Acordar com uma notificação de que Melina me seguiu de volta no Instagram foi... estranho. Não no sentido ruim, mas aquele tipo de estranheza que faz você parar por um segundo e pensar: O que isso significa, exatamente? Eu olhei para a notificação, dei de ombros e joguei o celular no sofá. Eu não era um desses caras que se prendem a redes sociais, mas algo me dizia que o que acontecesse ali poderia ser uma prévia do que viria no mundo real.
A verdade é que, desde que Melina começou as sessões comigo, eu a via em tudo. No campo, no café, nos corredores. E agora, aparentemente, até nas redes sociais. Talvez eu estivesse imaginando coisas. Talvez fosse só minha mente bagunçada projetando mais do que deveria.
Ou só eu sendo mais emocionado do que de costume.
No entanto, era dia de mudança, e eu estava me preparando para me instalar de vez no apartamento. Muito melhor do que eu esperava — moderno, funcional, com uma vista decente de São Paulo. Mas a decoração? Ah, essa parte não era comigo. Na Holanda, minha casa era minimalista a ponto de parecer que ninguém morava lá. Eu não sabia nada sobre decoração. A solução? — ou quem sabe o erro — Chamei Garro, claro. Quem melhor para me ajudar a dar um toque mais "local" ao lugar do que o argentino bom de pitaco?
Mas o que eu não esperava era que ele trouxesse companhia.
── Olha só quem eu trouxe pra te salvar do meu mau gosto! ── Garro entrou no apartamento com aquele sorriso de quem sabe muito mais do que diz. E, logo atrás dele, Melina.
── Oi, Memphis ── ela disse, casualmente, mas o sorriso no rosto dela era quase... irônico?
Ótimo. Porque é claro que, além de ter que lidar com Garro me provocando, agora eu teria Melina andando pelo meu novo espaço, mexendo nas minhas coisas, me fazendo pensar nela mais do que eu gostaria.
── Eu não sabia que precisava de dois consultores ── brinquei, tentando soar o mais despreocupado possível.
── Você precisaria de três, na verdade, mas achei que a Mel poderia dar conta sozinha ── Garro disse, piscando para a irmã, que balançou a cabeça.
Passamos o resto da tarde montando móveis, pendurando quadros e discutindo sobre o quão terrível meu gosto para cores era.
── Memphis, sério, quem escolhe cinza e branco pra tudo? ── Melina perguntou, rindo enquanto me ajudava a montar uma estante.
── Eu gosto de coisas simples ── respondi, dando de ombros. ── Funcionalidade antes de tudo.
Garro não perdeu a chance. ── Funcionalidade? Isso é o que você diz quando não tem a menor ideia do que está fazendo.
Melina riu e, por um momento, nossos olhares se cruzaram. E lá estava de novo, aquela sensação de familiaridade, como se já nos conhecêssemos há muito mais tempo. Eu rapidamente desviei o olhar, focando na estante que, aliás, estava uma bagunça. Claro, porque minha mente estava em outro lugar.
Garro, como sempre, percebeu.
── Cuidado, hermanita. O Memphis tá começando a parecer mais interessado no arquiteto do que no futebol ── ele disse, jogando uma almofada em minha direção.
── Ah, claro, Garro ── retruquei, pegando a almofada no ar. ── Se precisar de conselhos sobre interiores, já sei quem chamar.
A tarde continuou com mais provocações e risadas. No final, o apartamento estava com uma cara bem melhor — graças a eles, claro. Eu nunca admitiria, mas aquela bagunça toda foi divertida. E, de certa forma, me fez sentir um pouco mais... em casa.
Na portaria, nos despedimos. Garro fez questão de me dar um abraço exagerado antes de sair com Melina.
Enquanto eles se afastavam, percebi que eu estava, pela primeira vez, ansioso pela próxima sessão. Algo em Melina fazia com que tudo parecesse mais fácil. Ela entendia futebol, entendia a pressão. Talvez, só talvez, essa fosse uma daquelas pessoas que realmente sabem o que você está passando.
E que dificilmente você esquece.
No dia seguinte, cheguei ao clube e, depois do treino, fui para a sala dela. Melina parecia mais à vontade, como se o que aconteceu no dia anterior tivesse criado uma dinâmica diferente entre nós.
── Como está se sentindo hoje? ── ela começou, sempre profissional, mas com aquele toque de casualidade.
── Melhor ── eu disse, sincero. ── Acho que a mudança me ajudou a me sentir mais em casa. E... bom, saber que você entende de futebol ajuda também.
Ela sorriu. ── Bom, acho que minha paixão por futebol não é segredo, né?
Eu ri. ── Não, definitivamente não. Mas é diferente falar sobre isso com alguém que sabe o que é estar no meio disso tudo. A maioria dos psicólogos que já conheci... não entendia a dinâmica de um vestiário.
Ela assentiu. ── É uma cultura própria, eu sei. E você vai ver que, com o tempo, o Corinthians vai se tornar sua família. Eles sabem acolher, mesmo com toda a pressão.
A sessão continuou fluindo de forma leve. Eu ainda não estava pronto para abrir tudo, mas sentia que cada conversa nos levava mais perto disso. Melina era paciente, e isso me dava confiança.
Quando a sessão terminou, descemos juntos até o estacionamento novamente. Garro já estava esperando, e, claro, não perdeu a oportunidade de provocar.
── Olha só, Melina e Memphis, de novo juntos. Será que isso é profissional mesmo, hein? ── ele disse, piscando pra mim.
── Muito profissional, Garro. Ao contrário de você ── respondi, rindo.
Eles entraram no carro, e eu voltei para meu apartamento. Quando me joguei no sofá, peguei o celular e, sem pensar muito, abri o Instagram. Lá estava ela, nos stories, em uma foto com Rodrigo. Os dois rindo, abraçados, como sempre. A legenda dizia: "Insuportável.".
Eu sorri, sentindo uma leveza estranha. Talvez, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse em um lugar onde poderia, de fato, me abrir.
gente, vocês estão gostando? estou achando tão sem sal
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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓
Fanfiction[Concluída] Memphis Depay, o mais novo craque do Corinthians, só queria driblar a pressão e manter a cabeça no lugar. Melina Campos, uma psicóloga brilhante que, nas horas vagas, troca o divã por um vinho apenas tenta viver sem causar muito alarde p...