🍁CAPÍTULO 46🍁

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🍁Luiz

O sol da manhã iluminava as janelas da sala de jantar, onde eu e Luiz nos encontrávamos. O café estava servido, e o aroma doce do pão recém-saído do forno preenchia o ambiente. No entanto, o que realmente pairava sobre a mesa era o silêncio entre nós. Luiz estava sentado à minha frente, pálido, inquieto. Desde que acordara, não disse uma palavra sequer. Seus olhos me fitavam com uma desconfiança velada, mas ele permanecia calado, como se ponderasse se deveria questionar o que suspeitava ou manter-se em silêncio.

Eu bebia calmamente meu café, observando-o de soslaio, ciente da tensão no ar. Havia uma certa satisfação dentro de mim, um alívio pelo que fizera na noite anterior. A cidade havia se livrado de um peso morto, e Luiz estava seguro do julgamento de homens que não compreendiam nada do que ele significava para mim. Mas naquele momento, eu precisava manter as aparências. Luiz não podia saber. Pelo menos, não agora.

Foi então que um empregado bateu levemente à porta, anunciando a chegada de visitantes.

— Senhor Leonardo, seus amigos Henrique e Guilherme chegaram. Estão esperando na sala.

Levantei-me com uma expressão casual e assenti para o empregado, depois olhei para Luiz, que continuava em silêncio, ainda perdido em pensamentos.

— Luiz, meus amigos estão aqui para tratar de alguns negócios. Vai ser rápido — comentei, dando um sorriso sutil. — Aproveite e coma mais um pouco, você está precisando de força.

Luiz me lançou um olhar hesitante, mas acenou em concordância. Passei a mão levemente pelo seu ombro, num gesto que esperava que o acalmasse, e segui para a sala, onde Henrique e Guilherme me esperavam.

— Leonardo! — Henrique exclamou, abrindo os braços num cumprimento efusivo. — Já fazia algum tempo! Parece que Minas Gerais está cada vez mais próspera!

— Ah, vocês sabem como é… — respondi, sorrindo. — O trabalho é constante, mas os frutos são saborosos. Sente-se, Henrique. Guilherme, fique à vontade.

Enquanto eles se acomodavam, um empregado nos serviu café, e Henrique deu um longo gole, parecendo saborear cada gota antes de se inclinar para frente, os olhos brilhando com uma certa excitação.

— Então, Leonardo, vocês ouviram sobre o que aconteceu na cidade? — ele perguntou, quase como quem inicia uma história de suspense. — A igreja… foi queimada. Incêndio devastador. Não sobrou nada.

Fingi um sobressalto contido, arregalando ligeiramente os olhos e levando a mão à boca.

— A igreja? Como assim? Queimou… completamente?

Henrique assentiu, os olhos ainda fixos em mim, talvez na expectativa de ver uma reação mais dramática.

— Sim! Tudo em ruínas! Parece que não há suspeitos até agora, mas, pelo que ouvi, foi um incêndio rápido e brutal. Ninguém sabe como começou, mas todos falam nisso.

Mantendo minha expressão de surpresa, dei um suspiro lento e balançei a cabeça, como quem lamenta uma tragédia.

— Que perda… — murmurei, a voz num tom de pesar bem ensaiado. — É uma pena ver um lugar que, teoricamente, trazia consolo para tantas pessoas, agora reduzido a cinzas. Minas sentirá essa ausência.

Guilherme, que até então observava a conversa com uma expressão grave, inclinou-se para frente.

— Dizem que os mais religiosos já estão chamando o incêndio de um "castigo divino" — ele comentou, em tom baixo. — Algo como um acerto de contas. Parece que até mesmo o padre, que era tão… fervoroso, estava envolvido em algumas práticas duvidosas.

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora