Epílogo

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O vento frio da noite cortava as ruas desertas enquanto as luzes da cidade piscavam, tentando manter sua essência, mas em algum lugar, entre as sombras e o concreto, a verdadeira essência das coisas havia desaparecido. O tempo, aquele inimigo invisível que tudo apaga, tinha passado. E ele havia levado mais do que poderia imaginar. Ele levou lembranças, rostos e sentimentos, sem piedade.

Dean, agora sentado em sua poltrona favorita, não tinha ideia do peso que carregava. O notebook estava ligado, mas ele não via. Seus olhos estavam vazios, como se o mundo ao redor fosse apenas um cenário distante, irrelevante. As conversas com Sam eram sempre cortadas, como se a distância entre eles fosse mais do que física. Não era só a idade, não era só o cansaço das batalhas que o afastavam, mas uma perda que ele não entendia. Algo se rompera dentro dele, mas ele não sabia o que.

Sam, do outro lado da biblioteca, tentava falar. Tentava alcançá-lo, mas Dean estava longe demais. A dor de ver seu irmão perdido, de ver como o peso de tantos anos havia apagado sua chama, era uma dor que Sam não sabia como lidar. Ele ainda falava sobre Celeste, lembrando-se dela, mas as palavras ficavam no ar, como uma história distante que não se encaixava mais. Dean não ouvia. Ele não se lembrava da mulher que tinha sido sua âncora, que havia lutado ao seu lado até o último suspiro, que tinha se sacrificado para garantir que ele, de alguma forma, tivesse uma chance de continuar. Não restava mais nada. Não restava a lembrança de seus olhos, de suas risadas ou das noites que passaram juntos, fugindo da dor do mundo.

E enquanto o bunker de repente se sentia mais vazio, com um silêncio pesado onde antes havia vida, Cole também vivia em sua própria névoa. A garra que a vida tinha sobre ele o deixava perdido, sem conseguir entender como o tempo havia passado. Ele ainda trabalhava como barman, um trabalho simples, onde ele passava os dias tentando afastar o vazio que não sabia como preencher. A memória de Celeste? Já não estava mais lá. Ele acreditava que ela ainda estava por aí, servindo drinks, talvez em algum lugar distante onde ele não sabia que procurar. As lembranças de sua irmã haviam sido apagadas de sua mente, como uma mancha de tinta que desaparece na água. Ela não estava mais lá para ele, e ele não sabia o quanto isso o consumia, porque não se lembrava de que ela fora a razão de tantas coisas - do amor, do sacrifício, da dor que ela carregou para manter todos seguros. Ele não sabia o que ele perdera.

E Celeste, a alma que havia feito o impossível por aqueles que amava, agora estava perdida. Não mais uma mulher, mas um eco distante. Ela caminhava entre os véus da vida e da morte, entre as sombras de um destino que não mais controlava. Ela se tornara uma alma condenada, uma figura que esvoaçava entre os reinos, sem um rumo certo, sem saber se poderia voltar ou se deveria. O que restava dela? Ela havia dado tudo por Dean, por Cole, por todos os que ela amava, mas o preço havia sido alto demais. Ela não sabia mais se poderia viver com a dor de ter sido esquecida, ou se deveria se conformar com o fato de que suas escolhas a haviam levado a um fim inevitável.

Mas o sacrifício, o verdadeiro preço, estava ali. Ela sabia que aquilo era parte do destino que escolheu, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. A saudade cortava sua alma, e ela sentia cada pedaço de sua essência desaparecendo, apagada pela decisão que tomara. Ela não poderia mais retornar, não poderia mais estar com Dean ou com Cole. E as marcas da sua partida, as runas que haviam sido desenhadas em seu corpo, agora estavam invisíveis para todos. Mas ela sabia o quanto eram profundas. Ela sabia o quanto seu amor por Dean a havia levado a escolhas difíceis, e o quanto ela havia feito tudo para mantê-lo seguro, mesmo quando a morte a chamava para sempre.

E o que restou? Dean esqueceu. Ele não se lembrava de nada do que ela fizera por ele, do quanto ela havia se sacrificado para que ele pudesse ser livre, para que ele tivesse uma vida, mesmo que fosse uma vida marcada pela dor e pela escuridão. Ele continuava, sem saber, vivendo como se nada tivesse acontecido. Mas ele não sabia. Ele não sabia o que se passava nos corações daqueles que um dia o amaram. Ele não sabia que, no fundo, sua própria vida se desfez em sombras, enquanto o amor de Celeste se apagava como uma vela ao vento.

𝐎𝐦𝐞𝐧 𝐨𝐟 𝐝𝐞𝐚𝐭𝐡 | Dean Winchester Onde histórias criam vida. Descubra agora