🍁Luiz
A noite estava calma, mas dentro de mim, um turbilhão de emoções crescia. As mudanças em Leonardo eram evidentes, e isso causava uma mistura de esperança e ansiedade. Eu estava diferente também, como se aquela atmosfera, o modo como ele vinha me tratando ultimamente, tivesse despertado algo novo em mim. Olhei meu reflexo no espelho, o rosto refletindo uma expectativa silenciosa. Eu não sabia o que a noite traria, mas sabia que ela seria importante.
Ao sair do quarto, senti o frio da noite atravessar minha pele, o sereno trazendo consigo um arrepio que me fez apertar os braços contra o corpo. Ao chegar na sala, o vi ali, sentado no sofá como um senhor que dominava seu ambiente, pernas cruzadas de forma impecável, a postura altiva de sempre. Mas algo estava diferente. Não havia o habitual copo de vinho em sua mão. Ele bebia cachaça, um reflexo de um cansaço ou de uma necessidade de se perder momentaneamente.
Ao notar minha presença, Leonardo levantou os olhos vermelhos, já um pouco tomados pelo efeito da bebida. Fiz um leve aceno, meio incerto, e ele logo falou:
— Luiz, venha aqui. — A voz era familiar, autoritária, mas carregada de uma suavidade que ele raramente usava comigo.
Eu me aproximei, hesitante, mas não podia ignorar o chamado.
— Está se sentindo bem, Leonardo? — perguntei, tentando não transparecer meu nervosismo.
Ele riu baixo, um som estranho saindo de seus lábios. — Nunca me senti tão bem... ou tão confuso ao mesmo tempo. — Ele fez um gesto para eu me sentar ao lado dele, e eu obedeci, sentindo o peso da situação.
Nós jantamos juntos, e a torta de frango que eu havia pedido na hora do almoço estava ali, quente e cheirosa. Sentamos à mesa, e enquanto ele comia em silêncio, percebi que o clima estava mudando entre nós. O jeito como ele me olhava era diferente, mais... atento.
De repente, Leonardo deixou escapar uma risada abafada, inclinando-se um pouco para mim.
— Você pediu uma torta simples — disse ele, o tom um pouco mais leve do que de costume, mas seus olhos me analisavam profundamente.
— É que... eu sou simples — respondi, tentando manter a conversa casual, mas meu coração batia mais forte. Eu estava nervoso, algo naquele momento parecia eletrizar o ar ao redor.
Ele pegou o copo de cachaça e tomou um gole generoso, então sorriu, aquele sorriso que sempre me deixava desconcertado, agora mais livre pela bebida.
— Sabe, Luiz — começou, com uma leve hesitação que não era comum nele. — Às vezes eu penso que você é como uma encarnação de Afrodite, só que... na versão masculina.
Meus olhos se arregalaram com a declaração inesperada, e senti o calor subir pelo meu rosto. Não sabia como reagir àquilo. Ele estava me comparando a uma divindade, um ser de beleza tão perfeita que não parecia real. Fiquei sem palavras, envergonhado, e tentei desviar o olhar, mas ele continuava a me encarar.
— Não estou brincando. — Ele sorriu de novo, mais abertamente agora. — Você é belo, Luiz. Acho que nunca percebi isso com tanta clareza como agora.
Meu corpo inteiro parecia arder, cada célula despertando sob aquele olhar intenso. A maneira como ele falava, com uma mistura de embriaguez e sinceridade, me deixava completamente desarmado.
— Não sei o que dizer... — murmurei, minhas mãos mexendo nervosamente na toalha de mesa.
Leonardo se inclinou para frente, aproximando o rosto do meu. O cheiro da cachaça misturava-se ao seu perfume amadeirado, e por um momento, eu quase perdi o fôlego.
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VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]
Hayran KurguEm um Brasil escravocrata, onde a liberdade é um sonho distante, Luiz Fernando, um jovem órfão e marcado pela brutalidade da vida, descobre que seu destino foi selado sem sua permissão. Vendido como propriedade, ele agora pertence a Leonardo de Andr...