GANGSTER

CAPÍTULO 23

A escola passou normalmente, o problema era o cansaço do meu corpo. Depois, fui para a livraria encontrar o Gael, que ainda parecia irritado comigo por eu ter ido à festa e não o ter chamado. Eu sabia que ele estava chateado, mas não esperava que fosse tão forte.

Assim que entro, vejo ele sentado no banco, mexendo no celular, claramente imerso em algo. Coloco as sacolas no balcão e o encaro por um momento, respirando fundo.

- Comprei sushi. - digo, tentando suavizar o clima.

Ele olha para mim, e o olhar dele é mais frio do que o normal.

- Adoro sushi, mas ainda não te perdoei por ontem. - A voz dele sai levemente ríspida, e eu sinto uma pontada de culpa.

- Foi o Emete que comprou os ingressos, não fui eu. - tento justificar, sentando ao lado dele e começando a pegar o sushi. Ele faz o mesmo, mas o ar de desaprovação ainda paira sobre nós.

- O Emete é super a fim de você, só por isso vou perdoa. - Gael diz, a voz carregada de um tom de incomodado.

Eu respiro fundo, tentando não perder a paciência, e respondo sem olhar para ele.

- Não gosto dele, Gael. Só como amigo, já deixei isso claro pra ele. - meu tom sai mais firme do que eu planejava, e Gael ergue uma sobrancelha, claramente ofendido.

- Nicole, ele é bonito. - Ele me observa, os olhos estreitos, como se me testasse.

- Sim, pode até ser. Mas isso não muda o fato de que eu não gosto dele assim. - Tento me manter calma, mas algo em Gael me faz sentir que ele não está totalmente convencido. Ele resmungou e pegou um gole do suco, mordendo o sushi com um pouco mais de força do que o necessário.

- Pelo menos a festa foi boa? - Ele tenta mudar de assunto, mas o tom dele ainda é carregado de mágoa.

- Mais ou menos... saí cedo. - Eu respondo, pegando mais sushi para evitar o olhar dele.

- Por quê? - Ele questiona, o olhar fixo em mim, esperando uma explicação. Sinto o peso da pergunta, mas não quero dividir com ele os reais motivos.

- Tinha que ficar com meu pai. - Tento desviar, mas ele percebe que estou mentindo ou, pelo menos, omitindo.

Gael não me questiona mais. Voltamos a comer, mas a conversa ficou congelada.
Tínhamos almoçado e, depois, fui limpar as prateleiras de livros. Subia e descia as escadas, esfregando e tirando o pó, sem pensar muito no que estava acontecendo ao meu redor. Até que uma voz me interrompeu, e eu soube imediatamente quem era, antes mesmo de me virar. Só a voz dele tinha o poder de me deixar nervosa, provocando um frio na minha barriga.

- Nicole? - Ele disse, e eu não precisei olhar para saber que era o Luke. O tom dele estava carregado de algo que me fazia querer fugir e, ao mesmo tempo, não conseguir.

Me viro, e o vejo ali, parado atrás de mim. Ele me observa de cima a baixo com aquele olhar penetrante que eu já conhecia, um olhar que fazia minha pele esquentar de tanto desconforto. Senti o coração bater mais rápido e, sem saber o que fazer, saí das prateleiras e me aproximei dele, tentando disfarçar a tensão.

- Oi, Luke? - Falo com a voz um pouco trêmula, tentando manter a calma, mas meu corpo já estava me entregando.

Ele cruza os braços, e o olhar dele se estreita, ele parecia irritado ou zangado.

- Só me fala uma coisa... Que história é essa de seu primeiro beijo foi com o Emete? - Ele pergunta, o tom ríspido, quase como uma acusação. Aquilo me atingiu com a força de um soco no estômago.

Eu não sabia se ele podia ver a surpresa estampada no meu rosto, mas, por dentro, tudo estava uma bagunça, mas que inferno.

- Foi o que eu pensei na hora que... - minha voz sai mais alta, e não consigo mais esconder a raiva que cresce dentro de mim. - E se eu tiver beijado ele?