🍁CAPÍTULO 13🍁

308 44 2
                                    

🍁Luiz

Enquanto eu preparava a mesa com as sobras do velório, sentia o peso dos olhos de Leonardo sobre mim. Cada movimento meu era acompanhado pelo seu olhar silencioso, um olhar que não expressava nem aprovação nem desdém, mas que, de alguma forma, parecia me aprisionar. Eu estava morto de vergonha, principalmente por estar doente e febril, mas sabia que agora Leonardo era o dono de tudo. Se ele decidisse me mandar embora, eu não teria para onde ir, estaria condenado a vagar sem rumo, sem esperança.

Depois de ajeitar a mesa simples da cozinha, com o que restava da comida, ele começou a se servir. Aproveitei para tentar sair, com passos rápidos, ansiando por me afastar daquela presença sufocante, mas antes que eu pudesse alcançar a porta, sua voz dominadora ecoou pela cozinha:

- Fique.

Eu parei no mesmo instante, meu corpo obedecendo antes que minha mente pudesse protestar. Havia algo em seu tom que não permitia recusa, uma autoridade que não podia ser questionada. Voltei-me lentamente, sentindo o coração acelerar.

Enquanto ele comia, lançou-me perguntas que, de início, pareciam banais: sobre minha vida, meus pais, meus tios. Comecei a responder automaticamente, sem sequer me questionar o porquê. Havia uma força estranha que me impulsionava a falar, como se a própria presença de Leonardo sugasse de mim qualquer resistência. Era como se ele tivesse uma magia, um poder invisível que me subjugava. Cada palavra que saía da minha boca parecia uma confissão.

Eu nunca havia falado tanto sobre mim, sobre meus sentimentos, e muito menos com alguém como ele. Mesmo sem entender, continuei. Era como se, naquele momento, minha vida estivesse completamente à mercê da vontade dele, como se cada desejo de Leonardo fosse uma ordem para a minha alma. E, por mais que uma parte de mim quisesse fugir, outra parte, mais profunda e secreta, ansiava por aquele olhar, por aquela atenção.

Após terminar sua refeição, Leonardo recostou-se na cadeira, sem nem ao menos me lançar um olhar de agradecimento. Sua expressão era de cansaço, mas também de algo que eu não conseguia definir. Ele então disse, em seu tom áspero e autoritário:

- Prepare um banho quente para mim. Estou cansado dessa viagem. - Suas palavras eram firmes, como se o simples ato de ordenar fosse parte de sua natureza.

Eu, ainda tomado pela febre e o desconforto, senti meu corpo tremer ao ouvir a ordem. Não havia espaço para questionamentos ou recusa. Baixei a cabeça e respondi:

- Sim, senhor Leonardo.

Saí da cozinha em direção ao quarto que ele agora ocupava, onde antes era o refúgio de Antônio. O caminho pelos corredores da Casa Grande parecia interminável, o peso da responsabilidade se tornando maior a cada passo. Quando entrei no quarto, o ambiente estava frio e sombrio, os móveis antigos guardando as memórias de um homem que já não estava mais ali. Uma banheira de porcelana branca estava encostada no canto do quarto, imponente.

Com cuidado, fui à cozinha buscar baldes de água quente. Cada ida e volta era exaustiva, a febre latejava em minha cabeça, e a dor no ventre ainda me acompanhava. Mas a cada balde que eu despejava na banheira, sentia o vapor da água quente preencher o quarto, quase me dando uma sensação de alívio, como se o calor fosse um pequeno consolo para o frio que me invadia por dentro.

Enquanto enchia a banheira, senti a presença de Leonardo novamente. Ele estava ali, encostado na porta, observando tudo em silêncio. Virei-me para ele por um breve momento, vendo seus cabelos loiros desarrumados, o peito nu coberto por uma fina camada de suor que brilhava à luz fraca do abajur.

- Está quase pronto, senhor - disse, tentando manter a voz firme, mas o calor da febre tornava difícil esconder o tremor.

Ele deu um passo à frente, a sombra de seu corpo cobriu parte do quarto, e sem muito interesse em minhas palavras, respondeu:

- Ótimo. Não quero esperar.

Havia algo em seu tom que me deixava sempre em alerta, como se a qualquer momento ele pudesse mudar de humor, explodir em uma ordem ainda mais agressiva. Continuei a trabalhar em silêncio, tentando terminar o quanto antes.

Quando a banheira estava finalmente cheia, a água quente subia com pequenas ondulações, refletindo as luzes do quarto. Aproximei-me da porta, com a intenção de deixá-lo sozinho, mas antes que pudesse sair, ele disse:

- E você, não toma banho?

A pergunta me pegou de surpresa. Senti o rosto esquentar, seja pela febre ou pelo constrangimento, não sabia ao certo.

- Eu... eu tomei um banho cedo, senhor - respondi, tentando esconder o desconforto.

Leonardo sorriu, mas o sorriso não chegava a seus olhos. Ele deu um passo à frente, se aproximando ainda mais. Sua presença preenchia o quarto de uma maneira que me deixava sem ar.

- Não parece - ele comentou, seus olhos avaliando cada detalhe meu, como se pudesse enxergar através de mim.

Eu engoli em seco, sentindo meu corpo inteiro travar sob seu olhar. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele deu as costas para mim e começou a desabotoar a calça com uma tranquilidade que só aumentava meu desconforto. Aquelas mãos que eu temia agora estavam ali, removendo as últimas peças de roupa como se eu nem existisse.

- Pode sair agora - ele disse, com o mesmo tom rude de sempre, enquanto se aproximava da banheira.

Saí do quarto o mais rápido que pude, fechando a porta atrás de mim e respirando fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções que crescia dentro de mim. Havia algo naquele homem que me atormentava profundamente, e eu sabia que, de agora em diante, a vida na Fazenda Andrade jamais seria a mesma.

Continua...

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora