CAPÍTULO 13

174 17 4
                                    

A noite parecia arrastar-se lentamente, cada minuto mais pesado que o anterior. Deitada na cama, eu olhava para o teto, as luzes fracas do abajur lançando sombras suaves nas paredes do quarto. Não conseguia parar de pensar na voz chorosa de Mia. Minha irmãzinha parecia tão triste, tão perdida sem mim e sem papai por perto. Aquela separação estava pesando nela mais do que eu imaginava. O coração apertava cada vez que me lembrava das palavras dela. Sentia-me impotente.

E, para complicar, havia também Luke. Ele vinha tomando conta dos meus pensamentos sem pedir licença, um turbilhão constante de confusão e desejo que me deixava perdida. Ele parecia brincar com meus sentimentos - uma hora me queria perto, me beijava com uma intensidade que eu nunca havia experimentado antes, e na outra me ignorava, como se eu não fosse nada. Aquela lembrança do beijo ainda queimava nos meus lábios, vívida demais para ser ignorada. Era a coisa mais intensa que eu já sentira, um arrepio que ainda me fazia estremecer.

Enquanto tentava entender o que ele realmente queria de mim, meu celular vibrou ao meu lado, me arrancando dos pensamentos. Eu me sentei, o coração acelerado, com um misto de expectativa e receio. Ao ver o nome dele na tela, meu estômago revirou.

Luke
Tá tudo bem? Vi que você estava chorando.

Fiquei com o celular na mão, sem saber o que responder. Por que ele não veio perguntar isso na hora? Por que esperou até agora para se preocupar? Ele estava sempre jogando, me deixando confusa, me fazendo sentir coisas que eu nem sabia que era capaz de sentir. Pensei em ignorar a mensagem e travei o celular, jogando-o ao meu lado.

A vibração soou novamente.

Luke
Se você não responder, vou até aí.

Senti meu peito apertar. A ideia de Luke vindo até a minha casa no meio da noite me deixou inquieta. Meu pai com certeza acharia estranho e, pior, perguntaria o motivo. Eu não teria uma boa resposta para isso e não saberia mentir. Respirei fundo e, ainda que a contragosto, enviei uma resposta curta.

Nicole
Sim, está tudo bem.

A resposta veio quase que imediatamente.

Luke
Por que você estava chorando?

Olhei para aquelas palavras por um longo momento, indecisa. Eu realmente não queria compartilhar essa parte de mim com ele, especialmente quando ele parecia se divertir me deixando vulnerável. Travei o celular novamente, deitando-me na cama e tentando afastar a sensação de incerteza que ele sempre deixava em mim.

Tudo em Luke parecia um enigma. Ele me beijava com uma intensidade que fazia meu corpo inteiro reagir, mas, logo depois, me tratava como se nada tivesse acontecido. Era como se ele tivesse prazer em me provocar, em me deixar querendo mais, sem nunca dar qualquer certeza. Eu sabia que deveria me afastar dele, mas aquele desejo queimava em mim, um impulso quase incontrolável. A verdade era que, por mais que eu tentasse negar, eu não queria que ele se afastasse. Ele parecia ter uma atração irresistível, algo viciante.

A ideia dele me querer assim, ainda que por momentos, me fez sorrir sem querer.

🦂

Após a escola, decidi ir direto para a livraria. Prometi ao Gael que hoje ia ajudá-lo, e, apesar de já estar cansada, sabia que essa tarefa me faria bem, me manteria ocupada. Ao entrar, encontrei-o no balcão, com o celular na mão.

- Você não pode ficar mexendo no celular aqui, se meu pai ver... - falei, com uma leve reprovação na voz. Ele parecia imerso no que estava fazendo, mas assim que me viu, rapidamente guardou o celular no bolso.

GANGSTER Onde histórias criam vida. Descubra agora