🍁CAPÍTULO 10🍁

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🍁Luiz

Os dias que seguiram à morte de Dona Emília foram marcados por um silêncio doloroso que parecia sufocar cada canto da fazenda. O luto havia se instalado de maneira implacável, dominando a vida de Alice e Antônio. Ambos se entregaram à tristeza, como se não houvesse mais força para resistir. Alice, geralmente tão cheia de energia e vida, se trancava no quarto por longas horas, e, quando aparecia, seu rosto estava marcado pelo pranto. Antônio, por sua vez, parecia ter envelhecido décadas em poucos dias. Ele raramente deixava o escritório, e quando o fazia, era para vagar pela casa com o olhar perdido.

Eu os observei de perto, mas sabia que minha presença não era o suficiente para aliviar o peso da dor que carregavam. Enquanto isso, a fazenda, que sempre havia sido um símbolo de prosperidade e movimento, começou a desacelerar. Os trabalhadores continuavam suas tarefas rotineiras, mas a ausência de direção começava a causar uma desordem silenciosa.

Foi nesse momento que senti o peso da responsabilidade cair sobre mim. Percebi que, com Antônio enfraquecido e Alice imersa em sua tristeza, era eu quem teria que manter a fazenda funcionando. Não podia deixar que tudo o que eles haviam construído desmoronasse. As plantações de café e cana continuavam a crescer, os contratos de exportação com Portugal e Inglaterra precisavam ser renovados, e os mercados dependiam do fluxo contínuo de mercadorias. Alguém tinha que fazer isso - e esse alguém era eu.

Na primeira semana, comecei a assumir pequenas responsabilidades. Fiz o inventário dos produtos armazenados, organizei as colheitas e deleguei tarefas aos capatazes. Contudo, logo percebi que pequenas ações não seriam suficientes. A fazenda precisava de uma liderança firme e articulada, alguém que pudesse lidar diretamente com os comerciantes e manter as relações comerciais intactas. Não bastava apenas supervisionar, eu precisava tomar decisões estratégicas.

Certa manhã, decidi ir ao escritório de Antônio. O homem estava sentado à sua mesa, mas sua mente parecia vagar distante. Ele olhava para papéis sem realmente vê-los, e quando me aproximei, ele sequer notou minha presença.

- Senhor Antônio, precisamos revisar os contratos com os mercados de Lisboa e Londres - disse eu, tentando despertar sua atenção.

Ele piscou algumas vezes, como se estivesse acordando de um sonho.

- Os contratos... sim, claro... - respondeu, a voz fraca e desorientada. - Mas eu... eu não sei se posso fazer isso agora, Luiz.

Foi nesse momento que percebi que ele não estava mais em condições de gerenciar a fazenda. O luto o havia consumido de tal forma que seu corpo estava ali, mas sua mente não. Tomei uma decisão.

- Eu posso cuidar disso para o senhor - disse, com firmeza. - Sei que este não é o momento, mas a fazenda precisa continuar. Se eu tiver sua permissão, redigirei os novos termos e farei os acordos.

Ele me olhou por um longo tempo, como se estivesse tentando entender o que eu havia dito. Por fim, balançou a cabeça lentamente, em sinal de concordância.

- Faça o que for necessário, Luiz - disse ele, antes de se recostar na cadeira e fechar os olhos.

Com sua permissão, tomei as rédeas da administração da fazenda. Naquela mesma tarde, sentei-me à sua mesa e comecei a revisar todos os documentos e contratos. Havia muitos pontos a serem ajustados, prazos a serem renovados e negociações que precisavam ser reabertas. Enviei cartas aos comerciantes, informando-os de que a fazenda estava em transição, mas que os compromissos seriam mantidos. Sabia que era arriscado assumir tantas responsabilidades sozinho, mas eu tinha a confiança de que, com o conhecimento que havia adquirido ao longo dos anos, seria capaz de manter tudo sob controle.

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora