VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]

🍁CAPÍTULO 47🍁

🍁Leonardo

As palavras de Luiz ecoavam em mim enquanto o sol subia no horizonte, inundando a casa com uma luz suave. Olhei para o quarto onde ele repousava, finalmente adormecido em paz depois de tanto sofrimento. A visão dele dormindo com a mão repousada sobre o ventre me trouxe uma sensação mista de felicidade e tristeza. Não queria abandonar tudo que construí aqui, mas o que seria dessa riqueza se ele, a pessoa que amo, não estivesse feliz? Qual o valor de qualquer conquista sem a paz de quem foi minha verdadeira fortuna?

Eu não podia ignorar a dor de Luiz, as feridas que esta terra teimava em abrir nele. Desde que vi seu rosto sofrido naquela manhã, uma chama acendeu em meu peito. Sabia que a única decisão correta era partir. E se partir era o que garantiria a felicidade e segurança de Luiz e nosso filho, então que assim fosse.

A Itália… um país que sempre ouvira falar com carinho em minha casa, com histórias de minha mãe e de outros parentes. Desde pequeno, sonhava em explorar o mundo, mas jamais imaginara que seria o amor que me levaria a fazer uma jornada dessas.

Enquanto Luiz descansava, fui até o escritório e me sentei diante da escrivaninha. O mapa da Europa repousava sobre o tampo de madeira polida, e meus olhos se fixaram na Itália. Imaginava as paisagens descritas por minha mãe, os campos verdes, o aroma das vinhas. Imaginei Luiz caminhando livre e em paz, longe dos olhares de reprovação, com nosso filho ao lado, rodeado de pessoas que o respeitariam, não importando como tivesse vindo ao mundo.

Tomei um gole do café, refletindo sobre como toda a minha vida estava prestes a mudar. Quando deixei os Estados Unidos, tinha um plano diferente, uma ambição pessoal que estava enraizada no solo brasileiro. Pensava que voltaria um dia, mas o destino trouxe algo muito mais valioso. Ele me deu o Brasil, sim, mas, acima de tudo, me deu Luiz.

A lembrança do rosto de minha irmã Alice, marcado pela dor e, ao mesmo tempo, pela força, cruzou meus pensamentos. Ao lado dela, Luiz também havia encontrado uma nova esperança. Não poderia deixar minha irmã para trás, mas sabia que ela entenderia. Ela sempre desejou a liberdade de Luiz, sempre quis que ele tivesse uma vida digna e justa. Ir para a Itália não significava abandonar essas terras para sempre, e talvez, um dia, pudesse trazê-la também.

A decisão estava tomada, e meu coração, apesar da dor da despedida, se encheu de uma sensação de renovação, como se finalmente estivesse prestes a abrir um novo capítulo em nossas vidas. Levantei-me e caminhei de volta para o quarto. Luiz ainda dormia, sua respiração leve e tranquila, e a paz que emanava de seu corpo me confortava.

Quando ele despertou, mais tarde, com os primeiros raios de sol que invadiam o quarto, sentei ao seu lado e toquei seu rosto com carinho, permitindo que ele visse em meus olhos a determinação que havia tomado conta de mim.

— Luiz, tomei uma decisão — comecei, observando a reação dele, que piscou algumas vezes, talvez ainda confuso de sono. — Vamos deixar essas terras. Vamos para a Itália.

Luiz ergueu o olhar, visivelmente surpreso, e um misto de emoções passou por seu rosto. Ele tentou falar, mas as palavras pareceram faltar. Ao invés disso, agarrou minha mão com força, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.

— Leonardo… você faria isso por mim? — Sua voz tremia, e eu podia sentir todo o peso do que ele carregava em cada sílaba.

— Faria qualquer coisa por você e por nosso filho. Quero que ele cresça num lugar onde possa ser livre, sem precisar temer olhares ou palavras. A Itália será nosso lar, e lá construiremos uma nova vida, juntos.

Os olhos de Luiz se encheram de lágrimas, mas dessa vez, eram lágrimas de alívio, de esperança renovada. Ele me abraçou com força, e pude sentir todo o amor que ele depositava naquele gesto. Era um amor silencioso, mas tão profundo que me fazia acreditar que tudo que havíamos passado valera a pena para chegar até aquele momento.