Capítulo 15

138 16 0
                                    

O ambiente no galpão estava abafado. Shaw, amarrado em uma cadeira de metal, olhava fixamente para os capangas de Lauren, que permaneciam em silêncio, aguardando as ordens de sua chefe. As lâmpadas penduradas balançavam suavemente, projetando sombras distorcidas nas paredes de tijolos. Ele sabia que seu destino estava nas mãos de Lauren, mas ela ainda não havia aparecido. Isso o deixava inquieto.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, Camila segurava Bento com força, lágrimas deslizavam por seu rosto ao ver o machucado no rosto do filho. O pequeno soluçava, assustado, com o rosto enterrado no peito de sua mãe, buscando conforto em seus braços. O trauma estava impresso em cada tremor do corpo do menino, que só parava de chorar ao finalmente adormecer, exausto.

Lauren estava ali, em silêncio, observando a cena com seus olhos frios, mas por dentro algo se movia. O desespero de Camila, o medo de Bento, mexiam com ela de um jeito que há muito tempo não acontecia. De alguma forma, a fragilidade daquela criança e a conexão que agora via entre Camila e Bento a lembrava das próprias gêmeas. A dor de Camila era palpável, e Lauren sentia um estranho impulso de protegê-los.

Ela permaneceu encostada na porta, sem interromper. Camila precisava daquele momento com o filho. Mas logo, Lauren sabia, haveria perguntas a fazer e decisões a tomar. Shaw estava nas suas mãos, e ela precisava descobrir exatamente o que Camila queria que fosse feito com ele. Lauren ainda não sabia como lidar com esse novo sentimento que Bento despertava nela — ele não era apenas uma criança qualquer. De um jeito estranho, ela o enxergava como enxergava suas próprias filhas, mesmo que tentasse afastar esses pensamentos.

Finalmente, após um longo silêncio, Camila ergueu os olhos, enxugando as lágrimas. Ela ainda tremia, o medo e a raiva misturados em cada respiração.

— Lauren... o que você vai fazer com ele? — perguntou Camila, sua voz falhando um pouco.

Lauren se desencostou da porta e deu alguns passos para frente, seus olhos encontrando os de Camila.

— Isso depende de você — respondeu Lauren, sua voz baixa, mas firme. — Você tem o direito de decidir o destino dele, mas preciso que pense com calma. Qualquer decisão agora pode mudar tudo.

Camila suspirou, sentindo o peso daquelas palavras, enquanto o silêncio no quarto se estendia, quebrado apenas pela respiração suave de Bento, finalmente adormecido nos braços de sua mãe.

Lauren esperou pacientemente, sabendo que, mais uma vez, ela estaria disposta a fazer qualquer coisa por aqueles que, de alguma forma, entravam no seu círculo fechado. E agora, Bento fazia parte disso. Mesmo que ela não quisesse admitir.

Lauren permaneceu em silêncio por alguns instantes, observando o cansaço no rosto de Camila. Era um momento delicado, e embora tentasse manter sua fachada fria e controlada, sentia que aquele era o ponto de virada para ambas. Ela não poderia mais esconder a verdade.

Ela deu mais um passo, aproximando-se da cama onde Bento dormia nos braços de Camila. Os olhos de Camila, ainda avermelhados pelas lágrimas, subiram para Lauren, buscando respostas.

— Camila — começou Lauren, sua voz mais baixa do que o habitual, como se a gravidade do que estava prestes a dizer pesasse sobre ela. — Eu preciso que você entenda uma coisa… — Ela fez uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu não sou quem você pensa que sou.

Camila franziu o cenho, confusa. — O que você quer dizer com isso?

Lauren olhou para Bento, ainda adormecido, e depois para as gêmeas, que brincavam no andar de baixo, alheias ao mundo perigoso em que sua mãe vivia. Respirou fundo e prosseguiu.

