🍁Luiz
Cheguei à fazenda já de noite, com o coração acelerado. A escuridão das estradas de terra me trazia um medo que eu não conseguia controlar, lembrando-me das lendas terríveis que meus tios contavam sobre almas perdidas e criaturas que vagavam pelos campos. Quando finalmente avistei a fazenda, senti um alívio temporário, mas sabia que ainda havia trabalho a ser feito.
Entrei na cozinha, com a luz fraca da lamparina iluminando os cantos do cômodo. Não vi minha tia por ali, e o silêncio pesado me incomodou. Os outros funcionários descarregavam as compras da carroça, mas o espaço parecia vazio, sem vida. Peguei o dinheiro que sobrou das compras e me preparei para guardá-lo no mesmo lugar que havia encontrado antes. Mas antes que eu pudesse completar o gesto, ouvi um barulho seco vindo da porta.
Olhei para trás, e lá estava Leonardo, parado na entrada da cozinha. Ele tinha o rosto contorcido de raiva, seus olhos dourados pareciam faiscar no escuro. Tomei um susto tão grande que quase deixei o dinheiro cair no chão. Meu corpo congelou por um instante, incapaz de reagir à presença dominadora dele.
— Onde você esteve o dia todo? — sua voz era fria e cortante, mas cheia de fúria contida. Ele se aproximou rápido, segurando meu braço com força.
— Eu... eu fui comprar as coisas para a casa... como a cozinheira me pediu — tentei explicar, sentindo meu braço doer sob a pressão da mão dele.
— Isso levou o dia todo? — ele rosnou, sem me dar a chance de falar mais.
Eu tentei continuar, mas ele não queria ouvir. Seus dedos se apertaram mais em meu braço, e ele me arrastou pelo corredor, me conduzindo como se eu fosse uma criança desobediente. Meu coração batia descontrolado, e o medo que eu tinha das histórias dos meus tios não era nada comparado ao terror que sentia naquele momento.
Leonardo me levou até o porão da casa, uma sala fria e escura onde raramente alguém ia. Ele abriu a pesada porta de madeira com um empurrão e me lançou para dentro, trancando a porta atrás de nós dois. Meu corpo tremia, mas não era apenas por causa do frio. Ele parecia mais furioso do que eu jamais havia visto, quase como se estivesse lutando contra algo dentro de si mesmo.
— Você acha que pode sumir o dia todo e voltar como se nada tivesse acontecido? — ele vociferou, se aproximando de mim, seus olhos queimando de raiva.
— Eu só estava fazendo o que me pediram... — minha voz saiu baixa, quase em um sussurro, mas ele não me deixou terminar.
— Cale a boca! — ele gritou, e o som ecoou pelas paredes de pedra do porão.
Leonardo começou a andar de um lado para o outro, sua raiva parecia crescer a cada passo. Eu estava encurralado, sem saída, e o peso daquela situação esmagava meu peito. Ele me olhou como se eu fosse o motivo de toda sua frustração, como se todas as dores e pressões que ele carregava tivessem encontrado um alvo em mim.
— Eu... eu não fiz nada errado... — tentei, mas as palavras mal saíam da minha boca. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e eu não conseguia segurar. O medo, a pressão, tudo se juntou de uma vez. Eu estava no chão, as mãos cobrindo o rosto, e chorei como uma criança indefesa.
Leonardo parou de andar e me olhou, respirando pesadamente. Eu não sabia o que esperar. Ele parecia lutar consigo mesmo, como se estivesse à beira de algo perigoso. Mas, em vez de me atacar, ele se abaixou ao meu lado. Não com ternura, mas com uma intensidade diferente. Seus dedos ainda apertavam meu braço, mas agora o toque parecia ter uma mistura de desespero e confusão.
— Não... não faça isso de novo, entendeu? — sua voz soou mais baixa, quase como se estivesse falando para si mesmo. Eu balancei a cabeça em um gesto quase imperceptível.

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VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]
FanfictionEm um Brasil escravocrata, onde a liberdade é um sonho distante, Luiz Fernando, um jovem órfão e marcado pela brutalidade da vida, descobre que seu destino foi selado sem sua permissão. Vendido como propriedade, ele agora pertence a Leonardo de Andr...