Ecos Caóticos

Sessenta e oito

Felix estava sentado na poltrona ao lado de Hyunjin, as pernas dobradas e o corpo encolhido. Ele havia passado as últimas duas semanas ali, vigiando o marido, que o cansaço finalmente o alcançara, fazendo-o adormecer.

Mas, naquela tarde, enquanto ele dormia, um pesadelo invadiu sua mente. Ele sonhou que Hyunjin nunca mais acordava, que aquela calmaria constante dos aparelhos era tudo o que restaria. A imagem foi tão nítida e devastadora que Felix acordou com um salto, suando frio e com o coração acelerado.

Ele levou uma mão ao peito, tentando se acalmar, respirando fundo para afastar o medo. No entanto, estava tão perdido em sua recuperação que não percebeu que alguém o observava. Aos poucos, sentiu um olhar fixo e quente sobre ele. Felix ergueu os olhos e seu coração quase parou — Hyunjin estava acordado, os olhos escuros brilhando com um misto de carinho e admiração.

A princípio, Felix achou que ainda estava sonhando. Ele piscou algumas vezes, com medo de que aquilo fosse uma ilusão. Mas o sorriso suave que se formava nos lábios de Hyunjin era inconfundível.

— Hyunjin…? — Felix murmurou, a voz embargada pela emoção. Ele se inclinou para a frente, quase com medo de se aproximar rápido demais e quebrar o momento.

Hyunjin tentou responder, mas sua voz saiu rouca e fraca. Mesmo assim, ele conseguiu sussurrar:

— Hey, meu amor.

Felix soltou um suspiro trêmulo e sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto. Ele se levantou da poltrona e se aproximou da cama, pegando a mão de Hyunjin e a apertando como se não quisesse nunca mais soltar.

— Você voltou pra mim — sussurrou, mal contendo o choro. — Eu estava tão… tão preocupado… eu pensei que…

Hyunjin olhou para ele, o amor e a tranquilidade refletidos em seu olhar.

— Eu nunca iria te deixar, Lixie. — Ele sorriu, o apelido saindo com carinho. — Eu sabia que você estava aqui… E isso me trouxe de volta.

Felix riu baixinho entre as lágrimas, a mão tremendo enquanto acariciava o rosto de Hyunjin. Ele se inclinou, dando-lhe um beijo suave na testa, sentindo o calor familiar de seu marido.

— Eu… eu esperei tanto tempo para ouvir sua voz, Hyunjin. — Felix fez uma pausa, olhando para o rosto dele. — Achei que nunca mais…

Hyunjin ergueu a mão lentamente, apesar da fraqueza, e tocou o rosto de Felix, limpando uma lágrima solitária que descia.

— Ei… eu estou aqui, e você está aqui. Vamos nos concentrar nisso agora, tá? — Hyunjin falou, o tom suave e caloroso, como sempre fora com Felix.

Felix assentiu, sorrindo por entre as lágrimas, e deu outro beijo na mão de Hyunjin.

— Vou cuidar de você, não vou te deixar sozinho nem por um segundo. Você vai ver… vamos ser felizes juntos.

Hyunjin fechou os olhos por um momento, apenas sentindo o toque de Felix, e então sussurrou:

— Não sei o que fiz para merecer você ao meu lado… mas sou o homem mais sortudo do mundo.

Felix sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de determinação.

— Nós merecemos um ao outro. Você lutou para voltar… e agora, é a minha vez de cuidar de você.

Enquanto eles trocavam olhares, um silêncio confortável e cheio de amor se instalou entre eles. Felix se acomodou ao lado da cama, determinado a nunca mais deixar Hyunjin sair de sua vista, com a esperança e o amor renovados em cada batida de seu coração.

...

Felix estava totalmente dedicado a cuidar de Hyunjin, como se todo o resto do mundo tivesse deixado de existir. Ele trouxe um sanduíche para o marido e o ajudou a comer, segurando cada pedaço para que Hyunjin não fizesse esforço. Hyunjin, com um sorriso cansado mas cheio de gratidão, aceitou cada pedaço, sem tirar os olhos de Felix.

— Sabe, eu posso comer sozinho — ele brincou, embora fosse evidente o quanto apreciava o carinho.

— Shhh, deixa eu cuidar de você — Felix respondeu, sorrindo de volta. — Além disso, eu tô gostando disso. É a minha vez de cuidar do meu “grande e forte” Hyunjin, afinal. — Ele fez aspas com os dedos, rindo, tentando aliviar o peso que ainda pairava sobre eles.

Depois de ajudar Hyunjin a se alimentar, Felix o acompanhou até o banheiro, mantendo-se sempre ao lado dele e garantindo que estivesse seguro. Hyunjin estava mais fraco, ainda se recuperando das cirurgias e da perda de sangue, mas tentava mostrar força, mesmo sabendo que não precisava disso na frente de Felix. Quando voltaram para o quarto, Hyunjin apontou para a cama e olhou para Felix com um pedido no olhar.

— Fica aqui comigo? — ele pediu, em um tom suave e cheio de carinho. — Essa cama é grande o suficiente… e, além disso, preciso de você por perto, bem perto.

Felix não precisou ouvir duas vezes. Ele deitou-se ao lado de Hyunjin, encaixando-se cuidadosamente para não pressionar a cicatriz ainda recente no peito dele. Com uma mão suave, ele traçou os contornos da cicatriz, sentindo o relevo da pele machucada. Felix engoliu seco, as lembranças do que Hyunjin tinha passado ainda frescas em sua mente.

— Sinto muito por isso… — Felix murmurou, o olhar triste. — Eu queria ter te protegido de tudo, queria que você não tivesse passado por nada disso.

Hyunjin segurou a mão dele, levando-a até os lábios e beijando cada um dos dedos de Felix com carinho.

— Ei, não pensa assim. Estou vivo graças a você. — Ele olhou fundo nos olhos de Felix, sua expressão genuína. — Você é minha razão para lutar. E, olha… — ele tocou a cicatriz em seu peito com a outra mão — isso aqui só prova que eu sou um guerreiro que vai fazer de tudo para ficar com você.

Felix não conseguiu evitar o sorriso que surgiu, misturado com as lágrimas que brilhavam em seus olhos. Ele suspirou, deitando a cabeça no peito de Hyunjin, ouvindo as batidas de seu coração, fortes e constantes.

— Eu amo você. Mais do que eu pensei que fosse possível amar alguém.

Hyunjin passou os dedos pelos cabelos de Felix, afagando-o com delicadeza.

— E eu amo você. Eu sou o homem mais sortudo do mundo por ter você. — Ele fez uma pausa, beijando o topo da cabeça de Felix. — Agora, só vamos focar em ficarmos bem… em sermos felizes.

Felix assentiu, um sorriso tranquilo nos lábios. Ele permaneceu deitado ao lado de Hyunjin, deixando que o calor e a presença um do outro fossem o suficiente.