— A minha empresa de joias... ela é uma fachada. — O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. — A verdade é que estou envolvida com a máfia. Todo o meu império, tudo que eu construí… vem desse mundo.

Camila arregalou os olhos, o choque imediato apagando qualquer outra emoção. Ela engoliu em seco, sem saber como reagir. — Você... está me dizendo que é uma criminosa? — Sua voz falhou ao tentar processar.

Lauren assentiu lentamente. — Eu não queria te envolver nisso, mas agora, depois do que aconteceu com Bento, acho que você merece saber. Shaw, o homem que está lá no galpão, ele está envolvido com coisas perigosas. Eu sempre fiz de tudo para manter as gêmeas longe dessa parte da minha vida, e agora... — Ela hesitou, olhando fixamente para Camila. — Agora você e Bento estão dentro desse círculo. Eu vou protegê-los, mas você precisa saber com o que estamos lidando.

Camila sentiu o estômago afundar. Era como se o chão sob seus pés tivesse desaparecido. Ela olhou para Bento, vulnerável, indefeso, e para Lauren, tentando entender como alguém tão fria e calculista poderia estar tão disposta a protegê-los.

— E Shaw? — sussurrou Camila, sua voz quebrada pela confusão. — O que você vai fazer com ele? Ele é o pai de Bento, mas... ele machucou meu filho. Eu não sei o que fazer.

Lauren se aproximou mais, seus olhos sérios e duros como sempre, mas havia uma faísca de empatia neles, algo que só aqueles mais próximos poderiam notar. — Não posso tomar essa decisão por você, Camila. — Ela se abaixou para ficar no nível de Camila e Bento, seu tom mais suave. — Mas posso garantir que ele não fará mais mal a vocês. Seja o que for que você decidir, eu farei o que for preciso para proteger você e seu filho. Ele não será mais uma ameaça.

Camila fechou os olhos, lágrimas escorrendo novamente, mas desta vez não era só medo. Era o peso da decisão que sabia que teria que tomar. Ela ainda amava Bento, e por mais que soubesse que Shaw era perigoso, parte dela se debatia com a ideia de ser responsável por qualquer destino terrível que pudesse recair sobre ele.

Enquanto Camila se afundava em seus pensamentos, Lauren se levantou e caminhou até a porta. — Vou reforçar a segurança da casa — disse, mudando o tom para algo mais prático. — Vou dobrar os guardas, instalar câmeras adicionais. Não só por você e Bento, mas também pelas meninas. — Ela fez uma pausa, como se quisesse acrescentar algo, mas optou por permanecer em silêncio.

Quando estava prestes a sair do quarto, ouviu a voz fraca de Camila atrás dela. — E se... e se eu decidir não fazer nada? Se eu não conseguir tomar essa decisão?

Lauren se virou lentamente, sua expressão agora impassível. — Então eu farei por você. Mas saiba que seja qual for a sua escolha, vou estar do seu lado. — Ela olhou para Bento uma última vez antes de sair. — Sempre.

Com isso, Lauren saiu do quarto, deixando Camila com suas dúvidas e o peso de uma escolha que poderia mudar tudo. Enquanto caminhava pelos corredores da casa, Lauren sentia algo que não estava acostumada a lidar: a sensação de vulnerabilidade. Não por ela mesma, mas pelas pessoas que agora se encontravam sob sua proteção.

Ela parou na sala de estar, onde as gêmeas brincavam distraídas. Ficou observando por um momento, percebendo o quanto tinha em jogo. Não podia permitir que nada acontecesse com elas, com Camila, ou com Bento.

Determinada, pegou o celular e começou a fazer as ligações necessárias para reforçar a segurança da casa. Ela sabia que o mundo em que vivia era impiedoso, e não podia se dar ao luxo de falhas.

Camila e Bento estavam sob seu cuidado agora, e Lauren faria o que fosse necessário para mantê-los a salvo. Mesmo que isso significasse enfrentar seus próprios demônios.

A Dama da noite Onde histórias criam vida. Descubra agora