🍁Luiz
Os anos passaram como uma brisa que, embora suave, não deixa de transformar tudo ao seu redor. E assim minha vida também foi transformada. Sob o olhar atento de Alice, fui instruído nos mais variados saberes. Aprendi a ler e escrever com uma dedicação que, para mim, era mais do que um privilégio; era uma libertação. A cada novo conceito, a cada novo livro, sentia como se o mundo se expandisse diante de mim. Alice, com sua paciência e inteligência, me guiava por histórias e filosofias, ensinando-me não só a língua, mas o próprio espírito de nações estrangeiras.
Aprendi italiano e espanhol com a mesma dedicação com que ela os havia aprendido em sua temporada na Europa. E, mais recentemente, Alice insistia que o inglês seria uma habilidade vital para o futuro. Ela dedicava horas a me ensinar, corrigindo minha pronúncia, rindo levemente de meus erros, mas sempre com uma gentileza que fazia o aprendizado parecer uma conversa entre amigos.
Nossa amizade crescia a cada dia, uma conexão inesperada entre dois mundos tão diferentes, mas que, de alguma forma, encontraram equilíbrio. Contudo, a vida tem suas formas de nos surpreender e, às vezes, de nos golpear de maneira cruel e súbita.
Foi no início da tarde, quando o sol brilhava lá fora, que tudo mudou. Eu estava na biblioteca, lendo um texto que Alice havia deixado para eu praticar meu inglês. A casa estava silenciosa, exceto pelo canto dos pássaros e pelo vento que agitava as árvores ao redor. De repente, ouvi um grito. Não era um grito de medo, mas de desespero, um som que reverberou por todo o lugar, gelando-me o sangue. Larguei o livro imediatamente e corri em direção ao som.
Quando cheguei à sala de estar, encontrei Alice ajoelhada ao lado de sua mãe, que estava sentada em sua cadeira favorita, um livro no colo. Mas o livro havia escorregado para o chão, e o corpo de Dona Emília estava imóvel, a cabeça pendendo levemente para o lado, como se apenas estivesse descansando em um sono profundo.
— Mamãe... — Alice sussurrava, em meio às lágrimas. — Acorde, por favor... acorde.
Senti meu coração apertar ao ver minha amiga, tão forte em tantos momentos, completamente despedaçada pela visão da mãe sem vida. Aproximei-me lentamente, meus passos pesados com o peso da tragédia.
— Alice... — murmurei, sem saber o que dizer. Era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo.
Ela se voltou para mim, seus olhos transbordando de dor.
— Luiz, ela... ela não acorda. Eu tentei... mas ela... — Sua voz falhou, e mais lágrimas escorreram por seu rosto.
Eu me ajoelhei ao lado dela, segurando sua mão tremula. As palavras me faltavam, mas o que poderia ser dito diante de uma perda tão grande? Ficamos ali por minutos que pareciam horas, em um silêncio pesado, apenas compartilhando a dor.
Logo o barulho de passos apressados ecoou pela casa. Era o velho Antônio, o pai de Alice, que vinha cambaleando em nossa direção, apoiado em sua bengala. Seus olhos, normalmente tão cheios de severidade e sabedoria, agora estavam turvos, como se a notícia ainda não tivesse sido totalmente processada.
— O que está acontecendo? O que houve com Emília? — perguntou, a voz rouca e trêmula, como se soubesse a resposta, mas se recusasse a aceitá-la.
Alice se levantou, ainda soluçando, e caminhou até o pai.
— Papai... — ela começou, mas as palavras simplesmente não saíam. Como dizer a um homem já tão frágil que a pessoa que ele mais amava havia partido?
Ele olhou para o corpo inerte da esposa e, por um instante, a expressão de confusão deu lugar a um olhar de desespero absoluto. Suas mãos trêmulas foram até o peito, e ele cambaleou, quase caindo.
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VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]
FanficEm um Brasil escravocrata, onde a liberdade é um sonho distante, Luiz Fernando, um jovem órfão e marcado pela brutalidade da vida, descobre que seu destino foi selado sem sua permissão. Vendido como propriedade, ele agora pertence a Leonardo de Andr...