A Copa do Mundo de 2022 foi um sonho e um pesadelo. O sonho, claro, porque sempre fui apaixonada por futebol. Estar lá, nos estádios, vendo o jogo acontecer ao vivo e sentindo a vibração de cada gol ── era como se eu finalmente estivesse onde sempre quis. O pesadelo? Bom, trabalhar como assistente nos bastidores em um dos maiores eventos do mundo é... intenso. Mas, naquele caos de gente indo e vindo, houve um momento que nunca esqueci.
Eu estava perdida em um corredor do estádio, tentando entender como me meteram para entregar documentos importantes no meio de uma partida. E aí, entre uma confusão de cores e pessoas, eu o vi. Memphis Depay. Só foi um olhar, nada mais, mas algo nele chamou minha atenção. Ele tinha uma intensidade nos olhos que parecia carregar todo o peso do mundo, ou talvez fosse só a pressão de estar jogando pela Holanda. De qualquer forma, isso ficou guardado em um canto da minha memória. Afinal, como esquecer um olhar daqueles?
E agora, aqui estou eu, de volta ao Brasil, psicóloga oficial do Corinthians. Engraçado como a vida dá essas voltas.
── Você tem cinco minutos pra me dizer que eu não tô louca, Melina. ── A voz de Luma, minha melhor amiga e fisioterapeuta do time, me tirou do devaneio.
── Cinco minutos pra quê? ── perguntei, rindo, enquanto ajeitava algumas pastas na minha mesa. Luma sempre chegava assim, cheia de urgência dramática.
── Pro Memphis Depay! ── Ela disse o nome como se fosse uma bomba. ── Acha que ele é de verdade ou é só uma ilusão coletiva que criamos pra nos distrair das crises existenciais?
Eu soltei uma gargalhada, porque essa era Luma. Sempre com um comentário sarcástico na ponta da língua. Ela sabia que eu tinha esse jeito focado e responsável no trabalho, mas ela era o equilíbrio perfeito, sempre me lembrando que, às vezes, as coisas são absurdas o suficiente para a gente se divertir.
── Ele é real, sim. Eu vi ontem, lá na arena ── respondi, tentando soar indiferente, mas, por dentro, lembrando da vez que nossos olhares se cruzaram no estádio, dois anos atrás.
Luma me olhou com as sobrancelhas arqueadas. ── 'Vi'? Como assim 'vi'? Ele te reconheceu?
── Claro que não. Só foi... uma coincidência ── expliquei, dando de ombros, embora não tivesse certeza disso.
Luma me observou com aqueles olhos de quem sempre desconfia que estou escondendo alguma coisa. Mas antes que ela pudesse perguntar mais, meu celular vibrou com uma mensagem. Era Rodrigo.
Rodrigo Garro, meu meio-irmão argentino. Filhos da mesma mãe, mas países diferentes. Ele cresceu em Buenos Aires, eu, em SP. A gente se via nas férias, e por mais clichê que isso pareça, tínhamos aquela relação de irmãos inseparáveis. Ele sempre fazia piadas sobre como eu era a "irmã brasileira que curava mentes". E eu o chamava de "irmão argentino que destruía defesas". Nosso humor era nossa forma de lidar com a distância, mas no fundo, éramos ligados como poucas pessoas são.
Rodrigo: "Vai dar uma passada na sala de jogos hoje? O clube quer fazer uma integração com o novo astro. Tipo, uma 'descontração', sabe? Leva a Luma, ela vai gostar de ver a nova estrela de perto."
Eu ri ao ler a mensagem. Rodrigo e eu sempre trocávamos provocações, mas havia um carinho genuíno na nossa relação. Éramos, como dizia nossa mãe, "dois lados da mesma moeda", com ele jogando pelo coração e eu cuidando das mentes do time. E, por algum motivo, aquela mensagem me fez lembrar que, em breve, eu estaria frente a frente com Memphis novamente.
── Ele quer que a gente vá na sala de jogos ── falei para Luma. ── Parece que vai ter uma apresentação oficial do Memphis para o time.
── Claro que ele quer! ── Luma disse com um brilho nos olhos. ── Isso vai ser divertido. Aposto que ele vai ser aquele tipo introspectivo, mas com uma intensidade avassaladora. Você tem sorte, Melina. Psicóloga do time mais famoso do Brasil e agora com a chance de analisar a mente de um dos maiores jogadores do mundo.
Eu sorri, mas meu coração já estava acelerado. Intensidade avassaladora não começava a descrever o que eu lembrava daqueles olhos. Mas talvez fosse só minha imaginação.
Mais tarde, quando chegamos à sala de jogos, a atmosfera estava leve. Os jogadores se misturavam, rindo, jogando ping-pong e fliperama. Eu estava conversando com Rodrigo sobre as possibilidades da próxima partida, quando senti algo diferente no ar. Aquele tipo de sensação que faz o tempo desacelerar, sabe?
Olhei em direção à porta. Lá estava ele, Memphis Depay, de costas para mim, conversando com alguns diretores. Mas quando ele se virou, nossos olhares se encontraram. Tudo ao redor pareceu desaparecer por um segundo. A mesma intensidade nos olhos. O mesmo olhar que me pegou de surpresa em 2022. Ele piscou.
E então, Rodrigo, sem perceber o que estava acontecendo, me cutucou de leve.
── Ele vai dar trabalho, hein? ── ele brincou.
── Nem me fale ── murmurei, mais para mim mesma do que para Rodrigo. Porque agora, olhando para Memphis, eu sabia que aquele olhar não era coincidência. E, pela primeira vez, senti que essa história estava apenas começando.
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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓
Fanfiction[Concluída] Memphis Depay, o mais novo craque do Corinthians, só queria driblar a pressão e manter a cabeça no lugar. Melina Campos, uma psicóloga brilhante que, nas horas vagas, troca o divã por um vinho apenas tenta viver sem causar muito alarde p...