Capítulo 17

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Camila observou com carinho enquanto Bento se aconchegava nos braços de Lauren, um sorriso sereno nos lábios do garoto. No entanto, algo lhe pesou no coração ao ouvir "mamãe Lô". Ela sabia que Bento estava apenas expressando o afeto que começava a sentir por Lauren, mas sentiu que precisava corrigi-lo suavemente.

— Meu amor — disse Camila baixinho, colocando a mão delicadamente no ombro do filho —, a Lauren não é sua mamãe de verdade, ela é mais como... uma tia especial, sabe? — Ela tentou explicar, sem tirar o sorriso dos lábios, mas com um toque de seriedade.

Lauren, que ouvia a conversa, interrompeu antes que Bento pudesse reagir.

— Não tem problema, Camila — disse ela, sua voz firme, mas não fria como de costume. — Eu não me importo com o que ele me chama. Se "mamãe" é o que faz ele se sentir seguro... então que seja.

Camila ficou surpresa com a reação de Lauren, percebendo que havia mais ali do que apenas uma tentativa de conforto para Bento. A mulher que sempre parecia tão distante e controlada estava, aos poucos, revelando uma vulnerabilidade. O carinho que Bento lhe despertava parecia estar abrindo portas dentro de Lauren, portas que ela mesma talvez não soubesse que estavam trancadas há tanto tempo.

— Ele me faz sentir... algo — continuou Lauren, sua voz baixa, quase como se falasse mais para si mesma do que para Camila. — Algo que não sei explicar. Talvez seja esse amor que você sempre fala... esse amor que me ensina a amar as minhas próprias filhas de verdade.

Camila, surpresa com essa confissão inesperada, sorriu gentilmente. Não quis pressionar mais, apenas assentiu. Sabia que o processo de Lauren seria longo, mas estava feliz em ver essas pequenas faíscas de mudança.

Mais tarde naquela noite, depois que Bento e as gêmeas foram colocados na cama, Camila se preparava para ir embora, mas Lauren a chamou para ficar.

— Quer tomar uma taça de vinho? — sugeriu Lauren, seus olhos mais suaves agora, sem a barreira habitual.

— Claro, eu aceito — respondeu Camila, intrigada com o convite.

Sentadas na varanda, o céu estrelado e o silêncio da casa envolvendo as duas, elas começaram a conversar. A princípio, as palavras foram leves, sobre o dia, sobre o quanto as crianças se divertiram na piscina. Mas à medida que o vinho fluía, a conversa foi ganhando um tom mais profundo, ainda sem intenções ocultas, mas carregada de uma energia diferente.

— Eu não costumo me abrir com as pessoas — confessou Lauren, virando um pouco de vinho na taça antes de encará-la. — Mas hoje... foi diferente.

Camila sentiu algo dentro dela se acender, embora não soubesse exatamente o que. Ela tentou afastar qualquer pensamento além da amizade e do momento presente, mas as faíscas estavam ali, mesmo que ambas decidissem ignorá-las por enquanto.

— Acho que todos precisamos de alguém com quem contar — respondeu Camila, sua voz suave e cheia de compreensão. — E você... você tem feito um trabalho incrível, mesmo que não veja isso.

Lauren olhou para ela, seus olhos sérios, mas sem a usual barreira. Havia algo ali, uma conexão crescendo, mesmo que silenciosa. Aos poucos, ambas sentiram que essa noite marcava o início de algo que talvez demorasse a ser revelado, mas que já estava plantado, esperando o momento certo para florescer.

Quando Camila disse que iria deitar com Bento, Lauren, de forma inesperada, se ofereceu para acompanhá-los até a porta do quarto. O caminho até lá foi silencioso, com uma atmosfera tranquila entre as duas, até que, ao chegarem à porta, Camila, movida por um impulso, deu um abraço em Lauren. A mulher ficou tensa por um breve segundo, mas relaxou logo em seguida, permitindo-se retribuir o gesto.

— Obrigada, Lauren. Por tudo que você tem feito por mim e pelo Bento — sussurrou Camila, sentindo uma onda de gratidão genuína.

Lauren não respondeu imediatamente, apenas assentiu com a cabeça e deu um leve sorriso, algo raro para ela, mas carregado de significado.

Na manhã seguinte, a rotina voltou ao normal. Camila se despediu de Lauren e das meninas, e levou Bento de volta à creche antes de retornar ao seu trabalho como professora. Parecia mais um dia comum, mas, dentro de si, Camila sabia que havia algo diferente depois daquela noite. As faíscas entre elas eram sutis, quase invisíveis, mas estavam lá.

Dias se passaram, e tudo parecia estar em ordem, até que Camila percebeu o súbito sumiço de Lauren. As gêmeas continuaram indo à escola, sempre acompanhadas pelas babás e seguranças, mas Lauren não estava mais por perto. Ela havia saído em uma missão importante, uma de suas viagens sigilosas, dessa vez para fora do país, onde cuidaria de assuntos relacionados à máfia que liderava. Mesmo que não comentasse muito sobre isso, Camila sabia que Lauren carregava uma vida perigosa, algo que estava além do que ela podia alcançar.

As crianças, acostumadas com as ausências da mãe, não demonstravam surpresa, embora Clarice e Helena ficassem mais reservadas quando Lauren estava fora. Elas se apoiavam uma na outra, mas Camila sabia que essa ausência também pesava nelas, mesmo que fosse um reflexo da vida que Lauren havia escolhido.

Ainda assim, a vida seguiu seu curso, com Camila se dedicando às aulas e Bento se divertindo na creche. Mas, em meio a essa rotina, Camila não conseguia deixar de se perguntar quando Lauren voltaria e o que aquela pequena conexão que sentiu na noite do abraço significava.

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