A Dama da noite

Capítulo 26

Nos dias que se seguiram, a atmosfera na ilha continuava leve, e a rotina tornou-se uma espécie de fuga da vida que ambas tinham na cidade. A presença das crianças correndo e brincando ao redor, com suas risadas ecoando entre as palmeiras e o mar, parecia preencher aquele espaço isolado com uma alegria contagiante e despreocupada.

Primeiro dia

Na manhã seguinte ao beijo, tanto Lauren quanto Camila acordaram cedo, antes mesmo das crianças. A tensão do momento anterior ainda pairava entre elas, mas nenhuma das duas quis comentar sobre o que havia acontecido. Em vez disso, se dedicaram a preparar o café da manhã juntas, trocando pequenos olhares e sorrisos discretos enquanto as meninas e Bento ainda dormiam.

Quando as crianças acordaram, a energia da casa mudou completamente, e Lauren e Camila voltaram a se concentrar nelas. O dia foi repleto de atividades. Foram até um bosque perto da praia, onde as crianças puderam explorar e brincar de esconde-esconde. Camila os guiou pela trilha, ensinando as gêmeas e Bento a observar os pequenos detalhes da natureza. As meninas, curiosas, faziam perguntas sobre tudo que viam — desde o canto dos pássaros até as formas das folhas.

Naquela tarde, voltaram para a praia. As crianças, empolgadas com a água, brincavam próximo da areia enquanto Lauren e Camila as observavam. Os olhares entre elas eram breves, mas cheios de significado. Cada sorriso e risada compartilhada pareciam aproximá-las mais, como se o silêncio sobre o beijo tivesse se tornado uma compreensão silenciosa entre as duas.

Segundo dia

No segundo dia, a manhã começou animada com um café da manhã que as crianças ajudaram a preparar. Helena e Clarice insistiram em misturar a massa dos waffles, enquanto Bento, mesmo desajeitado, tentava decorar os pratos com frutas. Camila, com um sorriso no rosto, ajudava a guiá-los, e Lauren observava a cena, sentindo uma paz que há muito não experimentava.

Decidiram, então, explorar um novo ponto da ilha, um pequeno lago escondido em meio à vegetação, onde a água era calma e cristalina. Lauren carregou Bento nos ombros durante parte do caminho, enquanto as gêmeas corriam à frente, guiadas por Camila.

No lago, passaram boa parte do dia se divertindo. Camila e Lauren se revezavam com as crianças na água, ensinando-as a nadar com segurança. As risadas ecoavam pela clareira, e o ambiente natural oferecia uma sensação de privacidade e liberdade. À tarde, Camila organizou um pequeno piquenique com frutas e biscoitos, e todos se sentaram na grama para descansar. O sol estava mais ameno, e o ambiente ao redor era dominado pelo som suave das folhas e dos pássaros.

Enquanto as crianças brincavam, Lauren e Camila trocavam olhares que diziam mais do que qualquer palavra. As conversas entre elas eram simples, mas os silêncios pareciam falar por si mesmos. A proximidade física não era necessária; bastava saber que estavam ali, uma ao lado da outra, compartilhando aquele momento.

Terceiro dia

O terceiro dia foi o mais relaxante. As atividades dos dias anteriores haviam deixado as crianças exaustas, então Lauren e Camila decidiram ficar na casa e fazer algo mais calmo. Camila propôs uma tarde de artes para as crianças, usando tintas e folhas de papel que encontrou na casa. Bento e as gêmeas adoraram a ideia, e logo estavam mergulhados em um mundo colorido de pinturas e rabiscos.

Lauren, observando as crianças e Camila trabalhando lado a lado, sentiu um calor no peito, uma sensação de que aquele era o tipo de simplicidade que ela sempre desejou. A forma como Camila se conectava com as meninas e Bento, com paciência e carinho, era algo que tocava Lauren profundamente. Aquela cena tinha uma familiaridade que trazia à tona memórias de um tempo que parecia distante, mas sem a dor que costumava sentir.

Durante a tarde, Lauren se juntou a eles para pintar, embora com menos jeito que as crianças. Camila riu das tentativas desajeitadas de Lauren e, em um momento, pegou a mão dela para corrigir um traço. Aquele toque, breve e casual, acendeu a tensão silenciosa entre elas mais uma vez, mas ambas fingiram não notar.

No fim do dia, antes de anoitecer, saíram todos juntos para uma caminhada pela praia, agora sob o céu alaranjado do entardecer. Bento e as meninas corriam pela areia, parando de vez em quando para coletar conchas que mostravam animadamente para Lauren e Camila. As duas mulheres caminhavam lado a lado, acompanhando as crianças, e cada passo parecia reforçar o vínculo que haviam construído.

Quando finalmente retornaram à casa, o cansaço e a tranquilidade dominavam o ambiente. O último dia na ilha havia sido especial para todos eles, e, mesmo que o silêncio entre Lauren e Camila ainda tivesse o peso de algo não resolvido, havia também a aceitação mútua de que talvez, com o tempo, tudo faria sentido.

Naquela noite, enquanto as crianças dormiam e o vento suave movia as cortinas, Lauren e Camila se despediram com um leve sorriso antes de se recolherem. Cada uma, em seu espaço, levava consigo as memórias daqueles dias na ilha e a certeza de que, de alguma forma, aquele momento havia mudado algo dentro delas.

O retorno à rotina trouxe uma certa frieza de volta à vida de Lauren e Camila. Os dias na ilha pareciam um sonho distante, mas a lembrança do que haviam compartilhado ainda estava viva na mente de ambas. Lauren continuava trabalhando de casa, aproveitando para se recuperar da ferida que a fizera sentir-se vulnerável nos últimos dias. Ela confiou em Max para lidar com as questões mais urgentes e seguras, permitindo que ele assumisse o controle das operações enquanto ela se concentrava no trabalho remoto.

Os encontros casuais com Camila aconteciam, mas de maneira rápida e prática. Elas se viam na escola, trocavam algumas palavras e sorrisos breves. Camila falava sobre como Helena e Clarice estavam indo bem nas atividades e de como as meninas sempre perguntavam sobre o tempo que passaram na ilha. Cada vez que conversavam, a tensão sutil do que acontecera parecia pairar no ar, mas nenhuma das duas tocava diretamente no assunto.

Camila, por sua vez, dividia-se entre o trabalho e a vida com Bento, tentando retomar o ritmo enquanto processava em silêncio o que estava sentindo. Ela se perguntava se aquele beijo fora um deslize ou algo mais profundo, algo que talvez estivesse tentando ignorar. Ainda que não fosse seu plano inicial, Lauren ocupava seus pensamentos mais do que ela gostaria de admitir.

Lauren, acostumada a resolver problemas e tomar decisões rápidas, não sabia bem como lidar com a situação. Desde a morte de Alexia, não se permitira pensar em alguém de forma tão íntima. E, agora, Camila estava ali, entrando em sua vida de uma forma sutil e inesperada, tornando-se uma figura central não só para as meninas, mas para ela também.

Por enquanto, ambas preferiram deixar o tempo resolver o que as palavras não conseguiam explicar.