🍁CAPÍTULO 22🍁

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🍁Luiz

Alice havia partido, e a imagem de sua figura se afastando me consumia. O carro, um luxo que eu nunca havia imaginado, desapareceu pela estrada de terra, e com ele, a última ligação que eu tinha com a vida que conhecia. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, cada gota carregando um pedaço do que eu havia perdido. Sentia como se um buraco se abrisse em meu peito, um espaço vazio que não poderia ser preenchido.

Por que tudo havia mudado tão rapidamente? Uma parte de mim queria acreditar que, ao menos, a amizade que construíra com Alice ainda tinha algum valor. Mas agora, com sua partida para a Itália, eu me sentia como um náufrago em um mar de solidão.

Tentei afastar esses pensamentos e, em meio à angústia, segui para a cozinha. O cheiro doce dos bolos e biscoitos frescos no forno invadiu minhas narinas, e, por um momento, essa sensação de calor e conforto me deu um pequeno alívio. As cozinheiras estavam ocupadas, conversando e rindo enquanto preparavam as iguarias do dia.

— Olá, Luiz! — chamou Rosa, a cozinheira mais velha, enquanto polvilhava açúcar em um bolo quente. — Vem aqui experimentar o que fizemos hoje!

— Estou a caminho, Rosa! — Respondi, tentando esboçar um sorriso, embora meu coração estivesse pesado. A cozinha era um refúgio, um lugar onde a tristeza parecia ser esquecida, mesmo que temporariamente.

Rosa me observou enquanto eu pegava um pedaço do bolo. Ela parecia perceber que eu estava em um estado de confusão emocional, então decidiu puxar conversa.

— Você viu que o Leonardo está mais calmo agora? — ela comentou, misturando a massa de um pão. — A morte do pai o afetou, sabe? Todos nós estamos sentindo a dor dele.

— É… eu percebi — respondi, colocando um pedaço de bolo na boca. O sabor doce quase me distraiu da dor. — Ele… não me trata mais da mesma forma.

— Às vezes, a dor nos faz ver as coisas de maneira diferente — disse Rosa, parando por um momento e olhando diretamente para mim. — Pode ser que ele esteja apenas lidando com tudo isso à sua maneira.

— Eu só… não sei o que pensar — confessei, sem conseguir esconder a confusão na minha voz. — Um dia ele me maltrata, e no outro, age como se fosse um ser humano normal. É como se eu estivesse vivendo em um pesadelo.

Rosa suspirou, como se estivesse pensando nas suas próprias experiências.

— A vida é cheia de reviravoltas, Luiz. Às vezes, as pessoas ferem umas às outras sem querer, apenas por não saberem como lidar com a dor. Mas lembre-se, você tem seu valor. Não importa como Leonardo te trate, você é muito mais do que isso.

— Eu não sei o que vou fazer sem Alice — murmurei, o nó na minha garganta se apertando. — Sinto que perdi tudo. Ela era a única pessoa que me entendia.

— Você ainda tem a gente aqui na cozinha — disse outra cozinheira, Ana, que se juntou à conversa. — Nós podemos ser sua família também, se você quiser. Não está sozinho.

O carinho nas palavras de Ana me tocou. Eu sabia que aquelas mulheres se preocupavam comigo, e isso trazia um certo consolo. A cozinha era um lugar de calor e apoio, um abrigo temporário contra a tempestade que se abatia sobre minha vida.

— Obrigado — consegui dizer, ainda com a voz embargada. — Isso significa muito para mim.

Enquanto continuava a comer, as cozinheiras falavam sobre o futuro da fazenda e a chegada de Leonardo como novo patrão. Uma onda de incerteza percorreu meu corpo. O que significava isso para mim? O que aconteceria a seguir?

— Você acha que ele vai mudar as coisas por aqui? — perguntei, olhando para Rosa.

— Ah, isso é difícil de dizer. Ele é o novo chefe agora, e com isso vem um novo jeito de gerir as coisas. Mas não se preocupe, Luiz, nós vamos dar um jeito. Estamos aqui há muito tempo, e sabemos como lidar com isso.

VENDIDO AO ALFA [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora