes que a voz suave e familiar da minha mãe atendesse. Mesmo a milhares de quilômetros de distância, ela tinha essa capacidade de me fazer sentir como se estivesse na mesma sala que eu. Na tela, o rosto dela apareceu, e a luz suave de sua casa na Holanda trouxe uma sensação breve de conforto.
── Memphis ── a voz de Cora era calma, mas cheia de preocupação. Ela sabia que algo estava errado, sempre soube. ── O que está acontecendo, filho?
Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando encontrar as palavras, mas só sentia aquele nó na garganta que parecia crescer toda vez que pensava na última conversa que tive com Melina.
── Eu... terminei com ela, mãe ── confessei, a voz soando mais rouca do que eu queria. ── Eu terminei com a Melina.
O silêncio do outro lado da linha era tão pesado quanto o meu próprio peso de culpa. Minha mãe fechou os olhos por um momento, respirando fundo, e eu soube que ela estava processando aquilo. Eu não precisava explicar tudo, ela sempre compreendia o que eu estava tentando dizer, mesmo quando eu mal sabia o que estava acontecendo dentro de mim.
── Me conta o que aconteceu, filho ── ela finalmente disse, a voz suave, mas firme. ── Quero ouvir tudo.
Soltei um suspiro longo, cansado, e comecei a falar. As palavras fluíram com dificuldade, como se cada uma pesasse uma tonelada.
── Flora voltou, mãe. Ela... apareceu do nada. E você sabe como ela é. Flora me ameaçou, ameaçou a Melina, e eu não sabia o que fazer. Eu fiquei com medo. Medo do que poderia acontecer com a Melina se eu não afastasse ela de mim.
Ela ficou em silêncio, ouvindo com atenção, me dando espaço para continuar.
── Então eu terminei. Eu disse que era melhor assim. Que eu precisava deixá-la ir.
Minha voz tremeu, e eu precisei parar por um segundo para me recompor. Minha mãe me olhava, não com julgamento, mas com aquele olhar que dizia que ela entendia.
── E você realmente acredita nisso, Memphis? ── ela perguntou, a voz suave, mas cheia de força.
── Eu não sei mais, mãe. Eu não sei o que é certo. Eu só sei que eu a amo. E que doeu... doeu tanto deixar ela ir.
Cora suspirou, e por um momento, ela pareceu tão cansada quanto eu.
── Memphis, você passou a vida toda tentando proteger as pessoas que ama, especialmente as mulheres da sua vida. Eu sei o que você está tentando fazer. Sei que você está tentando mantê-la segura. Mas, filho... às vezes, proteger alguém não significa afastá-la. Significa ser honesto. Significa enfrentar o problema juntos. Você acha que está salvando Melina, mas está machucando ela.
Eu fechei os olhos, deixando as palavras dela me atingirem como uma onda. Ela estava certa. Eu sabia que estava.
── O que Flora disse que te deixou tão apavorado assim?
Eu hesitei, sentindo o peso das ameaças de Flora ainda sobre mim.
── Ela disse que destruiria tudo, mãe. Que arruinaria a carreira da Melina, que iria atrás dela... de nós dois. E eu... eu não posso arriscar isso.
Minha mãe balançou a cabeça, com uma expressão triste.
── E você acha que deixando Melina sem explicações, sem a verdade, vai protegê-la? Flora já machucou você uma vez, Memphis. Ela vai continuar te assombrando até você enfrentar isso de frente. E agora, você está deixando ela controlar sua vida de novo. E o pior, está deixando ela tirar Melina de você.
Eu senti um aperto no peito, como se as palavras dela fossem exatamente o que eu precisava ouvir, mas também o que eu mais temia. Ela tinha razão. Flora ainda me controlava, mesmo que indiretamente.
── Eu não sei o que fazer agora. Melina... ela está indo embora, mãe. Para Madrid. Ela aceitou uma proposta do Real. E eu... a perdi.
Minha mãe suspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos grisalhos com uma preocupação visível.
── Você a perdeu porque escolheu deixá-la ir, Memphis. Mas a questão é: você vai continuar deixando o medo e o passado ditarem seu futuro? Você vai continuar permitindo que Flora controle seu destino? Ou vai lutar por Melina, pelo que vocês construíram juntos?
Houve um longo silêncio entre nós, um daqueles momentos em que as palavras parecem pequenas demais para a imensidão dos sentimentos. Eu passei a mão pelo rosto, tentando limpar as lágrimas que ameaçavam cair. Era tão fácil quando se tratava de futebol, tão fácil quando eu estava no campo e tudo dependia apenas de mim e da bola. Mas quando se tratava de Melina... tudo parecia incerto, complicado.
── Eu só... ── minha voz vacilou, quebrando no meio da frase. ── Eu só queria protegê-la, mãe. Queria que ela ficasse bem.
Cora balançou a cabeça, e dessa vez, sua expressão era de ternura, mas também de tristeza.
── E agora? Quem vai te proteger de você mesmo, Memphis?
O silêncio caiu de novo, mas dessa vez, ele parecia diferente. Como se a realidade da minha situação finalmente tivesse se revelado completamente diante de mim.
── Filho, você é forte. Você sempre foi. Mas ser forte também significa admitir quando você precisa de ajuda, quando você precisa lutar por quem ama. E Melina... ela é forte também. Vocês dois merecem mais do que essa separação cheia de medo e mentiras.
Eu senti uma lágrima escorrer pelo rosto e rapidamente a limpei.
── Eu não sei se ela me perdoaria, mãe. Depois de tudo... eu a machuquei tanto.
Minha mãe sorriu suavemente, com aquele jeito carinhoso que sempre tinha desde que eu era criança.
── Só há uma maneira de descobrir, querido. Às vezes, as feridas podem ser curadas, se você tiver coragem de tentar. E eu sei que você tem. Vai atrás dela, Memphis. Lute pelo amor de vocês.
Eu respirei fundo, sentindo o peso de tudo o que minha mãe havia dito. Eu não sabia como consertar tudo, não sabia se era tarde demais. Mas talvez, só talvez, eu ainda tivesse uma chance.
── Obrigado, mãe ── murmurei, a voz baixa, mas sincera.
Ela sorriu de volta, aquele sorriso que sempre me deu força.
── Eu sempre estarei aqui por você, Memphis. Mas agora, você precisa lutar por ela.
olá, besties.
capítulo curtinho. não vou prometer atualizações tão rápidas essa semana, mas assim que der eu vou postando ♥︎
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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓
Fanfiction[Concluída] Memphis Depay, o mais novo craque do Corinthians, só queria driblar a pressão e manter a cabeça no lugar. Melina Campos, uma psicóloga brilhante que, nas horas vagas, troca o divã por um vinho apenas tenta viver sem causar muito alarde p...