Eu estava sentado na cama, a toalha ainda enrolada na cintura, os músculos cansados do treino e da sequência de jogos. O silêncio do quarto era cortado apenas pelo som baixo da TV ligada em algum canal de esportes, mas minha mente estava a mil. O Corinthians seguia firme, jogo após jogo, e, em campo, eu era tudo o que esperavam de mim. A torcida vibrava a cada gol, cada passe preciso, e no vestiário, os companheiros sempre me davam tapinhas nas costas, sorrisos de aprovação.
Mas a verdade é que, quando o apito final soava e o barulho do estádio ficava para trás, era o silêncio que me encontrava. A rotina pesada dos jogos, os treinos... tudo servia para ocupar minha mente, para me distrair do que realmente me assombrava. Só que, à noite, quando as luzes se apagavam e eu me via sozinho no meu quarto, era como se todas as distrações desaparecessem.
Foi então que meus olhos pararam em uma peça de roupa, jogada em uma das cadeiras do quarto. Uma blusa. Não era minha. O tecido fino, com uma cor suave que eu reconheceria de longe. A blusa de Melina.
Meu peito apertou de imediato, como se o ar tivesse sumido por um segundo. Eu não me lembrava de ter visto aquela blusa ali nos últimos dias, mas agora, ali estava ela, me encarando como um lembrete de algo que eu vinha tentando enterrar.
Sem pensar, me levantei e fui até ela. Peguei a blusa nas mãos, sentindo o tecido entre os dedos, e, por um instante, tudo voltou à minha mente com uma nitidez dolorosa.
Lembro-me de como ela foi parar aqui.
Foi depois de um daqueles jogos intensos. O tipo de partida que deixava o corpo em êxtase e a adrenalina à flor da pele. Tínhamos vencido, e o Corinthians parecia imbatível naquele momento. Depois do jogo, Melina e eu saímos para comemorar. Não em bares ou restaurantes badalados, mas no meu apartamento. Apenas nós dois. Algo mais íntimo, mais pessoal.
Ela chegou no fim da noite, e eu ainda estava no ápice da energia. Ela entrou como sempre, com aquele jeito casual e despretensioso, e nós começamos a conversar. A conversa fluía entre risadas e provocações, o tipo de coisa que só ela sabia fazer tão bem. Ainda consigo ouvir a risada dela em minha mente, como se ela estivesse aqui, agora.
Mas naquela noite, algo estava diferente. A tensão entre nós parecia ter ganhado uma nova camada, algo mais profundo. Depois de algumas taças de vinho, as palavras começaram a diminuir, e os silêncios entre as frases se alongaram.
Ela estava no sofá, falando algo sobre o jogo, e de repente, eu não conseguia mais focar no que ela estava dizendo. Não era sobre as palavras. Era sobre a maneira como ela estava ali, tão próxima.
Eu me aproximei. Devagar. Nossas pernas se tocaram levemente, e ela olhou para mim de um jeito diferente, como se soubesse exatamente o que estava por vir, mas ainda assim quisesse ver onde isso nos levaria.
Meu coração estava acelerado, mas eu tentei manter o controle. Eu me inclinei um pouco, e nossas respirações ficaram mais próximas.
── Você sempre tem essa habilidade de me deixar sem palavras ── murmurei, tentando quebrar a tensão com uma piada.
Ela riu, mas o som foi mais baixo do que de costume, quase nervoso. Foi quando nossas mãos se encontraram, como se fosse a coisa mais natural do mundo, mas o toque foi carregado de uma eletricidade nova, algo que não estava lá antes.
A proximidade aumentou. Me inclinei mais, e então nossas bocas se encontraram pela primeira vez naquela noite. O beijo foi suave no início, como se estivéssemos testando as águas, mas rapidamente se tornou mais intenso. Havia algo entre nós que sempre estava latente, sempre pronto para explodir, e naquela noite... explodiu.
