🍁CAPÍTULO 05🍁

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🍁Luiz

Diante do silêncio que tomou conta da sala, meu coração começou a bater mais rápido. Eu mal conseguia entender o que estava acontecendo. O senhor Antônio, com sua postura firme e a voz grave, mas controlada, olhou diretamente para mim, e naquele momento, eu soube que algo importante seria dito.

- Luiz Fernando - começou ele, sem qualquer hesitação. - Sei que os últimos anos foram duros para você. Infelizmente, até hoje, eu não sabia a extensão do que estava acontecendo sob o meu próprio teto.

Seus olhos se fixaram nos meus, e por um breve segundo, eu tive a impressão de que ele realmente lamentava. Mas logo, ele retomou seu tom mais autoritário.

- Seus tios - ele continuou - foram demitidos da fazenda. O tratamento que você recebeu, como se fosse um escravo, foi inaceitável. Nunca soube que alguém da sua condição estivesse sendo tratado assim, e não vou tolerar que isso aconteça aqui.

Minhas mãos começaram a suar. "Alguém da sua condição?" O que ele queria dizer com isso? Como assim minha "condição"? Eu era um trabalhador, explorado e maltratado como tantos outros. Mas antes que eu pudesse questionar, ele prosseguiu, sua voz ressoando na sala como um martelo.

- Você é um jovem de grande potencial. E eu vejo que o que aconteceu aqui foi um erro, um grave erro. Mas eu vou corrigir isso. A partir de agora, Luiz Fernando, você estará sob minhas ordens diretas.

Aquela declaração me atingiu como uma avalanche. Sob suas ordens? Aonde isso iria me levar? Ele olhou de relance para Alice, que ainda me observava com aquele olhar sereno, quase encorajador.

- Você será meu ajudante de ordens. Aprenderá sobre administração, sobre a vida na fazenda de forma mais ampla, e terá uma responsabilidade maior. Além disso - ele fez uma pausa e olhou para Alice - você ajudará minha filha em qualquer coisa que ela precisar.

Minha mente girava em confusão. Por um lado, as palavras de Antônio tinham um peso inegável. Eu não seria mais tratado como um escravo. Ele havia sido claro quanto a isso. Por outro lado, eu não sabia o que esperar. Ser ajudante do patrão? Ter responsabilidades na fazenda? Eu era alguém que sempre conhecera o chicote e o cansaço interminável da cana-de-açúcar. Como poderia me adaptar a algo tão diferente?

- Você será remunerado - continuou ele, como se estivesse lendo meus pensamentos. - Seu trabalho aqui terá valor. Não mais chicotes, não mais trabalhos forçados. Você será pago pelo que fizer, e será tratado com respeito.

Pela primeira vez em anos, ouvi a palavra "respeito" em uma frase que incluía meu nome. Eu não sabia o que responder, minha garganta estava seca, e as palavras pareciam fugir de mim.

- Acredito - disse Antônio, com uma calma fria - que isso seja um futuro mais justo para alguém como você.

Engoli em seco, sentindo a pressão daquele momento pesar sobre mim. O que ele quis dizer com "alguém como eu"? Minha mente não conseguia escapar dessa frase. Mas agora não era o momento de questionar. Ele havia decidido. O rumo da minha vida estava prestes a mudar de uma maneira que eu nunca imaginaria.

- Sim, senhor - foi tudo o que consegui dizer, minha voz quase inaudível, mas forte o suficiente para quebrar o silêncio da sala.

Antônio me observou por mais alguns segundos, depois assentiu lentamente, como se minha aceitação fosse algo esperado, mas ainda assim importante. Ele olhou para Alice, que se levantou e caminhou em minha direção. Ela parou ao meu lado, e senti o leve toque de sua mão em meu ombro. Seu gesto, embora pequeno, foi o suficiente para me acalmar um pouco, dissipando parte da tensão que tomava conta de mim.

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora