🍁Luiz
Naquela noite, já de volta à fazenda, sentamos à mesa para jantar, como fazíamos todas as noites desde que nossa relação havia mudado profundamente. A sala estava silenciosa, exceto pelo som dos talheres tocando os pratos e o crepitar suave da lareira ao fundo. Era uma paz que só a companhia de Leonardo me trazia, e, ao mesmo tempo, eu ainda tentava me ajustar à realidade de ser não apenas seu companheiro, mas seu par perfeito, sua alma gêmea.
Leonardo, como sempre, estava focado na refeição, cortando generosas porções de carne. Ele sempre comia mais carne, como se quisesse deixar claro que sua força física era algo natural, uma parte importante de quem ele era. Mas hoje havia algo mais em seus gestos, uma intenção que ele fazia questão de não esconder.
— Você deveria comer mais carne também, Luiz. — Ele disse, com aquele tom firme, mas carinhoso. — Isso vai te deixar mais forte, mais preparado.
Eu sorri, meio sem jeito, ainda me acostumando com as palavras que ele usava para me descrever desde que havíamos descoberto o que realmente éramos um para o outro. Ser o seu ômega perfeito não era algo que eu entendia totalmente, mas a forma como ele me olhava, como me protegia e como me incentivava, fazia tudo parecer natural, como se o destino tivesse moldado nossas vidas para se encontrarem desse jeito.
— Estou comendo, Leo, mas você sabe que não consigo comer tanto quanto você. — Respondi, tentando evitar que ele notasse o calor que subia pelo meu rosto. — Ainda estou me acostumando com... tudo isso.
Ele sorriu, aquele sorriso que sempre fazia meu coração disparar. Havia algo predatório, mas também gentil nos olhos dele, uma mistura que me deixava sem fôlego e, ao mesmo tempo, me fazia sentir completamente seguro.
— Não se preocupe, Luiz. — Ele disse, esticando o braço para tocar a minha mão. — A marca nos une de uma forma que você ainda está descobrindo. E eu vou estar sempre aqui, ao seu lado, para te guiar.
A marca. A cada vez que ele falava disso, eu sentia um arrepio subir pela espinha. Era como se houvesse algo invisível, mas tangível entre nós, uma energia que me ligava a ele, como se eu pertencesse a ele de uma maneira que transcende o físico. Quando ele me marcou, naquele momento de união, eu sabia que nunca mais seria o mesmo. Mas não era algo ruim. Pelo contrário, eu me sentia acolhido, protegido, e aquela sensação de pertencimento era única, algo que eu jamais imaginara sentir antes.
— Você realmente acredita nisso, não é? — Perguntei, olhando para ele, buscando em seus olhos uma confirmação daquilo que, às vezes, parecia tão surreal para mim.
Leonardo largou o garfo e me olhou com seriedade, mas havia uma doçura no fundo daquele olhar penetrante.
— Acredito mais do que em qualquer coisa. — Ele disse. — Desde o momento em que te vi, soube que você era diferente. E agora, depois de tudo o que passamos, não tenho dúvidas de que fomos feitos um para o outro. Essa marca não é apenas algo que nos une fisicamente, Luiz. — Ele se inclinou para mais perto, seus olhos brilhando sob a luz suave da lareira. — Ela nos une de alma.
As palavras dele entraram fundo em meu coração. Não era só a marca, não era só o toque ou o desejo físico. Era algo mais profundo, mais poderoso, algo que eu ainda não conseguia nomear completamente, mas que sentia a cada momento ao lado dele.
— Eu sinto isso também, Leo. — Confessei, minha voz saindo mais baixa do que eu pretendia. — É como se, quando estou perto de você, tudo fizesse sentido. Como se o mundo inteiro desaparecesse e só restasse nós dois.
Ele sorriu novamente, mas dessa vez seu sorriso era mais suave, mais tranquilo.
— Isso é porque somos um só, Luiz. — Ele se levantou da cadeira e veio até mim, ajoelhando-se ao meu lado. — Você pode ser meu ômega, mas saiba que você é tão forte quanto eu. A sua força não está nos músculos, mas no coração, e é por isso que eu te amo.