O beijo se intensificou rapidamente, e antes que eu pudesse racionalizar, nós já estávamos afundados no sofá, como se o tempo lá fora tivesse parado. O calor entre nós aumentava a cada segundo, a respiração dela era ofegante, assim como a minha. Suas mãos subiram pelos meus braços, um toque suave, mas que fazia minha pele arrepiar.
Ela se afastou por um segundo, os olhos brilhando, e mordeu o lábio.
── Eu... ── ela começou a dizer, mas eu não a deixei terminar. Puxei-a de volta para mim, beijando-a mais uma vez, desta vez mais profundo, mais urgente.
Aquela noite não era sobre palavras.
Meus dedos passearam pela barra da blusa dela, aquele tecido fino que agora reconhecia tão bem. Eu a puxei suavemente, e ela deixou escapar um suspiro, respondendo com a mesma intensidade.
── Depay... ── ela murmurou contra meus lábios, meio sem fôlego. Não era uma palavra cheia de dúvidas ou hesitação, era um chamado, uma rendição mútua.
Eu a levantei do sofá, pegando-a no colo, e sem dizer nada, a levei até o meu quarto. Passamos pela porta e, antes que eu pudesse colocá-la na cama, ela puxou minha camisa para cima, jogando-a de lado com um riso quase cúmplice. O jeito como ela olhava para mim naquela hora... era como se não houvesse nada além daquele instante.
Mas, enquanto tudo acontecia tão rápido, tão naturalmente, houve um momento. Um breve segundo onde o mundo ao nosso redor desacelerou. Estávamos próximos, deitados na cama, os lençóis amassados ao redor. Eu a observava enquanto ela ria, deitada de costas, com a cabeça virada de lado, ainda ofegante, e, sem pensar, eu peguei a blusa dela, que estava ao alcance da mão.
── Acho que você vai esquecer isso aqui ── eu disse, brincando enquanto segurava a peça.
Ela riu, os olhos brilhando de uma maneira que eu nunca conseguiria esquecer.
── Pode ficar como lembrança ── ela respondeu, sem hesitar.
Foi um daqueles momentos que pareciam simples na hora, mas que, ao reviver na memória, adquiriram um significado maior. Ela estava brincando, claro, mas a ideia de "ficar como lembrança" pareceu carregar mais do que apenas as palavras ditas.
E agora, enquanto eu estava ali, parado no meu quarto, com a blusa de Melina nas mãos, percebia o quanto aquele pedaço de tecido era mais do que apenas uma peça esquecida. Era uma memória física de um momento que não conseguimos evitar.
Afundei no colchão, a blusa ainda nos dedos, e uma onda de frustração e saudade me atingiu em cheio. Como fomos de algo tão intenso a esse vazio que agora tomava conta do quarto? Como deixei isso escapar?
Os pensamentos de Melina voltaram com força. Sua risada, seu jeito despreocupado... a maneira como ela se encaixava na minha vida sem esforço. Ela havia ido, e agora estava em Madrid, seguindo sua vida, enquanto eu ficava aqui com essas memórias que pareciam me sufocar.
Me joguei para trás na cama, soltando um longo suspiro. A blusa de Melina, ainda no meu peito, era como uma âncora que me prendia ao passado, ao que não dissemos e ao que não conseguimos resolver. Fechei os olhos, e por um breve momento, imaginei o que ela estaria fazendo agora. Talvez também estivesse pensando em mim... ou talvez já tivesse me esquecido completamente.
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𝘫𝘰𝘨𝘢𝘥𝘢𝘴 𝘥𝘰 𝘢𝘤𝘢𝘴𝘰, 𝐌𝐄𝐌𝐏𝐇𝐈𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐀𝐘 ✓
Fanfiction[Concluída] Memphis Depay, o mais novo craque do Corinthians, só queria driblar a pressão e manter a cabeça no lugar. Melina Campos, uma psicóloga brilhante que, nas horas vagas, troca o divã por um vinho apenas tenta viver sem causar muito alarde p...