[15] p u l s e i r a s

476 33 20
                                    

Eu não tinha a intenção de ouvir

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu não tinha a intenção de ouvir. Quer dizer, eu estava no banheiro, a porta entreaberta por causa do vapor e, honestamente, achei que ela estivesse só mexendo no celular. Mas então ouvi a sua voz, animada, falando em espanhol. Reconheci o tom leve que ela só usava com poucas pessoas, e logo entendi que era sua mãe do outro lado da linha.

Eu não sou o tipo que fica prestando atenção nas conversas alheias, mas... quando o nome Memphis Depay surgiu do nada no meio da conversa, meu instinto fez com que eu prestasse mais atenção do que deveria.

Encostei-me à pia, ainda com a toalha em volta da cintura, tentando manter o foco no que estava sendo dito, sem ser invasivo. A voz de Melina estava mais baixa agora, talvez por ela perceber que eu poderia escutar.

── Hoje, aconteceu uma coisa. A gente foi ver o jogo da seleção brasileira, e uma amiga dele estava lá... ── Amiga, ela disse. Senti meu estômago revirar um pouco. E aí veio o complemento: ── Sabe aquelas ex-chefes... particulares?

Ah, então era isso. Eu ouvi a risadinha da mãe dela do outro lado, e a resposta não veio como um choque. Ciúmes. Melina estava com ciúmes da Paula. E, por mais que eu quisesse achar graça naquela situação, a verdade era que aquilo me deixou pensando. Porque, se ela estava com ciúmes, quer dizer que... o que temos, por mais não assumido que seja, talvez tenha mais profundidade do que ela deixa transparecer.

Continuei parado ali, ouvindo de longe, enquanto Melina desabafava. Eu podia praticamente visualizar a expressão dela, frustrada por sentir algo que não queria admitir. E, no fundo, isso me deixou com um certo... alívio? Saber que ela se importava, que estava tão mexida quanto eu.

A conversa foi acabando e, antes que ela pudesse perceber que eu estava escutando, voltei a focar, começando a me secar e colocar uma roupa leve. Não falei nada, não poderia. Não era o momento, e talvez não fosse certo eu ter ouvido. Mas uma coisa era certa: aquilo ficaria comigo.

Saí do banheiro alguns minutos depois, a toalha ainda no ombro, como se nada tivesse acontecido. Melina estava deitada na cama, o celular ainda em mãos, mas parecia relaxada. E então, após algumas falas comigo, ela pegou suas coisas e seguiu para o banheiro.

A porta se fechou atrás dela e, finalmente, fiquei sozinho com meus pensamentos.

Ela estava com ciúmes.

Não conseguia parar de pensar nisso. Era sutil, mas estava ali. Um sentimento que ela lutava para esconder, mas que havia escapado por entre as palavras, diretamente para sua mãe. E eu me perguntava o quanto mais ela estava escondendo de mim. Desde que nos reaproximamos, as provocações sempre foram uma constante entre nós. A tensão era quase um jogo, um equilíbrio que mantínhamos para não deixar a coisa toda desandar. Mas ouvir aquilo... me fez perceber que havia muito mais em jogo.

Sentei-me na cama, o som do chuveiro correndo no fundo, e me vi questionando o que deveria fazer. Melina nunca foi de admitir o que sentia, sempre mantendo uma barreira entre o que ela permitia que eu visse e o que realmente passava por sua cabeça. E agora eu sabia de algo que ela provavelmente jamais teria me contado.

𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora