🍁CAPÍTULO 50🍁

170 16 3
                                    

🍁Leonardo

Os gritos de Luiz ecoavam pela casa, reverberando como um trovão que sacudia cada fibra do meu ser. Eu caminhava de um lado para o outro, sentindo meu coração bater como um tambor descompassado. Matteo, sentado ao meu lado, tentava me tranquilizar, mas as palavras pareciam se perder no ar, afogadas pelos gritos de dor e esforço vindos do quarto.

— Leonardo, tudo vai ficar bem — dizia Matteo, sua voz calma, mas firme. — Ele é forte, e Alice está com ele. Luiz vai dar à luz a uma criança linda, e logo tudo isso será apenas uma lembrança.

Eu tentava me apegar a isso, mas a espera parecia interminável.

— Eu… eu não aguento ouvir ele sofrer assim, Matteo — murmurei, passando as mãos pelo rosto, numa tentativa de controlar a angústia. — Cada grito… cada respiração ofegante… é como se algo estivesse me rasgando por dentro.

Matteo pousou a mão sobre meu ombro, tentando acalmar a tempestade que borbulhava em meu peito.

— Leonardo, o que ele precisa agora é da sua força. Este é o momento pelo qual vocês tanto esperaram. Em breve, você será pai, e todo esse sofrimento será recompensado com a alegria de segurar seu bebê nos braços.

Fechei os olhos, tentando visualizar esse momento, mas a incerteza me corroía. Quase ao mesmo tempo, ouvi um grito de dor vindo de Luiz, mais forte que todos os outros. Meu coração disparou, e eu me levantei como se pudesse correr para ele.

— Eu preciso estar lá com ele! — exclamei, tentando ir em direção à porta.

Matteo segurou meu braço, firme.

— Leonardo, espere. Confie na Alice e nas parteiras. Você é forte, mas agora precisa confiar neles.

Respirei fundo, tentando reunir um pouco mais de paciência. Alice estava com Luiz desde o início do trabalho de parto, dando-lhe o apoio que eu desejava dar, mas que a situação não me permitia. O tempo parecia se esticar, cada minuto se transformando em uma eternidade.

Então, em um momento em que os gritos pareceram se acalmar, a porta se abriu, e uma das parteiras apareceu. Ela tinha um sorriso suave e radiante nos lábios.

— Senhor Leonardo, parabéns. É um menino — disse ela, suas palavras inundando meu coração de uma alegria intensa e avassaladora.

Eu levei a mão ao peito, mal conseguindo respirar, enquanto um sorriso tomou conta do meu rosto.

— Eu… eu sou pai? — murmurei, mal acreditando.

— Sim, senhor. Luiz e o bebê estão bem. É um menino forte e saudável — respondeu ela, acenando para que eu a seguisse.

Matteo me deu um tapinha no ombro, seu sorriso contido, mas orgulhoso.

— Vai lá, pai. Sua família está esperando por você.

Entrei no quarto, e a visão diante de mim quase me tirou o fôlego. Luiz estava deitado na cama, o rosto suado e exausto, mas com um sorriso que irradiava um amor e uma felicidade indescritíveis. Em seus braços, aninhado e tranquilo, estava o nosso filho.

Ao me ver, Luiz abriu um sorriso mais largo, e lágrimas de emoção brotaram em seus olhos.

— Leonardo… — sussurrou ele, estendendo o bebê em minha direção. — Este é o nosso Lorenzo.

Aproximei-me devagar, com o coração quase saindo pela boca. Acariciei o rostinho do bebê, que era tão pequeno e perfeito, com os olhos cerrados e a pele macia como a seda. A sensação de tocar meu filho pela primeira vez foi algo que palavras jamais poderiam expressar. Era como se todo o amor que eu jamais soubera que existia se concentrasse naquele pequeno ser.

— Ele é perfeito, Luiz. Nosso Lorenzo… nosso pequeno milagre — murmurei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto olhava para os dois.

Luiz sorriu, seus olhos brilhando com uma ternura que só ele tinha.

— É, ele é. E foi você que me deu a força para trazê-lo ao mundo, Leonardo. Você e o amor que construímos juntos.

Abracei Luiz e Lorenzo com cuidado, sentindo o calor deles contra mim, e deixei que cada momento se impregnasse em minha memória. Alice, que assistira a tudo em silêncio, aproximou-se, emocionada, e tocou o rostinho do sobrinho.

— Ele é lindo, Leonardo. Lindo como o amor de vocês — disse ela, sorrindo, com lágrimas escorrendo de seus olhos.

— Obrigado, Alice. Você… você não imagina o quanto isso significa para nós — respondi, minha voz embargada.

Ela riu, enxugando as lágrimas.

— Eu sei, irmão. E eu estou feliz por fazer parte disso. Cuidem dele, como cuidam um do outro. Lorenzo é a prova viva de que o amor pode vencer qualquer obstáculo.

Abracei Alice, e, naquele instante, soube que ela estava certa. Lorenzo era mais do que apenas nosso filho; ele era a materialização de nossa luta, de nossa união e de tudo o que enfrentamos. Ele era o futuro que tanto sonhávamos, e eu sabia que faria tudo por ele, assim como por Luiz.

Enquanto a noite caía sobre Roma, com o céu estrelado iluminando a janela, eu permaneci ali, segurando meu filho, abraçado a Luiz. Naquele momento, meu coração transbordava de amor e gratidão, e soube, com toda certeza, que minha família estava completa.

....

A casa estava em silêncio, apenas quebrado pelo som suave da respiração de Lorenzo em meus braços. Seu rostinho descansava em paz, e eu me peguei contemplando cada detalhe daquele pequeno ser que era uma extensão do meu amor com Luiz. Cada traço era perfeito, dos cílios delicados às pequenas mãozinhas que seguravam meu dedo com força surpreendente para alguém tão pequeno.

Sentei-me em uma poltrona perto da janela, deixando a luz suave da lua iluminar o quarto, e balancei Lorenzo devagar. Enquanto eu o embalava, senti as emoções se acumularem dentro de mim como uma onda que, sem avisar, rompeu as barreiras da minha alma. Lágrimas começaram a cair, uma após a outra, enquanto eu olhava para meu filho, pensando em tudo o que havíamos enfrentado para chegar até aqui.

Com a voz embargada, sussurrei em uma oração silenciosa:

— Que Deus te guie, meu filho… que Ele te leve por caminhos de paz, que sua vida seja leve, meu pequeno Lorenzo. Que você encontre o amor verdadeiro e as alegrias mais puras, sem as dores que seu pai conheceu.

Lorenzo resmungou suavemente, ajustando-se em meus braços, e eu sorri, tentando conter o choro.

— Meu menino… — continuei, sussurrando, quase como se estivesse em uma conversa secreta com ele. — Eu não sei que tipo de pai serei, mas vou fazer o possível para te proteger, para te dar o que o meu pai não pôde me dar. Quero que você cresça sabendo que é amado, que é desejado. Que você possa caminhar por campos verdejantes, Lorenzo, e que seus pés nunca precisem tocar o espinho do ódio ou da dor.

Olhei para o pequeno rosto sereno de Lorenzo e senti uma paz profunda se instalar dentro de mim, uma paz que eu nunca havia conhecido. Naquele momento, eu soube que, independentemente do que o futuro trouxesse, eu tinha encontrado meu lugar no mundo. Eu tinha uma família, um lar. Luiz e Lorenzo eram meu tudo, e por eles eu seria capaz de enfrentar qualquer tempestade.

Eu continuei a embalar Lorenzo, sentindo-o relaxar mais a cada balanço. Suas pequenas mãos soltaram o meu dedo, e ele suspirou, adormecendo profundamente. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto, e, pela primeira vez, eu me senti verdadeiramente completo.

🍁Fim🍁

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora