CAPÍTULO 19

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A chuva ficava mais intensa enquanto eu mantinha o olhar fixo na janela, evitando encará-lo. O frio começava a incomodar, mesmo com o aquecedor ligado. Suspirei e puxei minha blusa para tentar me aquecer, mas ainda não era suficiente. Luke percebeu e, sem dizer nada, pegou sua jaqueta no banco de trás, estendendo-a para mim.

- Toma, pra você se esquentar.

Revirei os olhos, mas peguei a jaqueta, aceitando o gesto. Assim que a vesti, o cheiro dele me envolveu por completo - aquele aroma inconfundível, viciante. Senti um misto de raiva e atração. Por que era sempre assim? Por que ele sempre conseguia me fazer ceder, me deixar envolvida? Cada parte de mim parecia incapaz de resistir a ele, mesmo que eu quisesse. Lancei um olhar rápido na direção dele, mas ele parecia completamente sereno, com o rosto neutro enquanto dirigia, como se nada tivesse acontecido.

Sem perceber, acabei adormecendo no caminho, exausta da batalha interna. Acordei com um leve toque no rosto, a mão de Luke roçando minha pele, e abri os olhos lentamente. Ele estava sorrindo, um sorriso tranquilo, mas que só aumentava minha frustração.

- Chegamos.

Olhei pela janela e vi minha casa. A chuva continuava a cair, forte, e as luzes estavam acesas. Meu pai devia estar em casa. Suspirei, aliviada por finalmente estar ali.

- Certo, já vou. Obrigada pela carona.

Tentei abrir a porta, mas senti o braço de Luke se estendendo, puxando a porta para fechá-la novamente. O encarei, sem entender.

- Eu não te entendo, Nicole. Achei que a gente já tinha conversado sobre isso.

Eu sabia exatamente sobre o que ele estava falando, mas me recusei a encarar de frente. Não podia deixá-lo ver o quanto aquilo me incomodava.

- Eu não falei nada. E sim, a gente já conversou, como você mesmo disse.

Ele me olhou de lado, com um sorriso que deixava claro que ele sabia que eu estava mentindo, que eu estava apenas tentando me proteger daquela situação desconfortável.

- Tá bom. Então, me diz por que você ficou tão incomodada em me ver com aquela garota? - ele perguntou, a voz carregada de um tom provocador.

- Eu não fiquei - rebati, cruzando os braços, tentando esconder o quanto aquilo tinha me afetado. - Só queria deixar vocês a sós, como você queria.

Ele soltou uma risada baixa e desviou o olhar por um momento, mas logo voltou a me encarar, penetrante, desafiando minha mentira. Eu sentia meu rosto arder de frustração e me odiava por me deixar tão vulnerável diante dele.

- Certo. Então me explica por que você fica incomodada quando me vê com algum garoto? - questionei, as palavras saindo com um peso que fez meu coração acelerar.

- Eu só tô tentando te proteger, Nicole. Eu sei que eles não prestam.

Os olhos dele estavam mais escuros que o normal, e a intensidade em sua expressão me desarmava. Ele parecia tão calmo, com um controle de si mesmo que eu invejava profundamente.

- E por que você acha que sabe quem presta pra mim ou não? - perguntei, a voz saindo mais trêmula do que eu gostaria, revelando a mistura de raiva e vulnerabilidade.

- Sei mais do que você pensa - respondeu, com firmeza. - Só quero te ver bem.

Fiquei em silêncio por um segundo, processando aquilo. Ele realmente acreditava que podia decidir com quem eu andava, com quem eu falava, como se tivesse algum direito sobre mim. Respirei fundo, tentando manter a compostura. Com um último olhar de desafio, abri a porta do carro e saí, sentindo a chuva gelada imediatamente me envolver. Ouvi ele bufar, mas ele não se moveu para me seguir, e eu também não olhei para trás.

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