CAPÍTULO 35

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Cheguei em casa com o coração pesado. Cada passo até a porta parecia me lembrar da cena com Luke, das palavras que trocamos, do olhar dele quando o deixei para trás. Suspirei, tentando afastar essa sensação opressiva. A primeira coisa que fiz foi pegar o telefone fixo da minha casa para ligar para o Gael. Não queria ir até Luke para pegar meu celular agora; a ideia de encará-lo fazia meu peito apertar ainda mais.

Gael chegou por volta das duas da tarde, com o semblante preocupado assim que me viu. Eu estava ali, com os olhos inchados de chorar, a dor e o arrependimento ainda frescos demais. Ele não disse nada, só me envolveu num abraço silencioso, mas reconfortante, como se soubesse que era disso que eu precisava. Eu me deixei afundar naquele gesto, sentindo que, pelo menos naquele momento, eu não estava sozinha.

Depois de explicar tudo o que tinha acontecido, estávamos sentados na varanda, observando o movimento tranquilo da rua, enquanto ele me escutava pacientemente. Com uma garrafa de vinho entre nós, cada gole parecia aquecer um pouco mais meu coração, me ajudando a lidar com o que eu sentia.

- Mas você foi muito corajosa, sabia? - disse ele, sorrindo de canto, tentando levantar meu ânimo.

- Não queria ter dito nada daquilo a ele, Gael. - Desviei o olhar, minha voz saindo fraca. - Mas foi necessário. Quem sabe agora ele não me deixa em paz?

Ele me deu um olhar cético, como se soubesse que não seria tão fácil assim.

- Acho meio difícil. - Ele deu um gole no vinho, pensativo. - Mas você não pode ficar sem seu celular, Nicole.

Eu suspirei, sentindo o peso das palavras dele. Ele tinha razão, mas a ideia de voltar até Luke agora parecia um pesadelo.

- Como? Não quero ver ele agora, Gael.

Ele sorriu com um brilho misterioso no olhar e pegou o celular do bolso, digitando um número enquanto eu o observava, confusa.

- Camila, oi! Tô aqui com a Nicole. Vamos passar na sua casa daqui a pouco.

Assim que ele desligou, colocou o celular de volta no bolso e me lançou um olhar satisfeito. Eu o encarei, tentando entender onde ele queria chegar.

- O celular é seu e você terá que ver ele de qualquer jeito - Mas não precisava ser agora.

- Como a Camila vai ajudar a gente? - perguntei, ainda meio perdida.

- Nicole, isso é fácil. A gente fica com ela até o Luke aparecer. Assim, você pede seu celular... ou, se preferir, eu peço por você.

Minha mente se acelerou com a ideia, meu coração começou a bater mais rápido só de pensar em encarar Luke.

- Não sei se ele vai querer me entregar, Gael. - As palavras saíram num murmúrio, como se eu estivesse dizendo isso mais para mim mesma.

- É isso, ou comprar um novo? - Ele me lançou um olhar desafiador, um sorrisinho no rosto.

Eu dei um suspiro pesado, pensando nas finanças da minha família.

- Não... meu pai tá cheio de dívidas e minha mãe gastou muito com esse noivado. - Só de imaginar o rosto de Luke, era um misto de dor e raiva senti um arrepio subindo pela espinha, deixando meu corpo em alerta. Será que ele realmente me entregaria o celular?

Gael, ao meu lado, parecia perceber meu desconforto. Ele colocou a mão sobre a minha, me dando um pequeno aperto reconfortante.

- Olha, se ele não entregar, a gente dá um jeito.

Luke, não podia ficar com meu celular pra sempre.

As palavras dele trouxeram um conforto que eu não esperava. Mesmo assim, eu não conseguia afastar a inquietação. A possibilidade de ver Luke ainda hoje me fazia sentir uma mistura de medo e... algo mais. Algo que eu não queria admitir para mim mesma.

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