Aquelas palavras me atingiram de um jeito que eu nunca imaginara. Meu peito se apertou, e eu senti as lágrimas se formando nos meus olhos, mas não era tristeza. Era gratidão, felicidade, amor.
— Eu também te amo, Leonardo. — Disse, quase sussurrando, enquanto ele segurava minha mão com firmeza, mas com uma ternura que só ele sabia ter.
E naquele momento, não importava mais quem éramos antes, o que havíamos enfrentado ou como o mundo lá fora nos via. Só importava que, ali, na segurança da nossa casa, éramos um só.
Depois do jantar, a noite foi se arrastando em um ritmo preguiçoso e confortável. Leo estava no banheiro do nosso quarto, concentrado em fazer a barba, e eu, deitado na cama, lia um livro de poesias que havia pegado da estante naquela manhã. O som da lâmina raspando em sua pele e o bater da gilete na pia ecoavam no quarto, criando um ritmo quase hipnótico que me deixava com soninho.
Eu tentava manter os olhos abertos, mas a cada página virada, minha atenção se dispersava mais. Depois de alguns minutos, decidi que já era hora de parar. Fechei o livro com cuidado e o coloquei na mesinha de cabeceira. Leo saiu do banheiro logo em seguida, seu rosto agora liso e recém-barbeado. Ele me lançou um sorriso afetuoso, apagou as luzes do quarto e caminhou até a cama, deitando-se ao meu lado com uma tranquilidade que só ele tinha.
Fiquei em silêncio por um momento, observando-o. Algo em seu gesto, o jeito como ele acabava de fazer a barba, me fez pensar em algo que eu nunca havia mencionado antes. Eu olhei para ele, intrigado.
— Leo, por que eu não tenho barba? — Perguntei de repente, quebrando o silêncio suave do quarto.
Ele riu, aquela risada baixa e rouca que fazia meu coração acelerar, e virou-se para mim, seus olhos brincando com a luz fraca que vinha de fora.
— Porque você ainda é jovem, meu amor. — Ele disse, com a voz carregada de carinho. — Ainda vai nascer.
Eu franzi a testa, desconfiado, já conhecendo bem quando ele tentava me enganar com uma resposta simples demais. Sabia que ele estava escondendo algo mais.
— Você está mentindo, Leo. — Falei com um sorriso leve, fazendo um biquinho de brincadeira.
Ele suspirou e então, percebendo que eu não deixaria passar, seus olhos brilharam com uma mistura de verdade e carinho.
— Tá bem, você me pegou. — Ele admitiu, passando a mão pelo meu cabelo de um jeito protetor. — Seres da sua espécie... como você... eles simplesmente não têm barba. É algo natural.
Eu fiz o biquinho ainda maior, como se estivesse desapontado, mas não era verdade. No fundo, eu já sabia que era diferente e, com Leo ao meu lado, a sensação de ser único só se intensificava. Mas era divertido vê-lo tentando me consolar, mesmo que fosse desnecessário.
Leo se inclinou, sua mão ainda em meus cabelos, e plantou um beijo suave em meus lábios.
— Você é lindo de todo jeito. — Ele murmurou contra minha boca. — Com ou sem barba, você é o homem mais homem que eu já conheci.
Suas palavras encheram meu peito de calor, como sempre faziam. Era como se, em todos os pequenos gestos e toques, Leo reafirmasse o quanto eu era importante para ele. Eu sorri e me aconcheguei em seu peito, sentindo o peso de seu braço me envolvendo, e naquele momento, soube que, não importava o que fosse ou como eu me sentisse diferente, ele me via como o homem que eu sempre quis ser.
Fechei os olhos, deixando-me levar pela segurança de estar ao lado de alguém que me amava incondicionalmente. O som da respiração suave de Leo ao meu lado foi a última coisa que ouvi antes de o sono me tomar por completo.
Continua...

VOCÊ ESTÁ LENDO
VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]
FanfictionEm um Brasil escravocrata, onde a liberdade é um sonho distante, Luiz Fernando, um jovem órfão e marcado pela brutalidade da vida, descobre que seu destino foi selado sem sua permissão. Vendido como propriedade, ele agora pertence a Leonardo de Andr...