🍁CAPÍTULO 26🍁

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🍁Luiz

A tarde se desenrolava com o calor escaldante do sol, e a sensação de desconforto me acompanhava enquanto pensava em minha nova posição. A responsabilidade que Leonardo havia me confiado como seu secretário se tornava um fardo pesado quando se tratava de administrar o bem-estar dos trabalhadores. Aquela realidade me atingia como um soco no estômago; eu havia sido um deles, um entre aqueles que labutavam sob a opressão do trabalho forçado.

Quando ele saiu sem aviso, a sensação de solidão tomou conta de mim. Era estranho estar em uma posição de poder, mas a primeira coisa que fiz foi me dirigir ao canavial. O cenário era desolador: centenas de pessoas se esforçando sob o sol inclemente, suas faces cobertas de suor e desespero. Meu coração doía ao vê-los, e uma onda de empatia me invadiu. Lembrei-me de como era ser um deles, de como eu havia lutado por dignidade e respeito.

No meio da plantação, avistei um trabalhador que desmaiou, o corpo desabando ao chão, inerte e sem vida. A cena me paralisou por um momento, mas a urgência me fez agir. Corri até ele, colocando a mão em seu ombro, tentando reanimá-lo.

— Acorde! — disse, a voz firme, mas com uma preocupação genuína.

O capataz se aproximou, e, sem hesitar, ordenei:

— Vá buscar água, rápido!

O capataz olhou para mim, surpresa. Eu era um jovem, e ele não parecia respeitar minha autoridade. Mas a urgência da situação falou mais alto. Assim que a água chegou, eu coloquei gentilmente o copo nos lábios do trabalhador desmaiado, ajudando-o a se reerguer. Quando finalmente ele abriu os olhos, pude ver um lampejo de gratidão.

— Vá descansar — eu disse, ajudando-o a se levantar. — Você precisa de um tempo para se recuperar.

Após ter certeza de que ele estava a caminho de se recuperar, reuni os dez capatazes em uma área mais fresca sob a sombra de uma árvore. Eles se reuniram, e o clima era tenso; era evidente que alguns deles não estavam contentes com a minha presença.

— Escutem — comecei, tentando me impor, mesmo com um nó na garganta. — A partir de hoje, a situação dos trabalhadores irá mudar.

Alguns capatazes trocaram olhares, e um deles, um homem robusto de expressão dura, interrompeu:

— Quem você pensa que é para dar ordens aqui?

Aqueles que se atreviam a questionar minha autoridade me provocavam sentimentos mistos de raiva e medo. Mas eu sabia que não podia recuar agora. Lembrei-me de Leonardo e sua postura firme. Respirei fundo, decidindo utilizar o medo que eles tinham de seu nome.

— Se não obedecerem, mandarei chamar Leonardo para falar com vocês pessoalmente — eu declarei, tentando não deixar transparecer a insegurança em minha voz. As expressões de alguns mudaram; o medo era palpável.

— A partir de agora, nenhuma violência será permitida contra os escravos! — continuei, firme. — Se alguém for pego espancando um trabalhador, será punido severamente.

Ouvindo isso, os capatazes ficaram em silêncio, a resistência esmorecendo. O capataz que havia falado antes olhou para mim com uma nova atenção.

— E quanto à comida? — ele questionou, tentando manter a bravata.

— Eu ordenei que uma comida substancial seja fornecida a eles duas vezes ao dia, além de lanches. Se não tiverem comida suficiente, isso é culpa de vocês — eu disse, a raiva pulsando em minhas veias. — E não aceito desculpas.

Um murmurinho de descontentamento percorreu o grupo, mas a maioria estava relutante em desafiá-los. A lembrança do que eu mesmo havia passado me impulsionava. Eu não poderia deixar que o sofrimento continuasse.

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora