Um Gangster em Minha Vida

~95~

Quando a porta do carro bateu, o silêncio que se apossou no interior do automóvel foi avassalador. Meus ouvidos zumbiram enquanto lutava para não pensar demais. Não pensar em Marlon. Não pensar em Maison. E agora tinha que me concentrar em outro problema. Giovanni Maranzano.

Pisquei meio fora de mim, quando ele afundou no banco do carro, olhando para o relógio de ouro no pulso. Sua mão livre alisou os cabelos penteados para atrás. Seus olhos caíram em mim, me analisando de forma descarada.

Quando o motorista deu partida, nós tirando da porta do hotel, prendi o ar com todas minhas forças, para as lágrimas que queriam cair, não tivessem oportunidade de o fazer, mas foi inevitável para a tremura que se instalou em meu queixo.

— Você entende que fez algo ruim, não é? — Giovanni soprou, tirando um fiapo do suéter azul. Seus olhos voltaram para mim. — Quer um conselho? É melhor não ser quem pensa que é, e não deixar escapar as palavras que acha que pode soltar.

— Fiz algo ruim? Livrei a família de um inimigo, e os capangas deles mataram o Marlon. Se eu me arrependo de meter chumbo na bunda daquele Hampton desgraçado? Não! Nem um pouco! E se os Maranzano eram tão poderosos que poderiam ter evitado isso, mas não fizeram nada... Então vocês não passam de um pé no saco com um puta senso de superioridade imortal.

— Sabe Hallie querida, eu ouvi sobre você. Ouvi muito a seu respeito. E não me importava se uma garota bonita das favelas de algum lugar se casou com um Crawford. Parabéns! Você ganhou um prêmio enorme ao conquistar o coração de Ares Crawford! E ganhou mais ainda ao conquistar a afeição do Grande Marlon Crawford! Mas se estiver tentando algum tipo de suicídio, é bom que você me avise, porque aí, eu paro de tentar te ajudar a se livrar da situação que se meteu.

Os olhos claros de Giovanni brilharam algum tipo de sarcasmo irritante. Minhas narinas dilataram, e seus olhos escureceram, e seu olhar a me encarar veio por baixo dos cílios. Meus músculos tremeram, e eu não soube o que era aquilo.

— Mas... Se falar isso na frente do meu avô. — Giovanni ergueu as mãos, deixando claro que a situação estaria fora de seu controle. — Com certeza não só você, como cada Crawford, até mesmo os que não nasceram, vão pagar por suas palavras descuidadas.

Estagnei. Sentindo sangue em minhas veias gelar dentro de meu corpo como se o inverno lá fora finalmente tivesse alcançado o interior do carro e me congelado viva. Ele sabia de Alyce, e como havia descoberto me deixou desnorteada. Um sorrisinho confiante cruzou seus lábios, o anel dourado em seu dedo mindinho cintilou diante dos meus olhos quando com o mesmo dedo ele ajeitou a própria sobrancelha. O M dentro do circulo dourado me fez engolir em seco. Isso não era mais sobre minhas próprias consequências. Envolvia toda a família. Toda mesmo. Não apenas Ares, Kalel, Emma, e Alyce. Podia sentir cada músculo de meu corpo ficar rígido contra o banco do carro.

Giovanni me olhou de soslaio, ainda daquele jeito meio sinistro como se eu tivesse o irritado com um insulto a família.

— Quando vovô me contou sobre você na nossa família, eu pensei que seu lema seria " Ainda que eu ande pelo vale da morte, não temerei mal algum..." Mas acho que errei. Você parece com medo.

Mesmo que eu quisesse o retrucar, tinha ficado muda. E se tentasse falar algo, provavelmente falharia ao descobrir que estava rouca, ou acuada demais para parecer corajosa. Giovanni se remexeu no banco, deixando seu corpo pousar bem próximo a mim para sussurrar em meu ouvido.

— Mas eu admiro quem teve coragem de acertar um sapato na cara dele. — uma risadinha escapou de sua boca, e Giovanni escondeu o sorriso atrás da mão. — E ainda disse que ia o matar. Quando eu assumir, o que parece que não demorará, já que o velho já está... bem velho. — ele ponderou, maneando a cabeça e um arquear de sobrancelha — Vou limpar sua barra.