~4~

6.1K 368 34
                                    

Ares

    Sentado sobre o colchonete, com minhas pernas dobradas e meus braços cruzandos frente ao peitoral, ainda mantendo minha pistola firme em minha mão, arqueio a sobrancelha ao ouvir passos no corredor. A porta começou a ser destrancada e abriu, apontei abruptamente minha arma e ela gritou baixinho de susto, abraçando um pacote contra o peito.

   A vi estremecer enquanto abaixava minha arma lentamente desconfiado, rolei meus olhos para atrás dela, quando a mesma entrou dentro do minúsculo apartamento, fechando a porta com as costas.

— Céus! Se você não me matar atirando em mim uma hora dessas, com certeza eu vou morrer do coração... _ apertou os olhos e a olhei baixo a cima antes de olhar para qualquer lugar.

— Não vou abaixar minha guarda! _ murmurei baixo voltando a me sentar sobre o colchonete, e cruzei devagar meus braços antes de fechar meus olhos. Ela se moveu pelo cômodo, e mesmo com minhas pálpebras fechadas, a acompanhei. Ouvi o barulho do embrulho que ela trouxe consigo, e de repente o cheiro de café  preencheu todo o cômodo.

    Abri uma brecha de meus olhos, a observando ligar o fogão e colocar água para ferver. Ela passou o conteúdo escuro para um pote de vidro e tombei a cabeça curioso. Café torrado?

Ela retirou o casaco, o deixando espendurado, e caminhou em direção a janela, abrindo as cortinas com um único puxão.

— O que você está fazendo?_ praguejei, abaixado, me curvando para engatinhar até a cortina e a puxar.

— Desculpe senhor bandido, mas vai ter que ficar escondido ai no chão por um tempo. _ ela susssurrou entre os dentes enquanto se curvava no batente da janela, olhando para fora sem preocupações.

   Uma brisa um pouco fria entrou pela janela, farfalhando seus cabelos enquanto ela sorria largamente e acenava para alguém.

   Meu coração ficou acelerado. Essa cretina provavelmente estava dando um sinal para alguém entrar e disparar no meu peito. Ela se moveu, saindo da janela e voltando para a cozinha.

— Você tinha razão..._ ela comentou baixinho e me olhou de soslaio. _ Tem gente estranha la fora procurando por você. Se eu começar a agir diferente, a vizinhança vai começar a comentar entre si e logo vão desconfiar que estou aprontando alguma coisa.

    A encarei estóico enquanto ela preparava duas canecas sobre o balcão. Foi até a geladeira, abrindo a porta e tirando um instante para prender seus cabelos em um coque frouxo e vasculhar o interior do eletrodoméstico.

   O silêncio permaneceu enquanto ela ajustava tudo para um café da manhã no chão, bem diante do meu colchonete. Ela se aproxima, sentando de um jeito desengonçado e estica uma caneca para mim, aspiro forte o cheiro do café antes de pegar o objeto.

— Só não é expresso, mas é extra forte...como você gosta. _ ela susssurrou e ergui abruptamente meus olhos para ela.

   A imagem do uniforme laranja e o avental branco, o cabelo preso e a vidraça pela metade me veio a mente. Era ela...a moça da cafeteria que sabia exatamente o que eu queria. E enquanto eu estava morto de cansaço, olhando para a vidraça pela metade, ela não me incomodava com conversas fúteis. E eu era grato por isso, porque não tinha as mínimas forças para elaborar uma resposta convincente sobre com o que  trabalhava, e de onde eu era.

— Eu sabia que te conhecia de algum lugar..._ Sussurrei abaixando meus olhos para o líquido escuro emanando calor.

Sua mão foi estendida em minha direção, enquanto seus olhos castanhos claros estavam fixos nos meus.

Um Gangster em Minha Vida Onde histórias criam vida. Descubra agora