Ecos Caóticos

Quarenta

Felix despertou lentamente, os olhos ainda pesados de sono. O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave do ar-condicionado. Ele esticou o braço ao lado da cama, esperando encontrar o corpo quente de Hyunjin, mas tudo o que seus dedos tocaram foi o lençol frio e vazio. O pânico começou a crescer dentro dele, seu coração disparando de imediato.

Ele se levantou bruscamente, os olhos percorrendo o quarto, mas Hyunjin não estava em lugar algum. O medo tomou conta, e Felix se levantou, quase tropeçando ao sair da cama.

— Amor? — Ele chamou, sua voz soando desesperada.

Não houve resposta. O nó em sua garganta começou a apertar, e as lágrimas ameaçaram cair. Ele correu para a porta do banheiro, mas estava vazia. O silêncio do quarto parecia zombar dele. Ele se foi. Eles o pegaram. Ele foi embora de novo. Os pensamentos catastróficos invadiram sua mente, e ele sentiu o pânico subir à superfície.

— Hyunjin! — Ele gritou, agora a voz mais alta e carregada de desespero, prestes a ceder ao choro.

Antes que ele pudesse pensar no pior, a porta do quarto se abriu com um clique suave. Hyunjin entrou calmamente, empurrando um carrinho de café da manhã cheio de pães, frutas, e uma jarra de café fumegante. Ao ver o rosto pálido e a expressão aterrorizada de Felix, Hyunjin largou o carrinho na mesma hora e correu até ele.

— Amor! O que foi? — Hyunjin perguntou, os braços imediatamente envolvendo Felix, sua voz cheia de preocupação.

Felix suspirou aliviado, mas o alívio veio acompanhado de um choro descontrolado. Ele se agarrou a Hyunjin com força, soluçando alto, o rosto pressionado contra o peito dele.

— Eu... eu pensei que você... — Felix começou, mas as palavras se misturavam com os soluços. — Pensei que você tivesse ido... que eles tivessem te levado de novo...

Hyunjin o apertou ainda mais contra si, a mão acariciando os cabelos de Felix com ternura.

— Eu estou aqui, Felix. Não fui a lugar nenhum. Eu só fui buscar o café da manhã — Hyunjin disse suavemente, tentando acalmá-lo. — Não vou te deixar, nunca mais. Estou aqui, ok?

Felix chorava sem parar, o corpo tremendo nos braços de Hyunjin. O medo irracional de perder Hyunjin outra vez o dominava completamente, mesmo com o amado ali, ao seu lado. Ele mal conseguia respirar, sentindo-se sufocado pela onda de pânico que tinha o invadido.

— Eu não posso... eu não posso perder você de novo, Hyunjin. Não posso... — Felix sussurrava, a voz falhando entre os soluços.

— E você não vai — Hyunjin garantiu, a voz firme e tranquilizadora. Ele afastou o rosto de Felix suavemente, segurando seu queixo para que pudesse olhar em seus olhos. — Olha pra mim. Eu estou aqui. Eu voltei pra você, e não vou a lugar nenhum.

Felix assentiu levemente, seus olhos ainda cheios de lágrimas. Ele respirou fundo, tentando se acalmar, mas o aperto no peito ainda era forte. Hyunjin enxugou as lágrimas de suas bochechas com os polegares, um sorriso pequeno mas tranquilizador nos lábios.

— Você é a coisa mais importante pra mim, Felix. E eu prometo, eu vou fazer de tudo pra que nada nos separe de novo — Hyunjin sussurrou, seu tom carregado de seriedade.

Felix inspirou profundamente, finalmente sentindo o coração desacelerar um pouco. Ele se agarrou a Hyunjin mais uma vez, o rosto enterrado no pescoço dele, inalando o cheiro familiar que tanto amava.

— Eu te amo tanto — Felix murmurou, a voz abafada contra a pele de Hyunjin.

Hyunjin beijou o topo da cabeça de Felix, apertando-o nos braços com carinho.

— Eu também te amo, amor. Mais do que você pode imaginar.

Depois de alguns minutos, o choro de Felix finalmente foi diminuindo, substituído por suspiros longos e pesados. Ele se sentia exausto, emocionalmente esgotado, mas também aliviado por ter Hyunjin ali, tão próximo, tão real.

— Vamos comer alguma coisa? — Hyunjin sugeriu suavemente, gesticulando para o carrinho de café da manhã. — Você precisa se alimentar. Tem um monte de coisa boa ali.

Felix assentiu lentamente, permitindo que Hyunjin o levasse até a mesa. Embora o medo ainda estivesse presente, ele sabia que, por enquanto, Hyunjin estava com ele, e isso bastava para acalmar seu coração.

...

Felix comia lentamente, cada pedaço de bolo parecendo mais difícil de engolir do que o anterior. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, marcas evidentes do choro recente. Ele ainda estava abalado, as emoções correndo soltas dentro dele, mas ao mesmo tempo havia uma espécie de conforto silencioso na presença de Hyunjin.

Hyunjin, sentado à sua frente, o observava com um sorriso suave. Ele mal conseguia acreditar que estava ali, de volta ao lado de Felix. Enquanto o via comer, Hyunjin se lembrava de todos os pequenos detalhes que tanto amava nele. As sardas marrons que decoravam o rosto delicado de Felix, os lábios carnudos e em formato de coração que ele amava beijar, as mãos pequenas e tão delicadas, que agora seguravam o garfo com uma leve hesitação.

Felix, por sua vez, mantinha um leve biquinho nos lábios enquanto comia, algo que Hyunjin reconhecia imediatamente. Ele sabia que, quando Felix fazia aquele biquinho, estava manhoso. Hyunjin sorriu mais largamente, seus olhos cheios de ternura.

— Você está manhoso — Hyunjin comentou suavemente, o sorriso brincando em seus lábios enquanto observava Felix.

Felix ergueu os olhos devagar, seus cílios ainda úmidos e pesados.

— Não estou... — ele murmurou, sem muita convicção, dando mais uma mordida no bolo.

Hyunjin soltou uma risadinha suave, recostando-se na cadeira, os olhos brilhando de carinho.

— Ah, está sim. Eu te conheço, Felix. Quando você faz esse biquinho, é porque quer atenção — ele provocou, sua voz cheia de doçura.

Felix revirou os olhos levemente, mas não pôde evitar o sorriso tímido que se formou em seus lábios.

— Talvez eu esteja... — Felix admitiu em um sussurro. Ele colocou o garfo sobre o prato, sua voz mais suave. — Eu só... Eu só preciso de você perto, Hyunjin.

Hyunjin se levantou da cadeira e caminhou até ele, puxando uma cadeira ao lado de Felix. Ele se sentou e passou o braço pelos ombros de Felix, trazendo-o para perto. Felix, sem hesitar, se encostou em Hyunjin, deixando-se envolver pelo abraço familiar.

— Eu estou aqui — Hyunjin murmurou, sua voz baixa e confortante.

Felix suspirou, relaxando um pouco nos braços de Hyunjin. O conforto daquele abraço, o calor do corpo dele, fazia suas preocupações parecerem distantes, pelo menos por um momento. Ele fechou os olhos por um breve segundo, sentindo o cheiro reconfortante de Hyunjin, aquele cheiro que ele nunca esqueceu, nem mesmo nos momentos de maior desespero.

— Eu estava tão perdido sem você... — Felix sussurrou, a voz quebrada pela emoção. — Não sabia o que fazer, como continuar. Pensei que nunca mais te veria, que você... que você estivesse morto.

Hyunjin apertou Felix um pouco mais forte, o peito dele subindo e descendo de maneira controlada, mas por dentro ele também sentia o peso de tudo o que haviam passado. Ele sabia o quanto Felix havia sofrido, e só de pensar nisso, seu coração se apertava.

— Eu também pensei em você todos os dias durante esses três anos, Felix — Hyunjin disse baixinho, seu tom sincero. — Nunca passei um dia sem pensar em voltar, sem pensar em como te proteger. E agora, eu estou aqui, e não vou deixar nada acontecer com você. Eu prometo.

Felix o abraçou mais forte, seu coração aliviado, mas ainda carregado de incertezas.