🍁CAPÍTULO 34🍁

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🍁Luiz

O dia começou sereno, os primeiros raios de sol entrando pelas janelas do quarto. Acordei antes de Leo, que ainda dormia profundamente. Ele sempre dormia pesado depois de uma noite tranquila. Observei-o por alguns segundos, o jeito espaçoso e desajeitado com que se espalhava pela cama, como se, mesmo dormindo, quisesse estar perto de mim, temendo que eu fugisse. Aquela cena me fez sorrir. Com cuidado, saí da cama para não acordá-lo e fui me banhar.

Depois de me vestir, dei uma última olhada no dourado, que continuava largado nos lençóis, e saí do quarto. O clima na casa ainda estava calmo, com os empregados começando a preparar o café da manhã. Cheguei na cozinha e fui recebido por sorrisos e cumprimentos amistosos.

— Bom dia, senhor! — Disseram em coro, enquanto eu retribuía com um sorriso caloroso.

Peguei uma das panelas, disposto a ajudar. Eu gostava de sentir o calor da cozinha e estar entre eles, mesmo sabendo que não era esperado de mim. Maria, a cozinheira-chefe, me lançou um olhar de repreensão.

— Ei, ei, ei! Patrão não toca nas minhas panelas! — Disse ela, brandindo sua temida colher de pau.

Ri com sua reação, levantando as mãos em rendição.

— Tá bom, tá bom, tô saindo! — Brinquei, me afastando antes que ela resolvesse me acertar com a colher.

Com um sorriso no rosto, me sentei à mesa da cozinha e comi um pedaço de pão com doce de leite, saboreando a simplicidade daquele momento. As conversas ao redor eram leves, e eu me sentia em casa, mais do que jamais havia me sentido. A vida tinha tomado um rumo inesperado, mas estar ali, rodeado de pessoas que me respeitavam e cuidavam de mim, me fazia ver o quanto tudo tinha mudado para melhor.

Depois de comer, decidi voltar à sala para ler o jornal, algo que havia se tornado parte da minha rotina. Abri o jornal do dia, e logo me deparei com uma manchete preocupante: "Crise no Império Brasileiro". Meus olhos correram pelas palavras, absorvendo as notícias sobre a política instável e as tensões que cresciam no país. O coração apertou um pouco, afinal, tudo parecia tão distante da nossa vida aqui na fazenda, mas ao mesmo tempo, aquilo afetava a todos.

A cada linha lida, mais pensativo eu ficava. O mundo lá fora estava em constante mudança, e por mais que eu tentasse me manter distante das preocupações políticas, sabia que isso poderia afetar o futuro de todos nós.

Enquanto eu estava absorto na leitura do jornal, uma mão pesada me pegou de surpresa. Era Leo, com o cabelo bagunçado e uma expressão de sono ainda estampada no rosto. Ele veio meio cambaleando, com os olhos quase fechados, e um ar bravo.

— Detesto acordar depois de você! — resmungou, a voz rouca da manhã. — É injusto, sabia? Eu gosto de te ver dormindo... é a melhor parte do meu dia.

Eu não consegui segurar o riso. Sua cara de criança birrenta era impagável, e ele sabia me arrancar sorrisos até nos momentos mais inesperados.

— Ah, pronto. Vai começar o drama logo cedo? — brinquei, dando um leve tapa em seu braço.

Mas Leo não se deu por vencido. Ele veio até mim e se deitou no meu peito, buscando conforto como se o meu corpo fosse seu travesseiro pessoal. Eu podia sentir o peso do seu corpo, e mesmo com o jornal ainda em mãos, o calor dele contra mim era reconfortante. Seus olhos se fechavam, e por um momento achei que ele ia adormecer ali mesmo.

— Ei, você não vai dormir de novo, vai? — perguntei, cutucando seu ombro.

— Só mais cinco minutos... — murmurou ele, a voz abafada no meu peito, e eu podia sentir o sorriso preguiçoso se formar em seu rosto.

Mas não deixei ele escapar tão fácil.

— Nada de moleza! — falei, dando-lhe um empurrãozinho de leve para que ele se levantasse. — Temos trabalho pra fazer, Leo. O gado não vai se cuidar sozinho, e você sabe disso.

Ele bufou, fingindo irritação, mas se levantou devagar, ainda com aquele ar sonolento e charmoso que só ele conseguia ter pela manhã. O olhar que ele me lançou era cheio de amor, como se cada manhã ao meu lado fosse um presente para ele, e mesmo que fosse um pouco manhoso, eu adorava aquele lado mais leve e vulnerável dele.

— Tudo bem, chefe, vamos trabalhar, então... — disse ele, brincalhão, esticando os braços como se estivesse se espreguiçando pela última vez.

Eu ri, balançando a cabeça. Sabia que, mesmo com as brincadeiras, o dourado estava pronto para enfrentar o dia comigo, lado a lado, como sempre.

Continua...

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora