CAPÍTULO 06

431 32 13
                                    

A semana tinha passado rápido demais. Entre as aulas e as horas na livraria, meus dias pareciam escapar pelos meus dedos. Não tinha visto o Luke desde aquele incidente na varanda. Na verdade, nem sabia se queria vê-lo. Eu não conseguia parar de pensar nas coisas que ele disse; uma dor incessante queimava em meu peito. Na minha casa, as discussões entre meus pais continuavam, e toda vez que isso acontecia, eu tentava sair com a Mia, ela ficava tão afetada quanto eu. Mas, agora, pelo menos ela estaria a salvo disso tudo. Ela foi passar o fim de semana na casa da vovó, e eu só podia torcer para que ela esquecesse um pouco dessa tempestade.

- Hoje vai ser a noite das garotas - anunciou Camila, me fazendo encarar seu sorriso animado enquanto caminhávamos. Era sexta-feira, e já havíamos combinado de passar a noite juntas, especialmente porque o pai dela permitiu que ela ficasse em casa e não fosse ajudar no bar.

- Camila, minha casa não está num ambiente muito legal... - murmurei, deixando transparecer minha tristeza e a decepção que martelava dentro de mim. Com meus pais se atacando o tempo todo, eu sabia que uma noite de garotas em minha casa seria tudo, menos agradável.

Ela segurou meu braço, sua expressão preocupada.

- Ah, Nicole... eles ainda estão discutindo? - perguntou, com aquele toque de carinho que só Camila sabia expressar. Concordei com a cabeça, e não consegui conter uma lágrima solitária. Era doloroso demais ver meus pais daquela forma. Nossa família costumava ser feliz.

- Sim, eles não param. Acho que... eles vão acabar se separando. - As palavras saíram como um sussurro pesado.

Ela me abraçou apertado, me envolvendo em um conforto que eu nem sabia que precisava.

- É só uma fase. Logo, logo eles vão se entender, você vai ver.

- Espero... porque não aguento mais isso.

Ela continuou caminhando ao meu lado, ainda com o braço ao redor de mim, tentando me arrancar um sorriso.

- Então, que tal fazermos lá em casa a noite das garotas? Assim, você escapa um pouco desse caos.

Aquilo me trouxe um pouco de alívio, mas logo hesitei, e ela percebeu, olhando-me com preocupação.

- Algum problema?

- Não, é só que... preciso falar com o meu pai antes.

- Certo. Te espero lá então.

Quando cheguei em casa, o vazio era evidente. Minha mãe não estava, saía muito ultimamente. Talvez fosse uma fuga para evitar as brigas. Entrei na sala e encontrei meu pai, largado no sofá, bebendo algum líquido em uma caneca de café. Aquele ambiente pesado, as discussões frequentes... eu mal reconhecia meus pais.

- Pai? - chamei, tirando-o de seus pensamentos. Ele se levantou rapidamente, forçando um sorriso que parecia tão fora de lugar.

- Oi, querida.

Sentei-me ao lado dele, tirando minhas botas e tentando puxar alguma conversa. Meu pai sempre fora calmo, detestava discutir, mas parecia que até ele estava perdendo a paciência.

- Hoje vou dormir na casa da Camila, é a noite das garotas.

Ele assentiu, talvez aliviado com minha ausência naquela atmosfera carregada.

- Que bom, filha. Só tome cuidado, tá?

- Eu sei, pai. E... ele me vê só como uma irmã, pode ficar tranquilo. - Minha voz saiu quase em um sussurro, como se quisesse acreditar nisso também.

Ele deu um suspiro, desviando o olhar, e o assunto logo mudou para algo desconfortável.

- Pai, aproveita que eu e a Mia vamos estar fora e tenta resolver as coisas com a mamãe.

GANGSTER Onde histórias criam vida. Descubra agora