🍁CAPÍTULO 04🍁

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🍁Luiz

Acordei novamente, mas dessa vez, tudo estava diferente. Não havia mais o peso da febre me sufocando, nem a dor esmagadora que antes fazia cada parte do meu corpo pulsar. Era como se meu corpo estivesse adormecido há dias, e agora, aos poucos, eu estivesse voltando ao mundo. Mas algo ainda estava errado. Havia uma névoa densa na minha mente, uma confusão que me impedia de lembrar como tinha chegado ali. Meu peito apertava de angústia, e as lágrimas vieram antes que eu pudesse controlar.

Meus soluços eram baixos, sufocados pela fraqueza. Senti uma dor estranha no coração, uma vontade de fugir, de escapar de um sofrimento que eu nem conseguia entender. Fechei os olhos com força, desejando desaparecer naquele momento, quando, de repente, ouvi uma voz.

- Está tudo bem... - sussurrou alguém perto de mim, com uma suavidade que interrompeu meu pranto.

Meu corpo reagiu instantaneamente ao som daquela voz. Abri os olhos devagar e me deparei com um rosto que não reconhecia, mas que, de alguma forma, me trouxe paz. Diante de mim estava uma jovem. Seus cabelos loiros caíam delicadamente sobre os ombros, como fios de ouro iluminados pela luz suave do quarto. Seus olhos azuis, brilhantes e serenos, me observavam com um carinho profundo. Ela tinha um sorriso suave nos lábios, e seu rosto era uma obra de beleza tão pura que, por um momento, esqueci o que estava acontecendo ao meu redor.

- Não tenha medo - disse ela novamente, sua voz como o murmúrio tranquilo de um riacho. - Eu estou aqui.

Ela se aproximou, e eu senti sua mão quente tocar levemente meu braço, um toque tão delicado que meu corpo inteiro relaxou. Era como se toda a dor e a angústia que me consumiam começassem a se dissipar com aquele simples gesto de gentileza. Não sabia quem ela era, mas naquele momento, senti que podia confiar nela, que ela estava ali por mim.

- Quem... quem é você? - perguntei, com a voz ainda fraca, tentando entender o que estava acontecendo.

- Meu nome é Alice - respondeu ela, enquanto se sentava ao lado da cama. - Você estava muito doente, mas agora está melhor. Eu fiquei cuidando de você.

"Cuidando de mim?" As palavras ecoaram na minha mente. Eu não conseguia me lembrar de nada além da febre, da dor e do medo, mas ali estava ela, dizendo que havia estado ao meu lado esse tempo todo. Minha memória era uma névoa, mas algo no seu olhar me fez acreditar.

- Por que...? - comecei, mas a emoção tomou conta de mim, e as palavras se perderam em meio às lágrimas que ainda escorriam.

Ela não me deixou continuar. Alice se inclinou um pouco mais e segurou minha mão com firmeza, mas sem forçar, como se quisesse me passar toda a segurança do mundo através daquele toque.

- Não precisa falar agora - disse ela, ainda com aquele tom tranquilizador. - Eu sei que você está confuso. Foi um tempo difícil para você, mas agora eu estou aqui, e não vou deixar que nada te machuque.

Havia algo em suas palavras, uma sinceridade tão profunda que me fazia querer acreditar que tudo realmente ficaria bem. Mesmo sem lembrar como havia chegado ali, mesmo sem saber o que o futuro me reservava, naquele momento, sob o olhar cuidadoso de Alice, senti que podia respirar de novo.

Ela trouxe um pano úmido e o passou suavemente pela minha testa, enxugando o suor que ainda escorria pela minha pele. Seus movimentos eram tão gentis que, por um instante, fechei os olhos, deixando-me ser levado por aquele gesto de bondade.

- Eu sei que você passou por muita coisa - ela continuou, com uma voz que parecia querer carregar todo o peso do mundo em conforto. - Mas você não está mais sozinho.

Sua afirmação, simples e direta, era tudo o que eu precisava ouvir. Depois de tanto tempo sendo tratado como um objeto, como alguém que não tinha valor, ali estava aquela jovem, me vendo, me ouvindo, e se importando comigo. Algo dentro de mim se acendeu, uma chama tímida, mas real: esperança.

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora