CAPÍTULO 24

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Continuei deitada na minha cama aproveitando a companhia da Mia.
Quando meu celular vibra, vejo que é uma mensagem do Luke. Ele quase nunca me manda mensagens, então decido abrir imediatamente.

Luke
Nicole, venha aqui fora!

Assim que leio, meu coração dispara. Levanto da cama num pulo, imaginando Luke parado do lado de fora da casa da minha mãe. Ao abrir a porta da frente, o vejo lá, em cima da moto, sob a luz fraca da noite. Não entendo o motivo da visita, mas me aproximo, quase hesitante, sentindo o vento frio no rosto. Ele permanece imóvel, com um olhar indecifrável.

- Oi, Luke... - murmuro, tentando encontrar alguma resposta em seus olhos.

Ele sorri de canto, aquele sorriso que sempre me deixa sem ar, e então, suavemente, segura meu queixo, prendendo meu olhar ao dele.

- Oi, Nicole - diz ele, num tom baixo e intenso. Sua mão desliza para longe do meu rosto, mas o calor permanece. - Está tudo bem com você?

Seu olhar está diferente, frio e distante. Ele parece... estranho. Algo não está certo.

- Sim... está tudo bem - respondo, tentando esconder minha confusão.

Ele inspira fundo, os olhos fixos nos meus. - Só vim me certificar de que você está bem antes de eu... ir.

Aquelas palavras cortam o silêncio, rasgando algo dentro de mim. Ele vai embora? Meu coração despenca, as palavras dele ecoando na minha mente.

- Como assim... antes de ir? - sussurro, sentindo um peso se formar no peito, uma tristeza que mal posso conter.

Ele evita meu olhar por um momento, antes de responder.

- Vou ter que ir embora da cidade, apareceu uma coisa urgente e só eu posso resolver.

Sinto a garganta se fechar, uma mistura de incredulidade e dor tomando conta de mim.

- Mas... por quê? Por quanto tempo?

A ideia de Luke ir embora novamente é quase insuportável. A última vez que ele foi, levou anos para que ele voltasse. Quanto tempo eu teria que esperar dessa vez? Ele realmente vai embora de novo?

Ele suspira, quase como se também estivesse lutando contra algo dentro de si.

- Ainda não sei por quanto tempo. Mas eu queria te pedir uma coisa... Não se coloque em perigo e tenha cuidado com as pessoas, Nicole.

Ele desce da moto, parando bem na minha frente, seus olhos agora parecendo mais escuros, mais intensos. Minha vontade é desabar, chorar, implorar para ele ficar. Estou gostando tanto de tê-lo por perto, mesmo com nossas brigas que virou hábito, tanto que dói imaginar ele indo embora outra vez

- Preciso que você me prometa, Nicole - ele diz, a voz rouca, quase como se suplicasse.

Sinto lágrimas querendo brotar, mas luto contra elas, piscando várias vezes, determinada a não chorar na frente dele. Inspiro fundo, tentando conter o tremor na minha voz.

- Eu... eu prometo.

Ele não espera mais nada. Me puxa para um abraço apertado, tão forte que sinto o coração dele batendo contra o meu. O cheiro dele, aquele perfume amadeirado, me envolve, e tudo o que eu quero é beijá-lo, pedir para ele ficar. Sinto uma lágrima solitária cair do meu olho, uma despedida que eu não consigo evitar.

Ele se afasta lentamente, seus dedos deslizam pelos meus braços até não haver mais contato.

- Nicole.... - Ele parecia incerto, e sua voz era rouca, os olhos dele pareciam pesados.

- Sim?

- Se cuida.

Luke sobe na moto, me lança um último sorriso, e então vai embora, sumindo na noite.

Fico ali, parada, perdida. Ele se foi. Enxugo as lágrimas que teimam em cair, mas a sensação de vazio permanece.

Decido voltar para dentro de casa, ainda com o peso da despedida de Luke no coração. Ao entrar, vejo minha avó sentada no sofá, tranquila, assistindo a algo na TV. Ela levanta os olhos e me olha com aquele sorriso carinhoso.

