Capítulo 5

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O Peso do Poder

O escritório de Mike Jauregui exalava a opulência de anos de negócios escusos. Lauren, de pé diante da mesa do pai, mantinha-se firme e fria, sem deixar transparecer qualquer emoção. Eles discutiam os próximos passos da organização, e, como sempre, Lauren era a peça central no planejamento das operações. Mike confiava nela completamente, mas alguns dos homens da máfia ainda resistiam à ideia de uma mulher comandando partes cruciais do império.

- Precisamos aumentar nossa presença na zona sul - Mike disse, sua voz grave preenchendo o ambiente. - A polícia tem pressionado mais do que o normal.

Lauren acenou de leve, o olhar distante enquanto já pensava nas soluções. Porém, antes que pudesse responder, um dos capangas mais antigos, Hector, soltou um riso de deboche.

- É engraçado ver o chefe confiando tanto nela... - ele murmurou, com um sorriso cínico. - Quer dizer, uma mulher liderando nossas operações? Será que você tem mesmo estômago pra isso, Lauren?

A sala caiu em silêncio absoluto. Todos os olhares se voltaram para Lauren. Hector era conhecido por sua língua solta, mas ali, diante de todos, ele estava testando os limites. Mike cruzou os braços, observando com atenção, sem interferir. Ele sabia que Lauren era mais do que capaz de lidar com isso sozinha.

Lauren, com seu semblante inabalável, se aproximou de Hector, os olhos tão frios quanto o gelo. Cada movimento era calculado, e o ambiente parecia carregado de tensão. Hector ainda sorria, claramente confiante de que suas palavras não trariam grandes consequências. Mas Lauren era a filha de Mike, e tinha aprendido a arte de comandar pelo medo e pela estratégia.

Sem aviso, ela agarrou Hector pela gola e o empurrou violentamente contra a parede. A força de Lauren, inesperada para alguém de sua estatura, fez o sorriso de Hector desaparecer instantaneamente. Ele arregalou os olhos, surpreso e assustado.

- Quer saber se sou capaz? - Lauren sussurrou, sua voz baixa, mas carregada de uma ameaça gelada. - Eu estou aqui porque sou melhor que qualquer um de vocês. Inclusive você, Hector.

Ela o soltou com um empurrão, deixando-o cambaleante, ofegante e sem fala. Lauren olhou ao redor, fazendo questão de encarar cada um dos presentes. Sua expressão permanecia fria, sem a menor oscilação. Para ela, aquilo não era sobre poder físico - era sobre controle e respeito. Não precisaria matar Hector para provar seu ponto, mas ele jamais se esqueceria do que aconteceu.

- Considerem isso um aviso - Lauren disse, sua voz ecoando pela sala. - O fato de eu ser mulher não diminui o que sou capaz de fazer. O próximo que questionar isso não vai ter tanta sorte.

Mike, ao fundo, observava com um leve sorriso. Ele sabia que sua filha era a única pessoa que podia comandar com o mesmo nível de frieza e eficácia que ele próprio. Lauren não era apenas sua sucessora - ela era o futuro da organização.

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Mais tarde, já em casa, Lauren tentava se concentrar em alguns documentos. As gêmeas, Clarice e Helena, ainda estavam na escola, e o silêncio da casa lhe dava uma sensação de controle. Desde a morte de Alexa, sua falecida esposa, as filhas eram um lembrete constante da perda, e, apesar de cuidar delas com todo o luxo e carinho material possível, Lauren mantinha uma distância emocional. Ainda as culpava, mesmo que não quisesse admitir, pela morte da única pessoa que amou de verdade.

Seu telefone tocou, quebrando sua concentração. Ao atender, a voz da professora Camila a pegou de surpresa.

- Lauren? Aqui é Camila, professora das meninas. Eu preciso te avisar que a Clarice caiu durante o recreio e se machucou. Não foi grave, mas acho que seria bom você vir até aqui.

Lauren sentiu o estômago revirar. Embora sempre mantivesse uma fachada fria e distante, a possibilidade de uma das filhas estar machucada mexeu com ela de uma maneira que ela não esperava. Mesmo sem o amor materno pleno, o instinto de proteção era forte, inegável. Em segundos, ela já estava no carro, acelerando em direção à escola, os pensamentos correndo mais rápido do que ela permitia sentir.

Ao chegar, Lauren foi direto à enfermaria. Clarice estava sentada em uma maca, com um curativo no joelho e os olhos marejados. Helena, ao lado, a observava com uma expressão preocupada. Ao ver a mãe, as duas crianças ficaram em silêncio. A presença de Lauren, tão austera, impunha respeito mesmo nos momentos mais vulneráveis.

- Mamãe... eu caí - Clarice murmurou, a voz baixa.

Lauren respirou fundo, ajoelhando-se ao lado da filha. Ela estendeu a mão e, com suavidade incomum, acariciou o cabelo da menina.

- Você vai ficar bem - disse, a voz firme, mas sem a frieza habitual. - É só um arranhão. Você é forte, Clarice.

Clarice assentiu, tentando conter as lágrimas, enquanto Helena se aproximava, preocupada com a irmã. Lauren se levantou e virou-se para Camila, que estava observando a cena à distância.

- Obrigada por avisar - Lauren disse, voltando ao seu tom controlado. - Vou levá-las para casa.

Camila apenas acenou, mas algo na maneira como olhou para Lauren dizia mais do que qualquer palavra. Por trás daquela fachada impenetrável, ela conseguia enxergar uma mulher que, mesmo relutante, se importava profundamente com suas filhas - mesmo que seu próprio coração ainda estivesse envolto em culpa e dor.

Enquanto voltavam para casa, com as meninas silenciosas no banco de trás, Lauren sabia que o medo que sentira ao ouvir sobre a queda de Clarice era apenas o início de algo que ela ainda teria que enfrentar. Não importava o quanto ela tentasse afastar o sentimento, a conexão com suas filhas estava ali, latente, esperando para ser reconhecida.

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