- Era seu namorado? - pergunta, com aquele tom curioso de sempre.

Dou um sorriso leve, tentando disfarçar a dor que ainda sinto. - Ah, não, vó... era...

Ela arqueia uma sobrancelha, curiosa.

- Não é um dos meninos Bryan?

A memória dela é ótima; nossas avós sempre vinham nos visitar quando éramos crianças, então ela conhece bem os meninos.

- Ah, sim, é o Luke.

Me aproximo e deito no sofá, colocando a cabeça em seu colo. Ela começa a alisar meu cabelo, seus dedos passando suavemente entre os fios. Esse gesto sempre me confortou, como se todos os meus problemas diminuíssem sob seu toque.

- Ele mudou muito... - diz ela, pensativa. - Teve uma vez, quando vocês eram pequenos. Estavam os três filhos do Bryan e você. Umas crianças implicaram com o seu cabelo porque sua mãe fez tranças, e o Luke ameaçou os meninos. Mesmo pequeno, ele já tinha uma personalidade muito forte.

Tento puxar pela memória, mas não me lembro dessa história. Talvez eu fosse muito pequena.

- E o que houve? - pergunto, curiosa.

Ela suspira, os olhos vagos, recordando. - Ah, as crianças contaram pro pai delas, que conversou com o senhor Bryan.

Sento-me um pouco, olhando diretamente para ela, sem querer que ela pare de contar.

- E o que o senhor Bryan fez?

Ela sorri, dando de ombros. - Não sei, querida.

Me recosto novamente, deixando que minha avó continue acariciando meu cabelo. Fico em silêncio, absorvendo cada palavra. Luke sempre foi protetor comigo, mesmo quando eu era muito pequena para perceber. Esse amor de irmão que ele sempre falou... talvez eu finalmente entenda agora, e isso só torna sua partida mais difícil de suportar.

🦂

Cheguei à escola quase no horário da primeira aula. A distância da casa da minha mãe torna tudo mais complicado, então chegar a tempo sempre é um desafio. Ao entrar na sala, meus olhos imediatamente encontram Camila, sentada em seu lugar de sempre. Ela está com uma expressão abatida, e não é difícil entender o porquê: seu irmão, Luke, foi embora. Me sento no meu lugar, atrás dela, e não consigo ignorar o quanto ela parece desolada, mais do que nas outras vezes que ele partiu.

- Camila, você está bem? - pergunto, na esperança de que ela se abra comigo.

- Sim - ela responde em um tom baixo, olhando para a frente, sem desviar os olhos. Mas algo no jeito dela me faz perceber que não está nada bem.

Ela parece mais triste do que nunca, como se estivesse realmente afetada pela partida de Luke dessa vez. Meu coração aperta por vê-la assim, mas eu também estou tentando lidar com minha própria dor. Como vou consolá-la, se eu mesma preciso de consolo? Luke foi embora, e sequer sabemos se vai voltar. Sinto como se tivesse perdido a pessoa que mais amo.

- Qualquer coisa, me fale, tá? - tento confortá-la, mesmo que não saiba ao certo como.

Ela apenas balança a cabeça, indicando um "sim", mas sem realmente parecer aliviada. Olho para ela, com o peito pesado. Queria poder dizer algo que fizesse tudo ficar mais fácil, mas nem sei se eu mesma consigo lidar com essa ausência.

A manhã segue estranha, silenciosa. Camila e eu estamos mais introspectivas, cada uma mergulhada em seus pensamentos e na tristeza que a ausência de Luke trouxe. As horas passam devagar, e, mesmo tentando prestar atenção na aula, meus pensamentos sempre acabam voltando para ele, para o vazio que ele deixou e para a saudade que só parece aumentar.

Sei que essa dor não vai embora tão cedo, mas talvez, de alguma forma, tenhamos que encontrar força uma na outra para suportá-la.

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